Platão e sua filosofia


Platão (428-347 a.C.) foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga, considerado o mais importante discípulo de Sócrates, autor de diversos diálogos, fundador da Academia de Atenas e um dos mais importantes nomes da filosofia ocidental.

Foi responsável por sistematizar a filosofia, direcionando seu foco para a busca da verdade inteligível que não está no mundo material. Essa tendência metafísica e idealista influenciou grande parte da filosofia ocidental posterior, da Idade Média até a Idade Moderna. Somente na filosofia contemporânea que se retoma o caráter prático de se questionar sobre as coisas do mundo, ao invés de ideais metafísicos, criticando a tendência platônica.

Platão entende o mundo como um todo que apresenta uma ordem, como a figura mais perfeita, que representa o único, o limitado e o eterno. Entre os filósofos que exerceram influências no pensamento de Platão, estão os pré-socráticos Pitágoras e Parmênides.

Pitágoras (570-495 a.C.) acreditava na imortalidade da alma e em sua reencarnação por meio do movimento cíclico, onde um mesmo espírito, após a morte do antigo corpo em que habitava, retorna à existência material, "encarnando" em vegetais, animais ou seres humanos. O corpo era entendido com um certo desprezo, visto como a "prisão da alma", valorizando a alma e o inteligível. Ele também enfatizava o estudo da matemática e da geometria, pois acreditava que toda a natureza era traduzida por números, e que por meio deles era possível a harmonização da alma com o cosmo, realizando uma purificação da alma.

Outro filósofo influente na filosofia de Platão foi o pré-socrático Parmênides (544-450 a.C.), da escola Eleata (nascido em Eléia). Segundo ele, a mudança e o movimento eram ilusórias, o devir não passava de uma mera aparência. Os nossos sentidos nos levam a crer no fluxo incessante dos fenômenos, porém isso não é o real. O real é o ser único, imóvel, imutável, eterno e oculto sob o véu das aparências múltiplas. Parmênides se ocupou em descrever sobre o ser eterno e a substância permanente das coisas, que segundo ele são imutáveis e imóveis.


Filosofia de Platão

Desiludido da política de sua época, por conta de crises e problemas na democracia, Platão abandona seu ideal de participação política e passa a louvar o que chama de "verdadeira filosofia", defendendo que somente por meio dela que se pode reconhecer a justiça na vida pública e privada. Ele compra uma propriedade nos arredores de Atenas e ali funda, por volta de 387 a.C., uma escola, a Academia de Atenas, onde desenvolve seus estudos.

Ele foi um grande crítico dos filósofos sofistas de sua época, que afirmavam não haver uma verdade, mas apenas opiniões e circunstâncias relativas. Platão utilizou recursos inspirados da matemática para combater o relativismo dos sofistas.

Segundo ele, o diálogo não deve seguir um método para que saia do plano relativo e instável das opiniões até a construção de formas mais seguras de conhecimento, e esse seria o meio de se alcançar as verdades, indo para o plano das ideias.

Permanecer no nível das sensações é, para ele, tornar impossível a construção de um conhecimento seguro e estável, pois as sensações fornecem apenas evidências momentâneas e individuais. Ele buscava explicar o universo e os seres por meio de causas intemporais, que explicam o por que das coisas sempre terem sido como são.

Para Platão, a verdade não está no mundo sensível, pois este está permeado por aparências enganosas, que são o modo como as coisas aparecem à nós, modo como as percebemos por meio das sensações e dos sentidos, onde tudo é instável e variável, de acordo com as circunstâncias e os pontos de vista. No mundo sensível, cada um se apega a um aspecto das aparências e o transforma em certeza.

Como cada pessoa percebe o mundo de maneira diferente, as opiniões que resultam de sua percepção também são variadas e divergentes. Para combater essa multiplicidade de opiniões divergentes, Platão afirma a existência de "formas", "essências" ou "ideias", que seriam os modelos eternos das coisas sensíveis. Essas essências seriam incorpóreas e imutáveis, existindo em si mesmas.

Para Platão, uma cadeira, por exemplo, que vemos ou tocamos, pode ser de madeira ou metal, desta ou daquela cor, deste ou daquele formato; ela muda, envelhece, se perde com o tempo. Porém, a "essência" da cadeira permanece sempre a mesma, fora do tempo e do espaço, sendo sempre única. Pois corresponde ao fato que qualquer cadeira, em qualquer época ou lugar, tem de ser para ser cadeira. É o modelo essencial de todas as cadeiras em qualquer tempo.

Não podemos conhecer as coisas do mundo por meio dos sentidos, pois nossos sentidos só captam o material, o dotado de alguma concretude, que está no espaço e no tempo. Para ele, a verdade só pode ser alcançada por meio do intelecto, pois ela é inteligível, indo de encontro a essas "essências" ou às "ideias", que são incorpóreas e intemporais.

As opiniões não podem fornecer os conhecimentos verdadeiros, que correspondem a ciência. De acordo com Platão, o conhecimento ultrapassa o nível das opiniões, e só pode ser acessado por meio das essências. Se no mundo sensível há vários cavalos diferentes, existe no mundo das ideias uma única ideia de Cavalo. Todos os círculos que percebemos no mundo sensível, partem de uma única ideia de círculo.

No mundo sensível há uma pluralidade de interpretações e das coisas, imperfeições, e transformações. No mundo das ideias, pelo contrário, as essências são únicas e imutáveis. Segundo Platão, o mundo inteligível, que é o mundo das ideias, existe anteriormente ao mundo sensível, e é nele que estão as verdades que se apresentam de modo imperfeitas para nós.

A filosofia de Platão influenciou a teologia e o cristianismo. Durante os primeiros séculos da Idade Média, a filosofia buscava harmonizar a razão filosófica com a fé religiosa, com base nas ideias de Platão. Além disso, suas teses também influenciaram o desenvolvimento da física e da matemática durante o período do Renascimento e o Racionalismo na filosofia moderna. Platão influenciou grande parte dos filósofos e pensadores que se utilizam da matemática, da razão e da metafísica como meios para compreender o mundo, até a atualidade.

Apesar de sua grande importância e de influência, trata-se de um filósofo muito criticado e questionado por grande parte dos autores contemporâneos, inclusive os existencialistas, justamente por dedicar grande parte de sua obra à questões imateriais, ao invés da realidade concreta. Friedrich Nietzsche (1844-1900) foi um grande crítico de Platão, declara que ele teria subvertido o intuito da filosofia originária, criativa e múltipla para a busca de uma "verdade única e absoluta".

Além disso, a filosofia de Platão se dedica por demais ao mundo das ideias, ao invés do mundo da realidade prática, sua filosofia se baseia muito mais em criações ideais do que em questões do mundo vivenciado. Seu desprezo pelo corpo e pelas singularidades é bastante questionado por grande parte dos filósofos contemporâneos, que retomam a experiência corporal e as singularidades.

Platão é, portanto, um dos maiores filósofos ocidentais que merece ser muito estudado e debatido, seja pelos que seguem suas ideias, como também para aqueles que se dedicam a criticá-la. Criticar é justamente fruto do processo de se estudar profundamente sobre algo, até que se possa perceber problemáticas e falhas, assim desenvolvendo sua crítica. A crítica é feita por quem conhece, e se for diferente disso será mera arrogância e preconceito descabido.



Fontes:
Curso de Filosofia. Antonio Rezende. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.
Dicionário Básico de Filosofia. Japiassú, Marcondes. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
Filosofando: Introdução à Filosofia. Aranha, Martins. São Paulo: Moderna, 2009.
Fundamentos da Filosofia. Fernandes, Cotrim. São Paulo: Saraiva, 2013.
Os Pensadores: História da Filosofia. Bernadette Siqueira Abrão. Nova Cultural, 1999.