A morte do sujeito e o consumo

Arte: 'Sa fille Lysa', por Gil Zetbase, 2016.

O filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) anucia a "morte do sujeito", se referindo ao sujeito autônomo do humanismo, livre, que controla suas emoções e constrói a si mesmo, este que é entendido enquanto uma identidade e unidade em si mesmo.

Com o desenvolvimento da economia liberal, onde o sujeito passa a ser produto e produtor, consumidor e consumo, as bases bases do humanismo entram em crise. Depois do pós-guerra, de 1945 em diante, a crise do indivíduo e dos grupos sociais vai ficando cada vez mais evidente.

A vida contemporânea exige uma subjetividade mais dinâmica, disposta às transformações tecnológicas, econômicas, sociais e culturais. O corpo passa então a ser uma configuração disponível à estas mudanças, mostrando-se cada vez mais adaptável e mutante.

As pessoas passam a se sentirem enquanto sujeitos na atividade do consumo, nas lojas, supermercados, shoppings e lojas virtuais. O sujeito passa a ser aquele que consome, seja este o consumo real ou virtual. Sendo constituído pela mídia, pelas instituições e pela massa de indivíduos.

Neste cenário, a infância deixa de ser vista com preciosidade, algo a ser preservado como acreditavam os humanistas, ou algo a ser desenvolvido como imaginavam os psicólogos, mas como algo a ser ajustado de acordo com a publicidade e as exigências de mercado.

Passa a ser exigida essa disponibilidade e plasticidade, para que cada pessoa seja moldada de acordo com as necessidades mutantes do mercado econômico. Se um novo produto é fabricado, novas campanhas publicitárias são elaboradas para estimular o interesse das pessoas, gerando a sensação de satisfação e prazer na aquisição dos produtos.

A publicidade apresenta para as crianças, adolescentes, adultos e idosos produtos para serem consumidos de acordo com sua faixa etária e sua condição econômica, desconsiderando totalmente a importância da autonomia que antes era valorizada na tendência humanista, inclusive o reconhecimento de valor e respeito sobre cada ser humano.

Tudo isso implica numa nova forma de ser humano nesse tempo, não mais como um mero produto das relações de produção, mas como resultante das campanhas publicitárias do momento e de sua inserção nas redes sociais exibindo os produtos adquiridos.

As ciências humanas, que exercem um papel de reguladoras dos indivíduos, como a pedagogia ou a psicologia, deixam de se dedicar a uma reflexão sobra a existência, passando a elaborar regras didáticas e administrativas para a aquisição e o desenvolvimento de performances esperadas para o momento específico.

Toda a experiência de vida se transforma em técnica, que gira em torno dos manuais que são descartáveis, impressos nas cartilhas de ensino e de modos de ser. O conceito de sucesso passa a ser relacionado com a performance do treinamento, supondo estar resolvendo as crises da educação ou da psicologia, mas apenas nutrem um mercado explorador.


Referências:
ARANHA, Maria Lúcia. História da Educação e da Pedagogia: Geral e do Brasil. São Paulo: Moderna, 2012.
GHIRALDELLI Jr, Paulo. O que é Pedagogia. São Paulo: Brasiliense, 2006.
REVEL, Judith. Michel Foucault: conceitos essenciais. São Carlos: Claraluz, 2005.