Existencialismo e Romantismo

(Naufrágio, William Turner, 1805)

Romantismo foi um movimento artístico e cultural iniciado na Europa, no final do século XVIII, que passou a olhar para o ser humano enquanto um ser emotivo e sensível, se opondo ao Racionalismo exacerbado, que encarava o ser humano como um ser meramente pensante.

Esse movimento se desenvolve logo após o Classicismo, movimento que valorizava a inteligência, a razão, a objetividade, a disciplina, a ordem e clareza. Na filosofia, o século XVII é caracterizado pelo Racionalismo, que priorizava a razão em detrimento das emoções, e acreditava que o ser humano poderia ser totalmente explicado e controlado por meio da razão.

O século XVIII é chamado de o "século das luzes" ou século da razão, onde se desenvolveu o Iluminismo na França, Alemanha e Inglaterra, movimento filosófico, literário e político, caracterizado pela defesa da ciência e da racionalidade crítica, contra a fé, a superstição e o dogma religioso.

No período do Classicismo, entre os séculos XVI a XVIII, havia uma busca pela certeza e pelas verdades, já no Romantismo não havia mais certezas, percebendo que a razão não tinha um poder tão grande de controlar as coisas nem os seres, entendendo que as emoções exerciam um papel mais intenso que a razão, gerando assim sentimentos de angústia e inconstância.

Tanto o Romantismo como o Existencialismo se iniciam no século XIX. Contrário ao Classicismo, o Romantismo passou a valorizar os sentimentos, a sensibilidade e a subjetividade.

A concepção de "ser humano", para o Classicismo, era de um ser equilibrado, moralista e disciplinado, interessado pela vida em sociedade. Já no Romantismo, o ser passa a ser visto como indisciplinado, instável, egocêntrico, pessimista, sem preocupações morais e cheio de traumas.

Deste modo, o Romantismo passou a evidenciar a potência dos impulsos e forças naturais, questionando assim a primazia da razão. O “eu” racional e metódico passou a ser visto como uma superfície mais ou menos ilusória, que encobria algo muito mais profundo e obscuro.
"Imediatamente viu-se que a razão desempenha um papel secundário na vida do homem. Este possui emoções, sensações, instintos, que determinam suas ações e reações; mesmo quando a razão entra em atividade, os fatores irracionais decidirão sobre o que é que a razão terá de agir. O reconhecimento precoce, por Pascal, de que "o coração tem razões que a razão desconhece", tornou-se, subitamente, um lugar-comum."
(LYNTON, Norbert. O Mundo da Arte: Arte Moderna. Encyclopaedia Britannica, 1979.)
A revolução industrial contrariou as antigas estruturas sociais e formas de viver tradicionais, diminuindo a fé religiosa, gerando uma sensação de vulnerabilidade e isolamento individual, fazendo com que as pessoas passem a ter de confiar em si próprio.

A sociedade europeia foi se separando entre os que desejavam preservar o passado, e aqueles que queriam substituir o passado por novas formas de viver a vida. O artista do século XIX foi se libertando de todas as obrigações formais, livre de modelos e regras orienta-se por si mesmo.

Trata-se de um momento crucial na crise do sujeito moderno, que passa a valorizar a individualidade, a intimidade e liberdade de cada indivíduo, constatando que o "eu" não é mais o senhor de si e do mundo, que controla tudo e a si mesmo, mas possibilita compreender que o ser humano possui níveis de profundidade que ele mesmo nem sempre percebe muito bem.

O pintor inglês William Turner (1775-1851) criou uma série de telas retratando tempestades no mar e um barco a deriva, tentando se equilibrar em meio às forças da natureza, representando a tentativa sem sucesso do ser humano de controlar racionalmente e metodicamente a si mesmo e o mundo.

Por reconhecer e valorizar as emoções, a imaginação, a intuição, a espontaneidade e uma vida apaixonada, este movimento influenciou os primórdios do existencialismo, vertente filosófica que também questionou o valor da razão e passou a priorizar as emoções e a subjetividade.

O filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855), considerado "pai" do existencialismo, tratou em suas obras sobre a dificuldade em fazer escolhas em nossa vida e o modo como lidamos com nossas emoções, destacando sentimentos de inconstância, angústia e desespero.
"A verdade não deve ser buscada senão na paixão."
(Kierkegaard)


Por Bruno Carrasco.

Referências:
FIGUEIREDO, Luiz Cláudio; SANTI, Pedro Luiz. Psicologia, uma (nova) introdução: uma visão histórica da psicologia como ciência. 2. ed. São Paulo: Educ, 2004.
LYNTON, Norbert. O Mundo da Arte: Arte Moderna. Encyclopaedia Britannica, 1979.
PENHA, João da. O que é Existencialismo. São Paulo: Brasiliense, 2014.