O que é Materialismo Histórico Dialético?


Materialismo histórico dialético entende que o desenvolvimento histórico e a transformação social ocorrem por meio do conflito de interesses das diferentes classes sociais. O materialismo  é toda filosofia que compreende a realidade à partir da matéria, deixando de lado quaisquer concepções que existam independentes do mundo material tais como a ideia de alma, de mundo ideal, espiritual ou divino.

Segundo as filosofias materialistas, tudo o que temos, na realidade, se constituiu por meio de relações materiais, inclusive a ideia de divino, ideal, espiritual ou alma, são produções de nossa imaginação, que se dão por meio de nossas relações materiais. O existencialismo é uma filosofia materialista, pois analisa a existência partindo da própria existência concreta, ao invés de buscar explicações em teorias metafísicas, tal como a psicanálise.

O materialismo histórico entende que as relações sociais são em grande parte determinadas pelas relações econômicas de produção e pela forma como são satisfeitas as necessidades humanas. Deste modo, entender os meios de produção e as contradições sociais é tido como um caminho para compreender o ser humano em sua vida social e em sua expressão cultural. Essa filosofia foi desenvolvida pelo filósofo Karl Marx.

"O marxismo permitiu compreender que os fatos humanos são instituições sociais e históricas produzidas não pelo espírito e pela vontade livre dos indivíduos, mas pelas condições objetivas nas quais a ação e o pensamento humanos devem realizar-se. Levou a compreender que os fatos humanos mais originários ou primários são as relações dos homens com a Natureza na luta pela sobrevivência e que tais relações são as de trabalho, dando origem às primeiras instituições sociais: família (divisão sexual do trabalho), pastoreio e agricultura (divisão social do trabalho), troca e comércio (distribuição social dos produtos do trabalho)."
(Marilena Chauí, em 'Convite à Filosofia')

Karl Marx (1818-1883) foi um filósofo alemão, estudou Direito nas Universidades de Bonn e de Berlim, tendo concluído seu doutorado em 1841, na Universidade de Iena. Foi um crítico da filosofia idealista de Georg Hegel, e não ficou apenas no campo da filosofia, mas relacionou esta com a história, a ciência política e a economia.

Ele estudou a obra dos economistas ingleses, como Adam Smith e David Ricardo, propõs uma crítica ao pensamento hegeliano e a tradição idealista alemã, voltando-se para o viés materialista. Empreendeu um estudo crítico sobre o capitalismo e escreveu diversas obras analisando este modelo econômico e propondo um socialismo científico. Seu pensamento influenciou grande parte do pensamento social e político contemporâneo.

O trabalho, para Marx, trata-se de qualquer atividade onde o ser humano transforma a natureza para a realização de suas necessidades, seja na construção de uma casa ou uma roupa como abrigo, como na construção de uma arma como defesa, ou até mesmo um instrumento musical como entretenimento. Muitas das obras de Marx foram escritas com a contribuição de Friedrich Engels, sendo difícil a separação das ideias de um e de outro.

"Até o presente toda a história tem sido a história da luta entre as classes, as classes sociais em luta umas com as outras são sempre o produto das relações de produção e troca, em uma palavra, das relações econômicas de sua época; e assim, a cada momento, a estrutura econômica da sociedade constitui o fundamento real pelo qual devem-se explicar em última análise toda a superestrutura das instituições jurídicas e políticas bem como as concepções religiosas, filosóficas e outras de todo período histórico."
(Friedrich Engels em 'Anti-Dühring', 2017)

Além de uma filosofia, o materialismo histórico dialético é também uma vertente de produção do conhecimento. Em ciência, articula todas as dimensões para a construção de conhecimento, como a epistemologia, a teoria e a metodologia. Entende que o conhecimento é construído historicamente por meio das relações em sociedade, com base no que temos na realidade.

Não se trata de uma vertente que se fixa apenas no campo teórico, mas entende que a ciência busca conhecer a realidade para intervir nela e transformá-la. Deste modo, conhecer a realidade é também intervir nela, pois o conhecimento implica em transformação, por isso é chamada de uma filosofia da práxis, por não ficar apenas em nível teórico.

Nesta concepção, a realidade não é estática, mas histórica, e está se transformando a todo instante, por meio das diferentes relações de produção e trabalho. A inserção desigual das pessoas em formas de trabalho e condições de vida produzem diferentes formas de subjetivação e do indivíduo ser e se colocar no mundo.

Contrapondo a dialética idealista de Georg Hegel, que acreditava que havia uma evolução automática da sociedade, por meio de um "espírito universal", já o materialismo histórico entende que o que move a história é justamente o conflito e as contradições. Portanto, não há instituições eternas, pois todas elas são históricas, e a sociedade constitui uma totalidade de relações de produção e reprodução, tanto materiais quanto ideológicas.


Referências:
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2002.
JAPIASSÚ, MARCONDES. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
SOARES, Cassia. CAMPOS, Celia. YONEKURA, Tatiana. Marxismo como referencial teórico-metodológico em saúde coletiva: implicações para a revisão sistemática e síntese de evidências. Rev. Esc. Enferm USP, 47(6):1403-9, 1403-1409. 2013.