Ronald Laing e a loucura como transformação


Ronald Laing (1927-1989) foi um psiquiatra escocês que desenvolveu uma abordagem inovadora sobre a doença mental, em especial sobre a psicose, buscando compreender o sentido existencial dos sintomas.

Segundo ele, as doenças mentais não são um fenômeno meramente biológico, mas se desenvolvem nas interações sociais, culturais e familiares dificultosas. Ele criticou a psiquiatria tradicional por estigmatizar o sofrimento emocional, diagnosticando este com base na falta de ajuste às normas sociais e tratando somente com medicamentos.

Com base no existencialismo de Kierkegaard e Sartre, ele acreditava que as chamadas "doenças mentais" eram experiências singulares e transformadoras, a experiência loucura nem sempre é um caos mas pode ser uma transformação saudável.

O paciente, para Laing, tem de ser tratado como uma pessoa e não como uma doença. Ele buscou outros caminhos para conceituar a "loucura", entendendo a psicose como uma expressão existencial, como uma tentativa da pessoa construir um significado próprio para sua existência.

A psiquiatria tradicional distancia os pacientes de si mesmos, tratando as pessoas por meio das classificações de suas "doenças". Segundo Laing, tratar a pessoa como um objeto é tão ridículo quanto tratar os objetos como pessoa. Para ele, o tratamento dos psiquiatras ortodoxos não era tão diferente da patologia dos pacientes.

Os sentimentos e as dores emocionais são reflexos da experiências de vida de cada um. O tratamento com remédios prejudica a capacidade de pensar, sentir e se autoperceber, interferindo no processo natural de cura.

Laing propôs uma abordagem diferente para compreender a esquizofrenia. A esquizofrenia não é uma condição meramente biológica, mas uma reação a situações e dificuldades experimentadas em vida. O comportamento anormal e a fala confusa dos esquizofrênicos são expressões da angústia que ele vivencia.

Momentos de psicose são tentativas de comunicar preocupações que podem levar a importantes revelações sobre a própria pessoa. São difíceis de compreender pois são expressas por meio de simbolismos próprios de cada um, tendo um significado interno para a pessoa que sofre.

Até os comportamentos mais estranhos e bizarros possuem um sentido, do ponto de vista do sujeito que experimenta. Para compreender é preciso dar voz aos pacientes, voltando-se para suas experiências vivenciadas, contextualizando estas na existência de cada um.

Deste modo, ele defendeu olhar para o paciente como uma pessoa e não como uma categorização ou doença, recusando o olhar diagnóstico tradicional, propondo um olhar existencial e fenomenológico, compreendendo a pessoa numa busca de construir significados para sua existência.

Sua psicoterapia sem remédios, trabalhava na busca de compreender as experiências do paciente, dando atenção ao que eles dizem com empatia e dedicação, buscando estabelecer relações de suas falas com suas experiências de vida.

Em seu livro "O Eu Dividido", publicado em 1960, ele propõe a análise existencial dos conflitos internos como terapia, entendendo a compreensão subjetiva dos pacientes esquizofrênicos, em contraste com a psiquiatra tradicional que considera os transtornos mentais como doenças orgânicas do cérebro.

"A loucura não precisa ser um colapso total. Pode ser também uma abertura. É potencialmente libertação e renovação."
(Ronald Laing)