Psicologia da Gestalt



A Psicologia da Gestalt surgiu na Alemanha, no início do século XX, fazendo uma crítica sobre as escolas do Estruturalismo e Funcionalismo em psicologia, se opondo fortemente aos modelos de psicologia norte-americanos.

Uma das grandes influências desta escola foi a fenomenologia de Franz Brentano (1838-1917), filósofo alemão. Segundo Brentano, a psicologia deveria estudar o ato de experimentar e não o conteúdo objetivo da experiência, propondo a descrição livre da experiência imediata, tal como esta acontecia.

“Ainda no começo do século XX surgiu outro projeto de psicologia científica na Alemanha. Essa escola psicológica denominou-se ‘psicologia da gestalt’, palavra alemã de difícil tradução: ora traduz-se por psicologia da estrutura, ora por psicologia da totalidade, ora por psicologia da forma.”
(FIgueiredo; Santi, em ‘Psicologia: uma (nova) introdução’, 2004)

Essa teoria foi desenvolvida inicialmente por três psicólogos: Max Wertheimer (1880-1943), Kurt Koffka (1886-1941) e Wolfgang Köhler (1887-1967), que pesquisaram sobre a percepção do movimento, a constância perceptiva e a aprendizagem.

Partindo de uma forte crítica ao Estruturalismo, ao Funcionalismo e ao Comportamentalismo, a Psicologia da Gestalt se contrapõe ao associacionismo presente nessas escolas de psicologia. Seus estudos sobre a percepção oferecem uma compreensão de uma forma ou configuração, que corresponde ao sentido do termo 'gestalt', essa configuração corresponde a um todo.

O todo é mais do que a soma das partes, ou seja, a configuração de diversos elementos compõe um novo elemento, que é diferente do que a soma dos elementos particionados. Como exemplo podemos nos lembrar de uma música, onde o uso de notas específicas, num certo encadeamento e configuração, formam uma melodia, enquanto que as notas separadas não remetem à melodia, e só podem compor tal melodia se estiverem unidas sob a mesma configuração.

Os psicólogos desta tendência partiam da captação da experiência imediata, adotando como procedimento o modo como a experiência se dava no sujeito, por meio do método fenomenológico, que consiste na descrição ingênua dos fenômenos, tais como aparecem na consciência, antes de qualquer reflexão, teorização, conhecimento, ou análise prévia.

Por meio do método fenomenológico, os gestaltistas perceberam que as experiências dos indivíduos aconteciam de modo unificado, de modo que os fenômenos da percepção, da lembrança e memória, da solução de problemas, das relações afetivas, entre outros, eram experimentados pelo sujeito por meio de configurações, onde o modo de acontecer é mais do que a simples soma de seus elementos constituintes.

Segundo estes pesquisadores, a ‘gestalt’ possibilita uma compreensão unificada dessas configurações, das experiências, tornando a psicologia apta a compreender a ação de um sujeito sempre implicada num contexto ambiental e social. Como, por exemplo, ao observar a atividade do aluno na sala de aula, ou a atividade de um adulto fazendo compras num mercado.

Eles entenderam que não há como estudar a ação da pessoa separada de seu ambiente ou configuração, inclusive não há como reproduzir essas experiências em laboratório, mas só podem ser captadas no contexto onde ocorre a ação, pois o contexto também faz parte da configuração. Se retirar o aluno da sala ele não será mais um aluno de uma sala, mas uma pessoa num laboratório.

O comportamento, de acordo com os psicólogos da gestalt, abrange uma relação complexa, envolvendo a percepção dos desejos, das intenções, dos êxitos, das frustrações, das decepções, dos fracassos e das alegrias, sempre contextualizados num espaço específico. O método da introspecção se dedica a observação direta, estudando as diferentes formas de organização do espaço ambiental e as relações com o espaço, entendendo o modo como o comportamento resulta desta interação. 

Apoiada nesta escola, a Teoria de Campo, do psicólogo alemão Kurt Lewin (1890-1947), buscou compreender a inter-relação entre o indivíduo e o meio, com o intuito de conhecer a organização psíquica do sujeito inserido num espaço. Segundo ele, o espaço vital corresponde à articulação entre todos os elementos do sujeito num momento específico, entendendo que não são apenas os fatos materiais que produzem efeitos sobre o comportamento.

A realidade fenomênica equivale ao ambiente e todas as relações que um indivíduo estabelece com o espaço físico, histórico e social, possibilitando uma maneira própria de interpretação da realidade, que é desenvolvida individualmente. Essa interpretação está marcada por linhas de força que dão significados particulares à percepção e à representação do espaço vital.

Referências:
BOCK; FURTADO; TEIXEIRA. Psicologias - uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2002.
CARPIGIANI, Berenice. Psicologia: das raízes aos movimentos contemporâneos. São Paulo: Pioneira, 2000.
FIGUEIREDO; SANTI. Psicologia, uma (nova) introdução. São Paulo: Educ, 2004.