Pós-modernidade e temas transversais


O termo "Temas Transversais", de acordo com a LDBEN 9394/96 e os Parâmetros Curriculares Nacionais, estão ligados a ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde, orientação sexual, entre outros. Podendo se inserir também diversos temas locais, devendo ser vinculados as práticas educativas, juntamente com as disciplinas tradicionais.

O estudo da pós-modernidade nos possibilitou perceber melhor as mudanças nos meios ambientais em que vivemos, num processo que descentralizou as formas de organização e cultura num mundo em constantes transformações. Nosso mundo atual não é mais aquele do pensamento iluminista, pois não reduz o entendimento a uma única concepção de realidade, mas diferentes possibilidades de interpretação dos fenômenos.

Com isso, há o início de um olhar para as diferenças, de uma maneira ampla, buscando integrar elas, concebendo que a verdade pode ser relativa à comunidade na qual estamos. A concepção da sociedade pós-moderna é comunitária e a ética procura favorecer o bem estar das comunidades. Esse processo consiste na passagem de uma cosmovisão única e absoluta para o respeito pela diferença, valorização do local em detrimento do universal.

A consciência pós-moderna não considera a razão como único determinante dos modos de ser dos indivíduos, o modelo de relações agora é em rede, por meio de experiências fragmentadas. Não há uma única fonte de autoridade nem um centro de poder, não há padrões estanques, mas o ecletismo e transformações. A manufatura foi substituída pela informação e tecnologia, e a velocidade não depende mais do deslocamento das pessoas, temos tecnologias que nos trazem novidades tecnológicas, acadêmicas e culturais. O mundo se tornou numa aldeia global, onde se pensa globalmente e se age localmente.

A arquitetura pós-moderna não reflete uma unidade, mas celebra a multivalência. Nas artes, há uma variedade de estilos que não necessitam de objetividade. O teatro celebra o transitório na encenação, valorizando a liberdade e improvisação do grupo, reduzindo o poder do diretor. Os filmes são feitos em sequências de eventos fragmentados no tempo e espaço, não refletindo a ordem em que foram filmadas, o fictício e o fantástico se confundem com o real. A televisão é o principal veículo para disseminar a cultura pós-moderna. O culto na música é a diversidade de estilo.

A educação em nosso tempo envolve todos esses processos de vivências tanto das crianças como dos jovens, tendo como finalidade o pleno desenvolvimento do educando. O homem não nasce pronto, mas vai se tornando humano na medida em que se desenvolve mediante processos educativos formais e informais, dentro e fora da escola. A escola não é o único lugar onde se aprende, mas a TV, a internet, as mídias sociais, também entram como fontes de informação. O papel da escola é organizar e fazer novas leituras de todo esse conteúdo midiático que está nas mãos das crianças e dos jovens.

Nossa cultura é constituída por um conjunto de produtos da humanidade que se reflete em nossas ações, nossos modos de ser e fazer sobre a natureza, em termos materiais e imateriais, onde criamos conceitos e valores como as artes, a filosofia, as ciências, a literatura, os costumes, a alimentação, os sentimentos, as vestimentas, etc. Todas as pessoas produzem cultura a partir de que fazem, utilizando instrumentos como respostas às exigências de sua sobrevivência, e cada indivíduo se torna transmissor de cultura na medida em que se comunica aos outros e a novas gerações seus modos de ser e de se expressar.

Existem diferentes tradições culturais, correspondentes às diferentes regiões geográficas, pois há distintas maneiras das pessoas reagirem aos desafios da vida, portanto há de se falar em "culturas", no plural. Há uma cultura hegemônica, alienada, alienante e opressora, se contrapondo a uma cultura de transformação ou de libertação. A educação deve ser uma prática para a libertação, de modo a proporcionar a consciência e autonomia do educando.

Os temas transversais propostos para diálogo entre as disciplinas escolares envolvem:
  • Respeito à diversidade e pluralidade de como as pessoas se expressam afetivamente e sexualmente, questionando a heterossexualidade com modelo único e indo além dos papéis de gênero tradicionalmente atribuídos ao homem e a mulher;
  • Consciência e respeito aos espaços onde habitamos, buscando um equilíbrio ambiental entre as relações de nossos meios;
  • Dialogar com jovens sobre a entrada no mundo do trabalho, discutindo assuntos relacionados ao consumo, direitos, escolha de profissões, novas áreas de trabalho, desemprego, mercadorias, dinheiro, sistema capitalista, como as relações no trabalho interferem e influenciam as condições de vida;
  • Conceber a saúde como um equilíbrio do todo - bem-estar físico, mental e social - não sendo apenas uma ausência de doenças; administrar e equilibrar do uso de remédios;
  • Dialogar sobre ética e cidadania.

Para tanto, este é ainda um processo longo de transição do modelo tradicional positivista para um modelo dialético e humanista. Depende de muitos esforços, estudo, prática e revisão constante, pois entende que tudo está em constante transformação, tanto a sociedade como também os modos de ensino e aprendizagem.


Por Bruno Carrasco.
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