Os primeiros filósofos - Pré-Socráticos


Os primeiros filósofos do ocidente apareceram por volta do século VII a.C., na Grécia Antiga. Muito depois foram chamados de pré-socráticos, pois antecederam a Sócrates. Eles buscavam compreender os fenômenos da natureza e a origem das coisas e do mundo por meio da observação, da reflexão e da razão.

Eles também foram chamados filósofos da natureza (physis, em grego), entendendo esta como uma realidade primeira, originária e fundamental, pois buscavam compreender o que era originário, primário, fundamental e persistente, em oposição ao que é secundário, derivado e transitório.

Buscaram explicar racionalmente e sistematicamente as características do universo, tentando encontrar uma substância primordial existente em todos os seres, a chamada arché, em grego, que corresponderia a "matéria-prima" de que são feitas todas as coisas. A filosofia ocidental se iniciou em Mileto (onde hoje fica a Turquia), cidade caracterizada por diversas influências culturais e um rico comércio.

Tales de Mileto (624-546 a.C.) é considerado o primeiro filósofo do ocidente, foi também matemático, astrônomo e político. Ele acreditava que a água era o elemento primordial que formava todas as coisas, pois encontramos água em todos os lugares: ao furar o solo, no tronco das árvores, nas nascentes dos rios, e se a água está em tudo, seria porque ela forma tudo.

Ele observou a natureza e seus padrões similares, percebendo que haviam regularidades que não eram regidas pelos deuses, tal como acreditava a mitologia grega, e por conta disso poderiam ser estudadas e utilizadas em nosso benefício. Foi o primeiro na história a prever um eclipse lunar e tido como pai da geometria, pois media a altura das pirâmides relacionando esta com o tamanho de sua sombra projetada.

Também foi comerciante de sal e de azeite de oliva. Numa época, por meio de estudos e observações, ele previu uma boa safra de azeitona, comprou muitas prensas, sua previsão funcionou e ele ganhou um bom dinheiro com isso. Com isso, provou que o conhecimento teórico e filosófico tinha um valor prático, tornando a filosofia uma atividade respeitada em sua cidade.

“A água é o princípio de todas as coisas.”
(Tales de Mileto)

Anaximandro de Mileto (610-546 a.C.) foi discípulo de Tales, aprofundou seus conhecimentos e desenvolveu estudos nas áreas de geometria, geografia e astronomia. Elaborou um mapa celeste e um mapa terrestre das regiões habitadas, entendendo que a Terra era cilíndrica e estaria no centro do universo.

Anaximandro acreditou que deveria haver alguma substância diferente, ilimitada, e que dela nascesse o céu e todos os mundos nele contidos. Foi assim que o filósofo chegou à conclusão de que a arché é algo que transcende os limites do observável, ou seja, que não se situa em uma realidade ao alcance dos sentidos.

Ele denominou essa substância como ápeiron, termo grego que significa "o indeterminado", ou "o infinito" no tempo. O ápeiron seria a "massa geradora" dos seres e do cosmo, contendo em si todos os elementos opostos. Segundo ele, por meio dos diversos processos naturais de diferenciação entre contrários, como o frio e calor e de evaporação, teriam surgido o céu e a terra, bem como os animais, em uma sucessão evolutiva.

“Nem água nem alguns dos elementos, mas alguma substância diferente, ilimitada, e dela nascem os céus e os mundos neles contidos.”
(Anaximandro)

Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.) foi discípulo de Anaximandro, concordava que a origem de todas as coisas era indeterminada, mas segundo ele a substância primordial não poderia ser um elemento situado fora dos limites da observação e da experiência sensível.

Ele propôs o ar como princípio de todas as coisas, por ser quase inobservável e um elemento mais sutil que a água, mas que ao mesmo tempo nos anima, nos dá vida. Infinito e ilimitado, o ar penetra todos os vazios do universo, mas também é um princípio ativo, gerador de movimento, como no caso dos ventos.

“Como nossa alma, que é ar, soberanamente nos mantém unidos, da mesma maneira o vento envolve todo o mundo.”
(Anaxímenes de Mileto)

Pitágoras de Samos (570-495 a.C.) foi um profundo estudioso da matemática e defendeu a tese de que todas as coisas são números. Percebeu que a harmonia dos acordes musicais correspondiam certas proporções aritméticas, com isso supôs que essas mesmas relações estariam também na natureza. Unindo essa suposição para a astronomia, concebeu a ideia de um cosmo harmônico, regido por relações matemáticas.

Pitágoras foi fundador de uma comunidade denominada pitagórica, tendo influenciado fortemente a filosofia da antiguidade, inclusive o cristianismo, e ainda hoje inspira algumas organizações sociais de cunho místico. Ele viajou muito, indo ao Egito e às distantes regiões dos sábios caldeus e magos da Pérsia, tornando-se um dos transportadores de conhecimentos, introduzindo no Ocidente particularidades trazidas do Oriente, como mistérios e ritos de purificação.

A tese principal do racionalismo pitagórico é a dos números como elementos constitutivos das coisas. Ele também adverte que os números contêm um caráter de obedecer a arquétipos correspondentes, como exemplares universais das coisas individuais.

“Todas as coisas são números.”
(Pitágoras de Samos)

Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.), também conhecido como "obscuro", desenvolveu um pensamento assistemático e polêmico. Escreveu sob a forma de aforismos, frases curtas e marcantes, muitas vezes com caráter simbólico e tom contraditório. Ele propunha que a matéria básica do Universo era o fogo, pois acreditava que a mudança constante, e o fluxo, seriam as características mais elementares da natureza.

Heráclito entendia que a realidade era dinâmica, onde a vida está em constante transformação, e decidiu concentrar sua reflexão sobre o que muda. Ele dizia que tudo flui, nada persiste nem permanece o mesmo. O ser não é mais que o vir a ser. Há uma luta de forças contrárias que é geradora de todas as coisas: a ordem e a desordem, o bem e o mal, o belo e o feio, a construção e a destruição, a justiça e a injustiça, o racional e o irracional, a alegria e a tristeza, etc.

É por meio da luta das forças opostas que o mundo se modifica e evolui. Por isso, Heráclito intuiu que, se devia haver um elemento primordial da natureza, este teria que ser o fogo, pois está sempre em movimento.

“Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo. O ser nada mais é que o vir-a-ser.”
(Heráclito de Éfeso)

Parmênides de Eléia (530-460 a.C.) exerceu grande impacto no pensamento de Platão. Suas reflexões sobre o ser constituíram os primeiros passos da ontologia e da lógica. Ele entendia que o equívoco dos pensadores era focar demasiada importância aos dados fornecidos pelos sentidos. Segundo ele, devemos escutar o que dizia a razão, e não os sentidos.

Segundo ele, o ser é, e não é concebível sua não existência. O não ser seria a mudança, pois mudar é justamente não ser mais aquilo que era, nem ser ainda algo que é. Ele entendeu que dois caminhos para a compreensão da realidade estavam sendo trilhados, o primeiro seria o da verdade, da razão e da essência, e o segundo seria o da opinião e da aparência enganosa, que ele considerava a concepção de Heráclito.

Quando a realidade é pensada pelo caminho da aparência, tudo se confunde em movimento, pluralidade e devir. De acordo com Parmênides, essa via precisaria ser evitada para não termos de concluir que "o ser e o não ser são e não são a mesma coisa", o que seria um contrassenso, uma formulação ilógica. Por isso ele inicia uma filosofia ontológica, ou seja, uma filosofia do estudo do ser, com base na lógica.

“O ser é e o não ser não é.”
(Parmênides de Eleia)

Empédocles de Agrigento (490-430 a.C.) foi filósofo, médico, professor, místico e poeta. Além de defensor da democracia, foi um teórico da evolução dos seres vivos e é considerado o primeiro sanitarista da história. Buscou conciliar as concepções de Parmênides e Heráclito, aceitando a existência e permanência do ser, e ao mesmo tempo validar os dados captados pelos sentidos de acordo com a razão.

Ele defendeu a existência de quatro elementos primordiais, que constituem as raízes de todas as coisas percebidas: o fogo, a terra, a água e o ar. Esses elementos seriam movidos e misturados de diferentes maneiras em função de dois princípios universais opostos:
  • Amor (philia): responsável pela força de atração e união e pelo movimento de crescente harmonização das coisas;
  • Ódio (neikos): responsável pela força de repulsão e desagregação e pelo movimento de decadência, dissolução e separação das coisas.
Segundo ele, todas as coisas existentes na realidade estão submetidas as forças cíclicas desses dois princípios.

Demócrito de Abdera (460-370 a.C.) foi responsável, junto com seu mestre Leucipo, pelo desenvolvimento de uma doutrina que ficou conhecida pelo nome de atomismo. Aproximando-se da concepção físico-química e moderna da realidade, ele dizia que todas as coisas que formam a realidade são constituídas por minúsculas partículas invisíveis e indivisíveis, denominadas por átomos – palavra de origem grega que significa "não divisível" (a = negação; tomo = parte, divisão).

Segundo ele, toda a realidade é composta também do vazio, que representa a ausência de ser (o não ser). É o vazio que torna possível o movimento do ser, que é o movimento dos átomos, segundo a teoria atomista. Sem espaço vazio, nenhuma coisa poderia se mover.

O atomismo busca explicar toda a realidade a partir dos átomos, da matéria e de seus movimentos. Ele entendia a realidade como uma sucessão dos acontecimentos natural e necessária, mas que ocorreria ao acaso, no sentido de que não teria um projeto ou finalidade, portanto não define nada, apenas funciona de acordo com as leis físicas.

“Tudo o que existe no universo nasce do acaso ou da necessidade.”
(Demócrito de Abdera)

Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.

Referência:
COTRIM, G.; FERNANDES, M. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2013.