O que é cultura?


Estudar sobre a cultura é buscar compreender os diferentes grupos sociais, povos, nações, indivíduos e a humanidade como um todo. O estudo dos processos e conflitos entre os seres humanos nos ajuda a entender como os grupos humanos se tornaram como hoje são, inclusive a entender melhor a nós mesmos e nossos modos de ser e de se portar.

O conceito de cultura reflete diversas interpretações, aplicações e sentidos, podendo estar associado a educação (estudo, formação escolar), as manifestações artísticas (teatro, música, pintura, escultura), a época (período histórico), a tradição (festas, cerimônias, lendas e crenças), a vestimenta, a culinária, ao idioma, e a tantas outras características.

A palavra cultura é de origem latina, e vem do verbo colere, que significa "cultivar". Segundo Santos (2006) os pensadores antigos ampliaram esse significado usando para se referir ao refinamento pessoal, a "cultura da alma", como sinônimo de refinamento, sofisticação pessoal e educação elaborada de uma pessoa. Atualmente, o termo cultura corresponde à todas as maneiras de existência humana.

Olhar para a cultura, implica no estudo de processos de simbolização e significação de cada povo, inclusive o entendimento que uma sociedade tem sobre si mesma, sobre outras sociedades, sobre o meio onde vive e sobre os modos de ser, envolvendo os modos como esse conhecimento é expresso por uma sociedade, pela sua arte, religião, esportes e jogos, tecnologia, ciência e política.

O estudo da cultura assim compreendida volta-se para as maneiras pelas quais a realidade que se conhece é codificada por uma sociedade, por meio de palavras, ideias, doutrinas, teorias, práticas costumeiras e rituais. O estudo da cultura busca entender o sentido que se estabelecem nessas concepções e práticas para a cada sociedade.

Segundo Santos (2006), a cultura "é uma dimensão do processo social, da vida em sociedade (...) diz respeito a todos os aspectos da vida social e não se pode dizer que ela exista em alguns contextos e não em outros (...) é uma construção histórica, seja como concepção, seja como dimensão do processo social (...) a cultura não é 'algo natural', não é uma decorrência de leis físicas ou biológicas, ao contrário, a cultura é um produto coletivo da vida humana". (p. 44, 45)

As preocupações com a cultura passaram ter importância a partir do século XIX, associadas a novas formas de conhecimento, quando a cultura se tornou laica (não religiosa), pois até então o cristianismo exercia força para se impor na definição de práticas e comportamentos. Na mesma época em que foi-se intensificando o poderio industrial das nações europeias frente aos povos do mundo.

Estudar os processos culturais é reconhecer a transformação pelo qual passam as sociedades. As variações nos modos de ser, agir, sentir e se colocar no mundo não são naturais, elas fazem sentido histórico para um grupo de pessoa em que nela estão inseridos, relacionando com as condições materiais da existência. O estudo da cultura contribui no combate aos preconceitos, possibilitando o entendimento das diferenças para um maior respeito e consideração nas relações humanas.

"Cada realidade cultural tem sua lógica interna, a qual devemos procurar conhecer para que façam sentido as suas práticas, costumes, concepções e as transformações pelas quais estas passam. É preciso relacionar a variedade de procedimentos culturais com os contextos em que são produzidos.” (José Luiz dos Santos, em 'O que é cultura')

Quando nos questionamos sobre as diferentes formas culturais, estamos questionando sobre nós mesmos e a nossa existência como seres resultantes de processos culturais - sujeitos e também afetados pelas forças da realidade social da qual estamos inseridos.

Deste modo, consideramos a diversidade cultural como condição para compreender a realidade onde vivemos, constituindo as diferentes maneiras de atuar na vida social. A cultura é um processo humano que está sempre em movimento e mutação, não se move somente pelo que existe, mas também pelas possibilidades e projetos do que podem vir a ser.

As diferenças culturais co-existem numa mesma sociedade em diferentes classes sociais, agrupamentos de pessoas, localização de grupos, diferenças de idades, de práticas religiosas, gostos e interesses, entre outras. Por exemplo, a realidade dos trabalhadores rurais e suas famílias são diferentes da realidade dos trabalhadores urbanos, mesmo que moradores de uma mesma cidade, há diferenças de costumes, salário, estudo, gostos, valores, entre outras coisas mais.

O estudo dos diferentes processos da sociedade em suas manifestações culturais inevitavelmente nos possibilita discussões sobre as relações de poder dentro de uma sociedade ou entre sociedades. Há relações desiguais de apropriação e uso das manifestações culturais, com vistas aos interesses particulares de um grupo sobre o outro. As lutas pela universalização do direito ao acesso a cultura e a possibilidade de se produzir e veicular cultura, são lutas contra as relações de dominação entre os grupos de pessoas. São lutas para a transformação da cultura tal qual estamos inseridos.

"Podemos reter da comparação entre culturas e realidades culturais diversas, a compreensão de que suas características não são absolutas, não respondem a exigências naturais, mas sim que são históricas e sujeitas a transformação"
(José Luiz dos Santos, em 'O que é cultura')


Por Bruno Carrasco.

Referência:
DOS SANTOS, José Luiz. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 2006.