O que é Liberdade?


Descrever "liberdade" não é uma tarefa simples, coexistem diversas concepções do que seja ou não liberdade. Sua compreensão varia de acordo com a época, o lugar, cultura, os valores, a política, a religião, e uma série de condições e valores.

Segundo o dicionário da língua portuguesa, liberdade é considerado: do latim libertas, condição daquele que é livre, capacidade de agir por si mesmo, autodeterminação, independência, autonomia. Para compreender melhor, vou traçar uma breve linha do tempo do conceito de liberdade no tempo, para alguns pensadores...

Na Grécia Antiga, por volta dos séculos VI e V a.C., a liberdade era entendida como um meio de ação orientada pela razão, governando a vontade para escolher o que é bom, justo e virtuoso.

Para Sócrates, no século V a.C., livre era a pessoa que conseguia dominar seus sentimentos, pensamentos e a si próprio por meio da razão. Aquele que não faz isso permanece escravo e controlado pelas paixões, liberdade é autodomínio. 

Platão, no século IV a.C., entendia a liberdade como a opção de viver na virtude. Segundo ele, a alma de cada homem é o que há de puro e o corpo é irracional, movido pelos sentidos. É preciso dominar o corpo por meio da razão, para ser livre.

Segundo Aristóteles, século IV a.C., livre é aquele que pode agir ou não agir, que escolhe sua ação ou decide não agir. A liberdade é a capacidade de optar entre as diversas alternativas que a vida oferece, utilizando habilidade para escolher por meio da vontade e razão.

A liberdade é o poder da vontade para se determinar ou para escolher ser determinado, é a oposição ao que é condicionado externamente e ao que acontece sem a nossa escolha. É a pessoa que dá a si mesma os motivos e os fins de sua ação, sem ser constrangido ou forçado por nada nem por ninguém. É o princípio para escolher entre as alternativas possíveis, se realizando como decisão e ato voluntário.

Já no século IV d.C., Santo Agostinho definia a liberdade é uma opção do ser humano de determinar seu caminho, cujos parâmetros de escolha são delimitados por uma ordem exterior, que estabelece o valor de sua escolha, ou seja, que define qual escolha é boa e qual é má.

A visão de Santo Agostinho está relacionada com o cristianismo. Ele define o mal como sendo a ausência de Deus, em decorrência da escolha da pessoa por um caminho que afaste do bem, uma vez que o mal não pode vir de Deus. Para ele, o livre-arbítrio é o que confere ao ser humano a vontade livre de decidir seguir um ou outro caminho.

Segundo Thomas Hobbes, no século XVII, a liberdade é a ausência de impedimentos externos. A capacidade de escolha pode estar sujeita a impedimentos, a liberdade seria a ausência de impedimentos externos que cada um faça o que quer, conforme o seu julgamento e razão.

Para John Locke, no século XVII, a liberdade natural consiste em não se submeter à vontade ou a autoridade legislativa do homem, tendo por regra apenas a lei da natureza. A liberdade civil é não se submeter a nenhum poder legislativo que não seja aquele estabelecido pelo consentimento.

Para Immanuel Kant, no século XVIII, a liberdade é o que caracteriza o ser humano e define sua responsabilidade de ser racional. O homem pode resistir aos estímulos sensíveis, tanto internos quanto externos, sendo legislador absoluto de si mesmo, responsável do que faz ou deixa de fazer.

Ainda no século XVIII, segundo Georg Hegel, a liberdade se efetiva como vontade, porém não se limita à vontade particular de um sujeito. A liberdade deve ser encarada como algo que permeia as estruturas, práticas e tradições das instituições sociais e manifestam o modo de ser comunitário.

Segundo Friedrich Nietzsche, no século XIX, liberdade é criação de novos valores e de um novo homem. Crítico da moralidade cristã ele propõe a liberdade como uma potencialização da existência, e não como uma normativa de valor que limita a ação do homem.

Para Jean-Paul Sartre, filósofo francês do século XX, o ser humano é livre, pois está sempre fazendo escolhas. Ele entende a liberdade como a possibilidade e necessidade, de fazer escolhas. Mesmo que haja apenas uma opção, podemos escolher não fazê-la. Porém, o que não é possível seria não escolher. A liberdade é então uma possibilidade de escolhas e também uma condenação por termos que fazer escolhas a todo momento.


Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.