Subjetividade na contemporaneidade

(Paul Klee, Insula dulcamara, 1938)

A subjetividade corresponde às características de um sujeito, aquilo que é pessoal e individual, de certo modo inacessível e incomunicável a outras pessoas, o que se refere à sua interioridade. Toda impressão que temos do mundo e das coisas são subjetivas, pois partem sempre de nossas experiências.

O entendimento sobre a subjetividade da Idade Moderna começa a ser questionado durante o século XIX. O filósofo Karl Marx (1818-1883) comentou sobre a ideologia, no sentido de uma falsa consciência sobre o mundo, Friedrich Nietzsche (1844-1900) colocou em questão a unidade da consciência e entendeu que há impulsos que nos afetam e que não são muito claros.

O filósofo Theodor Adorno (1903-1969) entendia que a subjetividade moderna era limitada pelo contexto social liberal de uma sociedade administrada. Segundo ele, a ideia de indivíduo autônomo está relacionada com uma sociedade liberal. A família burguesa tradicional possui um poder econômico e político, do qual deriva seu respeito nos espaços da sociedade e do lar, perante a sociedade, a esposa e os filhos.

Bem diferente da ideia, do papel e da importância de família concebida por Sigmund Freud (1859-1939), que entendia que os filhos eram vistos como resultantes de suas relações estritas com os pais, a filosofia contemporânea, de um modo geral, entende que a família participa muito menos da constituição dos indivíduos.

Atualmente, a família não é mais uma instância principal de produção da individualidade, os pais não possuem a mesma mobilidade econômica do contexto social liberal, e portanto não são vistos mais como dignos por parte dos filhos. Além disso, os filhos, em sua maioria, passam muito mais tempo na escola e consumindo mídias do que no contato com os pais.

O filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) entendeu o sujeito como resultante do discurso, dos dispositivos disciplinares e das práticas de poder. Segundo ele, não existe uma unidade individual que se possa ser considerada como sujeito, como supunha a Filosofia Moderna.

Segundo Foucault, o sujeito não é o mesmo que a consciência, pois não há como delimitar o que seja a consciência. Inclusive, não há como descrever apenas como instintos, imaginação ou corpo. Para o filósofo, não há uma instância nuclear que possa definir a subjetividade.

A subjetividade não é mais entendida como uma instância, como um átomo indivisível, pelo contrário, ela não possui mais uma unidade e não permanece igual durante o tempo. Foucault propõe o entendimento de que o sujeito nunca existiu de maneira substancial, mas sempre relacionado a um conjunto de relações e procedimentos.

Foucault entende o sujeito como uma invenção recente, resultante de contextos e de condições específicas. Deste modo, se os contextos e as relações se transformarem, esse sujeito também irá se transformar. Segundo o filósofo, além do sujeito ser uma invenção recente, o fim desse sujeito, do modo como o entendemos e de como ele próprio se entende, talvez esteja próximo.
"O homem é uma invenção recente, e talvez seu fim esteja próximo."
(Mchel Foucault, em 'As palavras e as coisas')



Referências:
ARANHA, Maria Lúcia. História da Educação e da Pedagogia: Geral e do Brasil. São Paulo: Moderna, 2012.
JAPIASSÚ, MARCONDES. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.