O que é Psicologia Clínica?


Quando alguém fala em psicólogo, muitas pessoas logo imaginam o psicólogo clínico, e muitos daqueles que optam por estudar psicologia geralmente tem a intenção de se tornarem um clínico. Porém, por muitos anos essa especialização nem existia legalmente, atualmente é a identidade mais comumente associada ao psicólogo.

Enquanto o psicólogo do trabalho ou das organizações atua na indústria ou em qualquer outra instituição, buscando torná-la mais eficiente, o psicólogo escolar serve ao sistema educacional, procurando torná-lo, também, mais eficaz, o psicólogo clínico costuma estar a serviço do indivíduo ou de pequenos grupos de indivíduos.

A psicologia clínica é provavelmente a área mais conhecida da psicologia, onde o psicólogo se coloca como aquele que escuta a pessoa atendida e busca auxiliar esta a lidar com seu sofrimento mental e emocional. Nesta atividade, o psicólogo tem como foco a compreensão do sofrimento psíquico da pessoa que busca o atendimento, com o intuito de sua resolução.

Portanto, a clínica em psicologia é o espaço para atender uma pessoa em sua singularidade, lidando com suas dificuldades e encontrando caminhos para proporcionar sua autonomia emocional e seu autoconhecimento.

"O psicólogo aparece para muita gente como uma espécie de adivinho e de bruxo, que descobre rapidamente quem somos e produz mudanças mágicas no nosso jeito de ser. É bom que todos saibam das dificuldades que tem o psicólogo para entender a sua própria ciência e a sua própria pessoa. Aí, talvez, esperem menos dele…"
(Figueiredo & Santi, em 'Psicologia: uma (nova) introdução')

A psicologia clínica se inicia como uma alternativa ao modelo médico, propondo buscar o entendimento das emoções e dos elementos psíquicos. Corresponde a um conjunto de teorias e métodos, e uma atividade prática, que tem como objetivo o estudo, a avaliação, o diagnóstico, a ajuda e o tratamento do sofrimento psíquico, seja quais forem suas condições e circunstâncias. Sua prática envolve a observação singular e concreta do indivíduo, com o intuito do entendimento deste.

O psicólogo é o profissional mediador que possibilita o encontro do sujeito consigo mesmo a partir da fala e de seus modos de expressar, trabalhando com diversas demandas, desde crianças até idosos, visando ajudar na recuperação do sujeito em sofrimento psíquico, para a reestruturação de seu bem estar biopsicossocial.

Não atua somente sobre o sofrimento psíquico, mas também em favor do autoconhecimento e da promoção de seu desenvolvimento pessoal, possibilitando a pessoa atendida se desenvolver, aprimorando seus modos de ser, sua comunicação e relação com as outras pessoas.

A profissão de psicólogo esteve inicialmente ligada aos problemas de educação e trabalho. O psicólogo "aplicava testes" para selecionar o "funcionário certo" para o "lugar certo", para classificar o aluno para uma turma que lhe fosse adequada, ou para treinar o operário, para programar a aprendizagem, etc.

O psicoterapeuta, porém, estuda as distintas vertentes da psicologia, os diferentes modos de ser de cada pessoa, os transtornos mentais e suas manifestações psíquicas. Em seu trabalho ele atua na prevenção e promoção da saúde psíquica, por meio da avaliação, do diagnóstico, do aconselhamento e do encaminhamento, quando necessário.

Trata-se de uma prática que consiste na observação individual e singular da pessoa, por meio da escuta e do diálogo, num espaço onde a pessoa atendida se sinta livre para expressar suas emoções, dificuldades, angústias, conflitos, medos, inquietações e sofrimentos internos.

Por meio da prática da psicoterapia busca-se o entendimento das diversas dificuldades de cada indivíduo, para que se possa promover sua saúde emocional. Cada profissional de psicologia é livre para escolher uma abordagem teórica que vai nortear a sua prática. Cada abordagem tem sua particularidade no modo de compreender e intervir no processo, porém, o objetivo de todas elas é se aproximar da pessoa atendida, oferecendo intervenção necessária para lidar com seu sofrimento de maneira saudável e proporcionar seu autoconhecimento.

A tendência que tem mais crescido e aumentado no mercado recentemente é das “terapias de autoajuda”, que oferecem uma mistura de concepções do senso comum, por vezes relacionadas com teorias psicológicas, ou em pressupostos humanistas sobre a liberdade do homem, seguindo um estilo de administração empresarial fortemente condutivista.

Esse discurso muitas vezes prega uma submissão da pessoa a um conjunto de regras para o gerenciamento de sua própria vida. Promovendo "receitas prontas" de como lidar com a vida e gerenciar suas dificuldades emocionais, ao invés de atender o indivíduo e compreendê-lo em suas particularidades e necessidades específicas.

A psicoterapia serve para escutar a pessoa, fazer o exercício de se colocar no lugar dela (empatia), tentar compreender suas dificuldades, se colocar como apoio seguro, organizar o discurso da pessoa, auxiliar a compreender afetos e pensamentos que parecem confusos, identificando elementos que fazem parte da realidade de cada um, percebendo os diferentes modos de ser e de se pronunciar de cada pessoa, encontrando novos caminhos e possibilidades de vida, orientando em alguns casos ou sugerindo possibilidades a serem experimentadas. Pode servir para tudo isso e muito mais, porém toda prática vai depender da abordagem e do modo de trabalho de cada psicoterapeuta.

A Psicanálise é um dos sistemas psicológicos mais conhecidos da psicologia e, por isso mesmo, um dos mais vulgarizados. Essa vertente nasceu com a clínica e ao mesmo tempo criou a clínica psicológica. Se iniciou a prestar o atendimento às pessoas que apresentavam algum tipo de sintoma psíquico. Antes da psicanálise, sintomas como o da histeria eram desconsiderados pela medicina e as pessoas ficavam sem tratamento.



Referências:
BOCK, Ana et al. Psicologias - Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001.
BRITO, Sandra. A Psicologia Clínica - Procura de uma Identidade. Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca, 2008.
FIGUEIREDO, Luiz Cláudio; SANTI, Pedro Luiz. Psicologia: uma (nova) introdução. São Paulo: Educ, 2000.
PORCHAT, Ieda. O que é Psicoterapia. São Paulo: Brasiliense, 1989.