Leitura de textos filosóficos

A leitura de textos filosóficos é uma atividade fundamental para o exercício da filosofia, do pensamento e da reflexão filosófica. Esse tipo de leitura exige um enfoque específico, um certo conhecimento geral em filosofia, de sua história e vertentes, para que seja possível um maior entendimento e análise do texto, bem como uma interpretação crítica, alcançando os sentidos expressos e aqueles que permanecem nas entrelinhas.

Esta atividade não é simples, principalmente para quem não tem muito contato com a filosofia. O entendimento de um texto filosófico demanda uma contextualização histórica da obra, algum conhecimento sobre a vida do autor, bem como uma noção sobre os pensadores e perspectivas com as quais o autor dialoga. Não se trata de apenas pegar um livro e ler, pois as obras de filosofia demandam disposições específicas para seu melhor entendimento.

Os textos filosóficos costumam ter um tom argumentativo e crítico, não se dirigem a um público qualquer, mas a outros filósofos, expressando as perspectivas do autor sobre temas que este se propôs abordar. Há diversos estilos de textos filosóficos, como diálogos, tratados, ensaios, aforismos, confissões e cartas, em cada um deles o autor explora suas ideias de maneira diferenciada. A leitura desses textos deve ser analítica, reflexiva, interpretativa e crítica.

"Ler textos de filosofia (...) vai nos fazer sentir a necessidade de um convívio mais amplo com a tradição cultural dessa matéria. Seja porque precisamos continuamente consultar as fontes, seja porque precisamos dialogar com os filósofos clássicos e contemporâneos. Por sinal, acontece um relacionamento dialético entre a leitura de textos específicos e o intercâmbio com a tradição filosófica."
(Antônio Severino, em 'Como ler um texto de filosofia')

Severino (2009) recomenda uma primeira leitura panorâmica, visando tomar um contato inicial com o texto, para depois se aprofundar numa leitura mais aprofundada. Nesta primeira leitura, sugere-se identificar os temas e questões que serão esclarecidos numa leitura mais demorada e compreensiva. Neste primeiro momento, buscamos apreender o pensamento exposto no texto, tomando contato com o que o texto apresenta, do modo como o autor descreve suas ideias, argumentos e perspectivas.

Depois desse processo, passamos para uma análise interpretativa e crítica do texto, dialogando com o autor, refletindo sobre os argumentos por ele abordados, e relacionando com referências externas ao texto. Por fim, há uma problematização do texto, colocando em questão seus argumentos. A leitura de um texto filosófico não é uma mera atividade para adquirir conhecimentos, mas uma prática que exercita o pensamento crítico e possibilita desenvolver perspectivas próprias, confrontando argumentos.

O intuito dos textos filosóficos não é transmitir informações, mas provocar e estimular reflexões acerca do tema apresentado a partir da perspectiva proposta pelo autor, suscitando a experiência de pensamento, de se debruçar reflexivamente sobre algo. Esses textos são, portanto, objetos de análise e exploração, que possibilitam uma jornada de pensamento e reflexões acerca de um tema, a partir de um prisma específico.

Entender os textos filosóficos apenas por meio do próprio texto é insuficiente para a sua compreensão. É preciso analisar seu contexto, ter algum conhecimento sobre o autor e os pensamentos com os quais ele dialoga ou confronta. A mediação de um professor ou de uma pessoa que já tenha contato prévio com o texto e o autor pode auxiliar no entendimento dos textos filosóficos, facilitando sua compreensão. Apesar disso, a atividade de leitura é também um processo individual que exige prática.

Uma compreensão da história da filosofia é crucial para interpretar esses textos, considerando o contexto social, político e cultural no qual o texto foi escrito. Para compreender a obra de um filósofo, é fundamental apreender seu contexto e os entendimentos de sua época. A relação direta com os textos filosóficos possibilita um alicerce robusto para a formação do pensamento, por meio da análise de ideias divergentes, exercitando a prática do filosofar.

A leitura dos textos filosóficos é fundamental para aquele que se interessa por pensar filosoficamente e desenvolver um entendimento crítico, não apenas para conhecer e repetir o que um autor escreve, mas para pensar profundamente e criticamente suas reflexões. O texto permite um confronto com o argumento proposto pelo autor, e a prática da filosofia requer, acima de tudo, uma imersão nos textos que demandam habilidades de leitura, interpretação e análise.


Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.

Referências:
CUNHA, José. Iniciação à investigação filosófica: um convite ao filosofar. Campinas: Alínea, 2009.
SEVERINO, Joaquim. Como ler um texto de filosofia. São Paulo: Paulus, 2009.

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