Breve História da Ciência


Diante de um mundo caótico e desordenado, o ser humano procurou, desde a antiguidade, desenvolver um entendimento sobre o funcionamento da natureza e sobre o funcionamento dos seres.

A necessidade de encontrar respostas para os problemas surgiu inicialmente por questões práticas, para lidar com desafios que colocavam em risco a própria sobrevivência. Essa evolução intelectual culminou numa busca sistemática de conhecimento.

Os mitos constituíram uma das primeiras maneiras que os seres humanos encontraram para entender as transformações da natureza e dos seres vivos, por meio de narrativas orais transmitidas de pais para filhos com histórias sobre a criação e a transformação do mundo e dos seres.

Eram histórias embasadas por fantasias e seres sobrenaturais, caracterizando um período onde não havia um método científico, e a compreensão da natureza ainda não era sistemática como atualmente, mas em aspectos mais poéticos, plurais e interpretativos.

Por volta do século VI a.C., os primeiros filósofos gregos começaram a olhar para a natureza de uma maneira mais racional e reflexiva, buscando compreender suas constâncias e transformações, entre eles se destacam Tales, Anaximandro, Parmênides, Heráclito e Demócrito.
"No mundo antigo, o conhecimento era visto como bios theoretikos ou vita contemplativa. Os saberes visavam à contemplação da realidade, naquilo que esta tem de permanente, e ao desvelamento da verdade. Não nutriam a pretensão de transformar os 'objetos' investigados."
(Alberto Oliva, em ‘Filosofia da Ciência’, 2003)
Aristóteles (384-322 a.C.) foi um dos primeiros filósofos a propor a classificação de animais e espécies de plantas, com intuito de estudar o modo como estes funcionavam, agrupando por classes e distinções, iniciando assim a elaboração de um procedimento científico.

Durante a Idade Média, houve pouco desenvolvimento do conhecimento investigativo e sistemático na Europa, pois a crença na fé passou a ser entendida como o único caminho para alcançar a verdade. O conhecimento estava subordinado à fé católica, onde nenhum saber poderia contrariar os preceitos da Igreja.

A ciência moderna surge durante o período do Renascimento na Europa, com maior intensidade na Modernidade, entre os séculos XVI e XVII, tendo como representantes Francis Bacon (1561-1626), Galileu Galilei (1564-1642), Nicolau Copérnico (1473-1543), Johannes Kepler (1571-1630) e René Descartes (1596-1650).

Na época medieval, a natureza era considerada sagrada, já na Idade Moderna, ela passa a ser vista como um objeto a ser estudado, explicado e transformado. Da concepção sagrada da natureza, os cientistas passaram a visar o seu controle, por meio do conhecimento das causas e consequências.

Neste período, ciência passa a ser vista como uma ferramenta para resolver os problemas dos seres humanos e um motor de progresso da sociedade. A ciência foi passando gradativamente a ser vista como um saber preciso e verdadeiro, que utiliza métodos confiáveis.

A Ciência Moderna passa então a buscar explicar e controlar a natureza. Entre as suas características, é possível citar:
  • Estudo: tudo o que se pretende conhecer deve ser estudado e pesquisado;
  • Quantificação: para ser estudado tudo deve ser medido e quantificado;
  • Objetividade: olhar somente para fatos objetivos, evitando a subjetividade;
  • Razão: uso da razão como meio de alcançar os conhecimentos;
  • Experimentação: uso de experiências para comprovar as verdades obtidas;
  • Controle: busca por controle e previsão das situações e dos seres;
  • Organização: interesse pela ordem e crença no progresso científico;
  • Generalização: busca de valores universais que regem a natureza;
  • Certezas: confiança na razão e nas ciências como verdadeiras.

Com o passar do tempo, as ciências naturais vão se transformando em "saberes de domínio" e passam a ser regidas pelo critério pragmático do sucesso de suas previsões. São desenvolvidas teorias que fazem previsões confiáveis e que possibilitam antecipar situações e comportamentos, estabelecendo assim um poder sobre a natureza e o ser humano.

A credibilidade de uma teoria depende de sua consistência lógica e de sua fundamentação empírica, de modo que sua aplicação prática possa ser comprovada por outros especialistas. Na ciência, uma teoria só sobrevive e só é aceita, enquanto não surge alguma evidência empírica capaz de desmenti-la ou outra teoria capaz de vantajosamente substituí-la.

O método científico determina um conjunto geral de regras e técnicas com base nas quais deve ser feita a pesquisa. Apesar disso, há alguns fatores que podem inviabilizar o conhecimento, entre eles o fascínio pela autoridade intelectual em detrimento da argumentação e a tendência a tomar como certo o que apenas é provável.


Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.

Referências:
ARANHA, Maria Lúcia; MARTINS, Maria Helena. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 2009.
OLIVA, Alberto. Filosofia da Ciência. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
SEVERINO, Antonio J. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Cortez, 1996.