Ian Parker e a Psicologia Crítica

Ian Parker é psicólogo, professor e pesquisador britânico, conhecido por suas contribuições no campo da psicologia crítica. Nascido em 1956, Parker trabalha na Universidade de Manchester, na Inglaterra, e investiga a interseção entre psicologia, política e sociedade, analisando criticamente os diagnósticos psiquiátricos e as práticas terapêuticas.

Enquanto crítico da psicologia dominante, ele aborda as relações entre o poder, a política e a ideologia e suas influências nas teorias e práticas da psicologia. Parker se posiciona em favor de uma psicologia crítica, que reflete sobre as implicações sociais e políticas dos processos de psicologização e patologização, considerando o contexto social, histórico e cultural para a compreensão das questões mentais e emocionais.

"A psicologia crítica é uma forma de dar um passo atrás e olhar para a disciplina da psicologia. Em vez de tomar como certo o que os psicólogos dizem, a psicologia crítica vira o olhar e analisa reflexivamente o que os psicólogos estão a fazer – como determinam o nosso comportamento, a forma como pensamos e as formas como especificam diferentes tipos de perturbações para nós."
(Ian Parker)

Em seu livro "Revolução na Psicologia", ele apontou diversas críticas sobre a psicologia e psicopatologia tradicional hegemônica, criticando o reducionismo biológico, a medicalização excessiva, a normalização e patologização das diferenças, a descontextualização social da pessoa em sofrimento emocional, ao modelo padronizado de diagnóstico dos transtornos mentais, entre outras.

Parker se coloca contrário à tendência de categorizar e rotular as características e os comportamentos que fogem aos padrões considerados como "normais". Segundo ele, isso leva a uma estigmatização e marginalização das pessoas que não se enquadram nos moldes socialmente aceitos, desconsiderando a diversidade humana e a multiplicidade de experiências.

O autor enfatiza a importância de considerar o contexto social, político e cultural para a compreensão das questões mentais e emocionais. Ele argumenta que as experiências psicológicas devem ser analisadas levando em conta os fatores sociais e as relações de poder que afetam as pessoas, ao invés de serem explicadas exclusivamente por fatores individuais ou biológicos.

Além disso, também coloca diversas questões sobre a validade e a utilidade dos sistemas diagnósticos utilizados na psicopatologia tradicional, como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). Segundo ele, esses sistemas são baseados em categorias arbitrárias e muitas vezes não refletem a complexidade e a singularidade da experiência humana.

Parker colocou em questão as "verdades" estabelecidas pelos especialistas sobre a psiquê humana, entendendo a psicologia como um conjunto de discursos e teorias, que não estabelece contato com o modo como as coisas são, onde seu discurso é deslocado da realidade. Segundo ele, a psicologia opera um processo de "psicologização", tendo o papel de definir e gerenciar o comportamento das pessoas.

Na atualidade, Parker é considerado um dos mais importantes críticos da disciplina de psicologia. Ele constatou que enquanto outras ciências sociais estabeleciam uma olhar crítico com relação ao conhecimento recebido, dialogando com temas como direitos civis e movimentos de minorias, a psicologia se manteve reforçando antigas relações de poder, patologizando os movimentos sociais. 

Parker é um dos críticos mais conhecidos da psicologia dominante, em seu trabalho ele questiona repetidamente o papel da ideologia e do poder no campo da psicologia. Suas contribuições são evidentes ao longo de sua carreira e em suas publicações, entre elas podemos destacar um livro sobre "Psicologia Crítica", de 2011, e um "Manual de Psicologia Crítica", publicado em 2015.

A psicologia crítica busca estabelecer alianças e diálogos, ao invés de construir primeiro as teorias para dizer o que é a psicologia crítica, são estabelecidas alianças com profissionais para aprender por meio das experiências das pessoas, na prática de saúde mental, tomando como referência suas experiências, trabalhando juntos, de maneira horizontal, e não como um suposto portador do saber.

Em sua atuação em psicologia crítica, Parker relaciona análise discursiva, a perspectiva crítica e a psicanálise, com foco em questões de ideologia e poder. Uma característica do trabalho crítico consiste em fazer reuniões com usuários de serviços de psicologia, psiquiatria ou psicoterapia, pensando criticamente a atuação prática dos profissionais, constatando suas inconsistências e seus jogos de poder.

Entende que é preciso respeitar a especificidade dos diferentes locais de prática, tratando cada questão como operando de acordo com uma lógica distinta onde é estruturada. Além disso, atender de forma particular cada pessoa e campo de trabalho como historicamente constituído, desenvolvendo modos de análise que possibilitem transformar relações sociais, relacionando as especificidades espacial e temporal.

Ian Parker é cofundador e atual codiretor da "Discourse Unit", uma rede interdisciplinar para acadêmicos críticos e radicais, que mantém um periódico online. Ele é professor na Universidade de Leicester, no Reino Unido, envolvido com grupos de pesquisas sobre psicologia, política e resistência. Seu maior interesse está voltado para a mudança social.


Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e questionador, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico existencial e aconselhamento filosófico. Nos últimos anos se dedica a filosofia da diferença e psicologia crítica.

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