O escritor e romancista franco-argelino Albert Camus (1913-1960), desenvolveu um pensamento conhecido por seu absurdismo, muitas vezes relacionado ao pensamento existencialista. Segundo ele, a função da filosofia era reconhecer que a vida é desprovida de sentido e lidar com essa condição.
O absurdismo contraria as leis da lógica, sua característica é a contradição. Na filosofia existencialista, o absurdismo se expressa pela impossibilidade de se justificar racionalmente a existência, a impossibilidade de um sentido prévio das coisas e dos seres, tratando-se do incompreensível e da ausência de finalidada última da vida e das coisas.
"O pai da filosofia do absurdo é Kierkegaard. Em sua oposição ao hegelianismo, ele afirma a impossibilidade de incluir totalmente o indivíduo (como subjetividade) numa sistemática racional (...) O absurdo é a distância da subjetividade relativamente à razão considerada como uma tentativa para estabelecer um sistema racional do mundo."
(Japiassu & Marcondes, em 'Dicionário Básico de Filosofia')
Camus nasceu na Argélia e se naturalizou francês. Seu pai faleceu durante Primeira Guerra Mundial quando ele tinha apenas um ano, sendo criado por sua mãe. Estudou filosofia na Universidade de Argel, aos 25 anos mudou-se para a França, onde fez parte da resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial.
Em seu livro 'O mito de Sísifo', ele comenta sobre Sísifo, um personagem da mitologia grega que foi condenado pelos deuses a empurrar uma pedra enorme até o topo de uma montanha. Quando a pedra chegava ao topo, ela caía rolando novamente até o solo, e ele teria que repetir tal tarefa, sucessivamente, por toda a eternidade.
Segundo o autor, esse mito revelava a falta de sentido e o absurdo de nossa vida. Ou seja, todos os dias nos levantamos, trabalhamos, estudamos, nos relacionamos com outras pessoas, nos dedicamos a diferentes atividades, para no final simplesmente morrer.
Ele entendeu a vida como uma luta constante para realizar atividades que não tinham o menor sentido, e o universo não teria nenhum sentido ou propósito, pois ele simplesmente acontece. Isso não faz diferenças para os animais, mas por sermos humanos, temos consciência e atribuímos diferentes sentidos e propósitos, tanto a para universo quanto para a vida.
Apesar de constatar que a vida seja um absurdo e desprovida de sentido, ele não defendia que devemos perder as esperanças ou cometer suicídio. Para ele, devemos imaginar Sísifo feliz, pois em meio a essa atividade "estúpida" de subir a pedra numa montanha, deve haver algo que faça a vida valer a pena.
Apesar de constatar que a vida seja um absurdo e desprovida de sentido, ele não defendia que devemos perder as esperanças ou cometer suicídio. Para ele, devemos imaginar Sísifo feliz, pois em meio a essa atividade "estúpida" de subir a pedra numa montanha, deve haver algo que faça a vida valer a pena.
"Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida é responder uma questão fundamental da filosofia."
(Albert Camus)
O absurdo, segundo Camus, é o sentimento que experimentamos quando constatamos que os sentidos que atribuímos à nossa vida não existem além de nossa própria consciência, ou seja, o sentido das coisas não estão nelas mesmas, mas são criados por nós. Perceber isso nos permite constatar que todo o universo é sem sentido.
Para experimentarmos uma vida plena, segundo o autor, devemos primeiramente aceitar a condição de que a vida não possui sentido e é absurda. Segundo ele, quando aceitamos o absurdo, passamos a dedicar nossa vida a uma revolta constante contra a falta de sentido do universo, e assim poderemos viver livremente.
"Anteriormente tratava-se de saber se a vida devia ter um sentido para ser vivida. Agora parece, pelo contrário, que será tanto melhor vivida quanto menos sentido tiver. Viver uma experiência, um destino, é aceitá-lo plenamente."
(Albert Camus)
Em sua vida, ele se colocou fortemente contra qualquer tipo de filiação ideológica. Ele ingressou no Partido Comunista Francês em 1935 e foi expulso do mesmo em 1937. Se opôs ao marxismo e também ao existencialismo, discordando inclusive de seus amigos.
Ele escreveu diversas peças, romances e ensaios, entre eles 'O mito de Sísifo' (1942), 'O estrangeiro' (1942), 'A peste' (1947), 'O homem revoltado' (1951) e 'A queda' (1956). Em seus romances, Camus descreve o ser humano em suas situações-limite, diante dos problemas da liberdade, da ausência de sentido da existência e do absurdo condição humana.
"Albert Camus experimenta uma dolorosa sensação da absurdez da vida e da história. Encerrado em si mesmo, não vê, de início, senão dois caminhos para se libertar: o suicídio e a revolta, e tão-somente esta última, que implica o reconhecimento de um certo valor, afigura-se-lhe capaz de dar um sentido à vida."A questão da ausência de sentido é destacada na filosofia de Sören Kierkegaard, tratando sobre o tema do absurdo, em sua obra 'Temor e Tremor', de 1849. Friedrich Nietzsche também comenta sobre a falta de sentido em sua obra 'Vontade de potência', de 1906 (publicação póstuma).
(Paul Foulquié, em 'O Existencialismo')
Por Bruno Carrasco.
Referências:
FOULQUIÉ, Paul. O Existencialismo. Algés: DIFEL, 1975.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
REYNOLDS, Jack. Existencialismo. 2 ed. Vozes: Petrópolis, RJ, 2014.
Referências:
FOULQUIÉ, Paul. O Existencialismo. Algés: DIFEL, 1975.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
REYNOLDS, Jack. Existencialismo. 2 ed. Vozes: Petrópolis, RJ, 2014.