O que é Positivismo?

Positivismo é uma doutrina filosófica que se fundamenta na confiança na ciência e no progresso científico, valorizando o método das ciências baseadas em fatos concretos e realizada a partir de experiências empíricas. A filosofia positiva, proposta por Auguste Comte, se compromete com os fatos, as certezas, a utilidade, a precisão e a organização.

O grande intuito do positivismo consiste em abandonar as investigações metafísicas, se dedicando apenas ao mundo objetivo, especificamente a tudo o que poderia ser medido e quantificado, entendendo que só podemos conhecer os fenômenos e suas relações, nunca seus fundamentos. Tendo como pretensão atribuir valores universais sobre seus conhecimentos, podendo ser entendido como uma forma de humanismo fundado na ciência.

Enquanto perspectiva filosófica, emergiu na França, no início do século XIX, com o triunfo do liberalismo e do cientificismo empirista, atribuindo enorme importância à razão e à ciência. Possui como representantes Franz Joseph Gall (1758-1828), Saint-Simon (1760-1825), François Bichat (1771-1802), François Broussais (1772-1838), Auguste Comte (1798-1857), Émile Littré (1801-1881), John Stuart Mill (1806-1873) e Herbert Spencer (1820-1903).

O principal representante do positivismo foi Auguste Comte, um filósofo francês que nasceu numa família pequeno burguesa, católica e monarquista, acreditou ter um papel messiânico de regenerar a humanidade, tendo como objetivo descobrir e demonstrar as leis do progresso, propondo um sistema político-religioso. Ele não pretendia mais encontrar o "porque" das coisas ou suas essências, mas descobrir as leis de regularidade, as relações constantes entre os fenômenos.

Sua perspectiva social entendia que as pessoas são simples espectadores de um mundo já dado, portanto devemos nos submeter às suas leis que são naturais. O papel da ciência seria descobrir as leis que regem os fatos sociais, utilizando para as ciências humanas os mesmos métodos das ciências naturais - a observação e a experimentação de laboratório, visando encontrar os determinantes da sociedade e dos seres humanos, deixando de lado toda especulação metafísica.

"Como sistema filosófico, busca estabelecer a máxima unidade na explicação de todos os fenômenos universais, estudados sem preocupação alguma das noções metafísicas, consideradas inacessíveis,(P.16) e pelo emprego exclusivo do método empírico, ou da verificação experimental."
(João Ribeiro Jr, em 'O que é positivismo')

A teoria positivista evita abordar sobre qualquer coisa que não possa ser submetida à experiência, de maneira objetiva e quantificável, nem sobre as finalidades ou as causas últimas das coisas, se mantendo apenas no estudo dos fatos e de suas relações, por isso podemos entender o positivismo como uma forma de dogmatismo físico. O termo "positivo", tem o sentido de real ao invés do imaginário, útil ao invés inútil, de certo ao invés de incerto, de preciso ao invés de vago.

O método positivo de investigação visa pesquisar e encontrar as leis gerais que regem os fenômenos naturais. O grande ideal da ciência, segundo o positivismo, é justamente a elaboração de leis gerais, para que o ser humano seja capaz de prever os fenômenos naturais e agir sobre a realidade. O lema da ciência positiva é "ver para prever", cultuando o conhecimento científico objetivo e utilizando este como uma forma de domínio do ser humano sobre a natureza.

O método de trabalho do positivismo parte da observação dos fatos e deduzir suas leis por correlação. A busca de leis e constâncias entende que há relações que são invariáveis e constantes entre as coisas, por isso o positivismo visa sempre explicar os fenômenos por meio das leis que são demonstradas a partir do método experimental, partindo sempre do concreto para o concreto, substituindo a ideia metafísica do direito pela ideia natural do dever.

"Embasado na concepção biológica da sociologia, Augusto Comte entende a sociedade como um organismo cujas partes constitutivas são heterogêneas, mas solidárias, pois se orientam para a conservação do conjunto. Assim, à semelhança do organismo, encontra-se nela uma divisão das funções especiais, onde se nota a presença da espontaneidade, da necessidade, da imanência e da subordinação de todas as suas partes a um poder central e superior."
(João Ribeiro Jr, em 'O que é positivismo')

Por encarar o fato social na totalidade, o positivismo exclui tudo o que é individual e singular, neste sentido não há liberdade individual nem liberdade de consciência. A fórmula máxima do positivismo era "o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim". Isto é, cada coisa em seu lugar, para uma perfeita organização ética da vida. A sociedade é considerada separada das pessoas, como um organismo, supondo que o todo existe para o bem dos membros individuais.

Auguste Comte criou sua própria religião puramente racional, natural e científica, não admitindo mistérios, revelação, sobrenatural ou qualquer crença que não seja provada por meio da razão. O destino das pessoas seria servir o Grande Ser, a própria humanidade, e não um Deus. Seu lema é "viver para os outros", fazendo o amor um dever, onde os homens devem amar a humanidade, com destaque para o progresso científico, acreditando que os problemas humanos podem ser resolvidos por meio do método científico, como uma espécie de "sociocracia", evitando "perturbações sociais", num progresso sem saltos.

Neste sentido, as normas, as instituições e os valores sociais buscam orientar o comportamento das pessoas, conforme os interesses sócio-econômicos das classes dominantes. Esse movimento se direciona para o advento de novos valores. Segundo o positivismo, as mudanças geradas pelas ciências possibilitariam o progresso, baseado na ordem. Essa perspectiva destaca o entusiasmo pelo progresso por meio do desenvolvimento técnico e industrial capitalista.

No Brasil, o positivismo tem grande influência ainda no século XIX, com os republicanos, tanto que o lema positivista foi impresso na bandeira nacional, "ordem e progresso". Esse ideal passa a rondar a consciência das classes privilegiadas, repercutindo nas escolas e na cultura intelectual, sobretudo entre militares, médicos e engenheiros, chegando a influenciar o campo político até Getúlio Vargas, voltando-se para o pensamento racional e evitando especulações ideais e metafísicas.


Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.

Referências:
COTRIM,; FERNANDES. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2013.
JAPIASSÚ, MARCONDES. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
RIBEIRO JR, João. O que é Positivismo. São Paulo: Brasiliense, 1994.
Temas: