Educação na Idade Contemporânea


No século XVIII acontecem três revoluções importantes, a Revolução Francesa, a Revolução Industrial na Inglaterra e a Independência dos Estados Unidos.

Todas essas situações propõem um novo regime, sob o viés político e cultural, com a afirmação de novas classes, novos povos, modelos de Estado e de governo, pluralismo, tensões e ideais de liberdade. Com a crescente industrialização, as famílias passam a se reorganizar.

Neste cenário, o intelectual adquire uma grande importância, como mediador entre a sociedade e o poder, tendendo a estimular o novo e convergir as massas para o poder, em favor de uma educação social.

A educação passa a ter a função de possibilitar a cada ser humano a consciência de cidadania, sua emancipação intelectual de modo universal, libertando de preconceitos, fé imposta e crenças irracionais. A educação passa a se tornar muito importante na vida social, para desenvolver um ser humano socializado, ativo, responsável, ético e capaz de renovar as leis do estado.

A escola contemporânea, com suas características públicas e sua estrutura sistemática surge no século XVIII, tendo a alfabetização e difusão da cultura como processo de crescimento democrático coletivo, que permanece até hoje como uma crença sem incertezas da sociedade contemporânea. A escola muda sua organização, competência laborativa, reprodução da ideologia, inclui novos programas de ensino com ciência, línguas, tendo um recuo do modelo humanístico e no nível da didática.

Liberalismo

Adam Smith (1723-1790), filósofo e economista britânico, representante do liberalismo, valoriza os interesses da burguesia para se livrar do controle do estado sobre a produção de riquezas.

O liberalismo se opõe ao absolutismo monárquico por meio de uma teoria contratualista, onde a legitimidade do poder é consequência do pacto entre indivíduos.

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo e teórico político suíço, analisa o pacto entre os indivíduos sob uma ótica mais democrática, propagando muitas de suas ideias na educação.

O ensino passa a ser uma atribuição obrigatória do Estado, sendo gratuito e obrigatório o ensino elementar, praticado de modo racionalista, com ênfase nas línguas vernáculas (latim) e orientação para as ciências, superando a visão exclusivamente humanista. Porém se mantém inalterado o princípio da escola dual, havendo diferentes modelos preparatórios para a classe popular e para a classe elitizada.

Iluminismo


A obra Emílio, de Rousseau marcou profundamente a pedagogia contemporânea, onde revolucionou as concepções de educação quando propôs a preocupação da educação centralizada na criança. Para ele a educação tem o papel de ensinar a criança a viver, não com o intuito que seja um magistrado, um soldado ou sacerdote, mas um ser humano.

Rousseau entende o ser humano como naturalmente bom, porém pode ser corrompido pela sociedade. Ele desenvolve os conceitos de soberania, corpo coletivo que expressa a vontade geral, e cidadão, homem ativo e soberano.

Ele ilustra a educação ideal de um jovem por meio de uma educação naturalista, que propõe o retorno à espontaneidade original, livre dos hábitos que escravizam o homem. Para ele, educar a criança é tomar como ponto de partida seus interesses naturais, valorizando os sentidos, as emoções e os sentimentos que antecedem ao pensamento.

Rousseau defende também uma educação socializada e regulada pela intervenção do Estado. Em sua obra Maturidade, ele propõe um modelo de educação social e política, mais no sentido de "conformação social" do que da liberdade.

Immanuel Kant (1724-1804) foi um filósofo prussiano, considerado um dos principais filósofos do período moderno, propondo uma síntese entre o racionalismo continental e o empirismo inglês. Ele tenta superar essas duas concepções epistemológicas, investigando as questões da natureza do conhecimento.

Para Kant, a educação possibilita ao ser humano atingir seu objetivo individual e social. Seu pensamento pedagógico é marcado pelo intuito de transformar a "animalidade em humanidade", por meio da disciplina, ética e consciência do dever.

"Mandamos, em primeiro lugar, as crianças à escola, não na intenção de que nela aprendam alguma coisa, mas a fim de que se habituem a observar pontualmente o que se lhes ordene". (Immanuel Kant)

O século XIX marcou a pedagogia com grandes conflitos ideológicos e diferentes modelos educativos. Alguns pensadores marcam este período com a chamada pedagogia romântica, como Pestalozzi (1746-1827), Fröebel (1782-1852), Herbart (1776-1841) e Spencer (1820-1903).

As ideias de Rousseau influenciaram no humanista suíço Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), que propunha a educação como fator de desenvolvimento integral das faculdades da criança, em favor de uma educação ativa, em contato com a natureza e a experiência direta.

O inglês Herbert Spencer (1820-1903) fundamentava os princípios e meios educativos para o conhecimento das leis naturais, físicas e psíquicas. O francês Emile Durkhein (1858-1917) propunha a sustentação sociológica. O estadunidense John Dewey (1859-1952) era em favor de uma educação pragmática e progressista, de uma escola socializadora da criança sustentada no "aprender fazendo". O espanhol Francisco Giner de los Ríos (1839-1915) propunha uma educação naturalista e liberal, sustantada no diálogo e na convivência.

No final do século XIX, a ciência e a tecnologia haviam realizado avanços importantes, esse novo mundo apresentava novas exigências de manufatura, tecnologia, economia, política e ciềncia. A educação passou por processos de revisão e começou a tomar rumos tecnicistas, reinvindicando direitos humanos.

A Escola Nova reinvindica a criança e a coloca no centro. Ela rompe com o verbalismo teórico tradicional, com a formação coativa de caráter por meio da disciplina, com o autoritarismo magistral e a passividade submissa da criança, com a metafísica imobilista e essencialista, e em seu lugar propõe uma educação para a vida e para a produção social, dizia John Dewey.

Durante o século XX confluem divcrsos movimentos pedagógicos com o nome comum de "Escola Nova", agrupando pensadores como o belga Jean-Ovide Decroly (1871-1932), que impulsionava a globalização dos ensinamentos por meio dos "centros de interesses" das crianças. O francês Celéstin Freinet (1896-1966), que impulsionava a atividade e o trabalho em equipes na sala de aula. O suíço Eduardo Claparede (1873-1940) e a italiana María Montessori (1870-1952) se colocavam em favor dos direitos humanos e a atenção às crianças com capacidades diferentes.

O conhecimento, materializado em títulos universitários representava uma arma poderosa nas mãos da burguesia para firmar sua supremacia sociopolítica. A ascensão da burguesia gerava o estado moderno, abrindo espaço para uma nova educação.

O principal impulsor da escola nova foi Jean-Jacques Rousseau, considerava que o ser humano nascia livre e feliz, porém se corrompia pelas convenções sociais que eram cadeias de opressão. Ele era defensor da igualdade, preocupava-se com as desigualdades sociais. Para ele, o fundamental era a criança e o ambiente natural.

Johann Heinrich Pestalozzi dedicou sua vida a fundar e dirigir escolas para crianças pobres. Desenvolveu a concepção de desenvolvimento integral da criança e a importância da família na formação da personalidade infantil. Fundamentava a educação no respeito e o amor consigo mesmo e para com os demais. Trabalhou em defesa do respeito dos direitos dos menos favorecidos, afirmando seus direitos de educação. Criou escolas rurais, utilizando a educação como estratégia para a inclusão digna ao trabalho.

Durante o século XX continuaram surgindo diversas propostas educativas com o propósito de renovar as práticas da escola tradicional. A escola marxista, representada por Pavel Blonskij, A. V. Lunacharski y Antón Makárenko, propunha utilizar a oficina e a fábrica como escola de trabalho produtivo para a sociedade. Makárenko trabalhou desde 1920 com jovens órfãos e delinquentes nas comunas de pós-guerra “Máximo Gorki” e “1º de maio”, e construiu uma proposta de acordo com o sistema que acreditava.

A educação antiautoritária, criada pelo britânico Alexander S. Neill (1883-1973), autor do famoso experimento de educação para a liberdade, onde a criança é colocada no nível do professor e se desenvolve de seu modo em seu tempo, denominado "Summerhill".

A educação libertadora desenvolvida pelo pedagogo Paulo Freire, com uma proposta original de pedagogia orientada a libertar os pobres mediante um processo de conscientização, ou seja, o conhecimento crítico do mundo, para transformar a realidade social que os rodeia. Desde 1960 se colocou em prática seu método de alfabetização de adultos com excelentes resultados no Brasil, no Chile e no Uruguai.

A educação desescolarizada, onde sua proposta educativa vai no sentido de educar fora da escola, em contato com outra realidade familiar, social e cultural, numa espécie de "escola fora da escola", potencializando a aprendizagem informal e a relação do homem com seu meio: a natureza, a sociedade, o trabalho, etc. Mesmo não tendo se desenvolvido em práticas pedagógicas reais, essa teoria contribuiu ao reconhecimento do poder educativo que tem o entorno do ser humano.