O que é ser antifascista?


O que é ser antifascista? O que significa antifascismo? Para entender o antifascismo, precisamos primeiramente entender o que é o fascismo, ou seja, como é essa tendência política e ideológica ao qual os antifascistas se opõem.

Fascismo pode ser entendido, pelo menos, de três maneiras: uma referente à sua dimensão histórica, relacionada ao Fascismo italiano; a segunda corresponde à expansão internacional do fascismo, com a consolidação do nazismo na Alemanha; e a terceira relacionada com suas características ideológicas e práticas políticas atuantes nos dias de hoje.

O termo fascismo vem do latim 'fasces', que correspondia a um feixe de varas amarradas em torno de um machado, usado como símbolo do poder conferido aos magistrados da República Romana para flagelar e decapitar cidadãos desobedientes, inferindo um castigo corporal e pena capital. Esse símbolo foi usado por Benito Mussolini em seu partido, que foi chamado de fascista.

Em suas características políticas e ideológicas, o fascismo é entendido como um sistema autoritário de dominação, caracterizado pela monopolização da representação política por parte de um partido ou de uma figura única, que é organizado de forma hierárquica, exaltando o culto ao "chefe" (no caso o presidente) e da coletividade nacional.

Além disso, o fascismo apresenta um desprezo pelos aos ideais de colaboração de classes, se opondo diretamente ao liberalismo, ao socialismo, ao anarquismo e ao comunismo, posicionando-se na extrema-direita política, mobilizando as massas em seu favor e aniquilando qualquer forma de oposição, por meio da perseguição, da violência e da tortura.

No Dicionário de Política (1998), aponta que as origens do fascismo, enquanto fenômeno internacional, estão relacionadas com a crise do capitalismo em seu estágio final - o imperialismo, e a necessidade da burguesia tentar mater seu domínio diante do agravamento das crises econômicas e do aumento dos conflitos entre as classes.

Entre as principais características do fascismo estão o ataque contra as organizações de trabalhadores, enquanto um esforço para frear o espaço dos trabalhadores e das diferentes camadas sociais ao acesso à bens coletivos. Para isso, o fascista opera juntamente uma base pequena da burguesia, numa espécie de ditadura desta.

Fascismo é, portanto, uma ideologia política nacionalista e autoritária, caracterizada pelo poder ditatorial e pela repressão da oposição por meio da força. Possui como características o nacionalismo extremo, o desprezo pela democracia eleitoral e pela liberdade política e econômica, defendendo uma hierarquia social natural, tendo como base as elites.

De acordo com Chauí (2002), algumas características do fascismo são o antiliberalismo, a aliança com capital industrial monopolista e financeiro com vocação imperialista, o nacionalismo, um partido ou uma figura única que organiza as massas, a ideologia de classe média, a educação moral e cívica, a prática da censura e o estatismo.

Além disso, a autora também salienta que a propaganda política costuma ser voltada para os sentimentos e paixões, desvalorizando a razão, o pensamento e a consciência crítica, com o intuito de promover uma devoção incondicional à pátria e aos chefes, o amor à hierarquia e à disciplina, censurando as ciências e as artes, quando estas discordam de suas pautas.

Se posicionar de modo antifascista é, portanto, se colocar contrário a estas posições citadas, pautando-se em favor das liberdades individuais, da democracia e contrário às formas de violência, de opressão e de controle. Além dessa concepção macro do fascismo, podemos também pensar sobre micro fascismos, que por vezes reproduzimos diariamente, no modo como lidamos com as pessoas com as quais nos relacionamos.
"Enfim, o inimigo maior, o adversário estratégico: o fascismo. E não somente o fascismo histórico de Hitler e de Mussolini - que tão bem souberam mobilizar e utilizar o desejo das massas -, mas o fascismo que está em nós todos, que martela nossos espíritos e nossas condutas cotidianas, o fascismo que nos faz amar o poder, desejar esta coisa que nos domina e nos explora."
(Michel Foucault, em 'Introdução à vida não-fascista', prefácio de Anti-Édipo, Deleuze e Guattari, 1977)
No prefácio da edição norteamericana do 'Anti-Édipo', de Deleuze e Guattari, Michel Foucault elenca alguns princípios para uma vida não fascista, entre eles estão:

  • Libertar a ação política da pretensão unitária e totalizante;
  • Promover a ação, o pensamento e os desejos por proliferação, ao invés de uma hierarquia piramidal;
  • Libertar as velhas categorias negativas, como a lei, o limite, a castração, a falta, a lacuna, preferindo o que é positivo e múltiplo; a diferença ao invés da uniformidade; o fluxo ao invés das unidades; os agenciamentos móveis ao invés dos sistemas; o nomadismo ao invés do sedentarismo;
  • Relacionar o desejo com a realidade;
  • Não transformar a prática política num valor de verdade, nem a ação política para desacreditar de um pensamento; mas usar a prática política como intensificadora do pensamento, e a análise como multiplicadora de formas de intervenção da ação política;
  • Não se apaixonar pelo poder.

Podemos entender essas práticas bem próximas de um posicionamento antifascista. Porém, não se trata de um manual ou um guia, ou seja, é possível outras tendências e caminhos distintos antifascistas. Portanto, antes de se posicionar como "anti-antifascista", é preciso saber o que significa o fascismo e o antifascismo.



Referências:
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2002.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Anti-Édipo. New York: Viking Press, 1977.