Søren Aabye Kierkegaard - Filósofo da Existência


O livro Søren Aabye Kierkegaard - Filósofo da Existência, escrito por Rodriguez Suarez, oferece um breve estudo sobre a vida e o pensamento de Kierkegaard, filósofo considerado marco inicial da filosofia existencialista.

Escrito em 2016, este livro está disponível no site da Amazon.com.br. Segue abaixo alguns fragmentos da obra:


"Em seu ensaio autobiográfico incompleto, Kierkegaard assinala três acontecimentos importantes de sua vida: sua formação nas mãos de seu pai; seu calamitoso amor por Regine Olsen; seu choque com a imprensa e sua aberta luta contra a igreja dinamarquesa. Søren Kierkegaard reconheceu mais tarde ter herdado as três disposições básicas de seu pai: a imaginação, a dialética e a melancolia religiosa.

Estudou com entusiasmo Platão e os românticos, assim como as últimas obras de filosofia em que o racionalismo e Hegel eram dominantes. Neste decênio estudantil se desenvolve também sua vida social mundana. Com esta vida mundana e alegre as coisas não andavam bem. Os exames eram constantemente atrasados. Seu pai entristecia-se com os excessos que entravam em contraste com a austera vida da família. Isso levou com que Kierkegaard rompesse sua comunicação com seu pai em 1837. Passou então a receber do pai uma renda anual que lhe permitiu instalar- se em uma casa independente, ajudando-se assim com as aulas de latim no Liceu, na espera de promoção. É esse o tempo em que ficou mais deprimido e irritado, abandonando assim, as práticas religiosas parecendo ter perdido sua profunda fé cristã. A reconciliação só veio meses antes da morte de seu pai, que ocorreu em 08 de agosto de 1838, a qual virou uma fase aguda de suas crises. As desgraças caídas sobre a família (a morte da mãe, a dos cinco irmãos em poucos anos e a do pai) colocou em sua cabeça que uma divina maldição pesava sobre a família e que a condena a desaparecer da terra por culpa de seu pai. Seu pai, pouco antes de morrer, havia lhe confessado que quando jovem, ainda guardador de carneiros nas charnecas da Juntlândia, sofrendo grandes males, cheio de fome e de frio se ergueu sobre uma colina e blasfemou contra Deus, amaldiçoando-o. Essa confissão passou-lhe um sentimento de culpabilidade de seu genitor, produzindo-lhe um traumatismo moral. Em consequência do elo, Søren recobrou a calma e se entregou a uma conversão mais plena à vida religiosa e à meditação dos temas cristãos. Como homenagem póstuma a seu pai, surpreende a todos com sua carreira eclesiástica e em 1840 se licencia em teologia, pregando pela primeira vez numa igreja de sua comunidade. Em 1841 recebe o grau de mestre em filosofia com uma tese sobre o conceito da ironia.

Das fontes do pensamento de Kierkegaard, indicando brevemente as fontes em que ele buscou inspiração e material para suas digressões. São elas: O Cristianismo luterano, os filósofos alemães e, sobretudo a sua própria vida. O Cristianismo em que Kierkegaard foi educado era um Cristianismo sombrio e amargo no qual acentuava as dores da cruz e omitiam as doçuras do presépio. Este Cristianismo é que influenciou seu pensamento, mais fortemente modelou sua sensibilidade e contribuiu, portanto, de uma maneira decisiva para a criação de seu existencialismo. A filosofia alemã é também fonte importante do pensamento Kierkegaardiano. Aprofundou-se nos estudos dos filósofos alemães e tomou conhecimento de tudo o que fora escrito pró e contra Hegel, antes mesmo de iniciar o estudo direto do próprio texto hegeliano. Dos opositores de Hegel que estudou, Schelling e Tredelenburg foram os que mais influenciaram na sua formação.

Para Kierkegaard o grande problema era encontrar uma verdade, "porém uma verdade para mim, encontrar a ideia pela qual quero viver e morrer". Daí o conceito de que "a verdade é a vida mesma de quem a expressa: é a vida em ato". Várias vezes Kierkegaard declarou que toda sua obra era nada mais que a expressão de sua própria vida.

A existência se refere sempre a realidade concreta do homem existente. A categoria da existência se refere sempre a realidade concreta, existência vivente, mas exatamente, ao indivíduo humano. Existir é ser indivíduo; o abstrato não existe.

O desespero e a angústia também caracterizam a existência, pois existir significa sofrer necessariamente desespero e angústia. O desespero resulta do fracasso e a angústia vem ligada à possibilidade e à liberdade. A categoria da subjetividade está ligada por Kierkegaard à existência, pois a existência não é algo abstrato, porém o devir concreto do homem, o sujeito existente. A existência é, portanto o fato de existir.

A verdade pode dizer-se subjetiva no sentido de que o sujeito, para pronunciar-se sobre a verdade, sempre se move a partir de uma perspectiva pessoal de conhecimentos precedentes, de interesses e tendências atuais.

Kierkegaard centralizou sua reflexão sobre a existência concreta humana na categoria do indivíduo singular.

Kierkegaard trata de libertar o homem da tirania do povo, das opiniões e modos de pensar da coletividade e fazê-lo tomar consciência de sua responsabilidade como pessoa singular.

As esferas da existência são as determinantes existenciais, os modos de vida geral, usual que servem como esquemas ou princípios opostos com os quais se enfrenta o indivíduo concreto em sua procura de sua plena e própria posse. Elas não são etapas sucessivas na vida do homem e sim situações em que pode se dar a existência. Quando se vive numa dessas esferas, não se pode viver simultaneamente nas outras pois, cada esfera encarna em forma concreta um modo de vida e há uma hierarquia ascendente de plenitude existencial que vai da vida estética a vida ética, até atingir a religiosa. A passagem de uma esfera para a outra se dá através de saltos e, uma vez realizado o salto ao modo de viver superior, a esfera da existência inferior não desaparece totalmente, porque há inclinações e necessidades estéticas e éticas em todo ser humano, que não podem se apagar.

O estético é pura espontaneidade, vida de sensações, sobretudo na linha do prazer sensual e do erotismo. A vida do estético é toda de dispersão, um correr de um gozo a outro; é uma vida dividida em si mesma, porque a unidade do prazer é uma quimera e ilusão. Na esfera estética, o indivíduo não tem compromissos nem finalidades: é o artista despreocupado no qual a fantasia predomina sobre a razão e a vontade. Guiado pela fantasia, ele abraça a realidade exterior, o efêmero, o transitório (riquezas, honras e prazeres); esquiva-se da consciência, não se encontra em si mesmo, não faz um propósito sincero, sendo incapaz, por isso, de dominar-se. Exemplos típicos desta esfera são: Don Juan, Fausto e Assuero (o judeu errante).

A esfera ética é um modo de vida essencialmente novo. Diferente do homem estético que perseguia as sensações e só buscava o gozo nisso, o homem ético é o que põe a moral como primeiro princípio de sua conduta e fim último de sua atividade e se propõe acima de tudo obediência ao "dever".

A esfera religiosa é aquela em que pela via da introspecção, o sujeito se encontra diante de Deus, optando viver na total sujeição a ele, independente do prazer estético e, inclusive da vivência ética. O modelo desta esfera é Abraão.

O salto qualitativo de uma esfera para outra se verifica por um brusco abalo (comoção) vital que sacode o homem em seu próprio ser e o arranca subitamente do seu modo de ser anterior (sobre tudo de sua dispersão no mundo). O fator emocional desta comoção, deste abalo existencial, os condensou Kierkegaard nas categorias principais da angústia e desespero. Suas complicadas análises sobre estes dois temas, muitos similares entre si, vão envoltas dentro de largas descrições entorno do pecado.

O conceito da angústia, diz Kierkegaard, é diferente da noção de medo e outros similares. O medo nasce mediante o perigo de algo concreto; porém, a angústia, do nada. Não é uma angústia por algo exterior, por algo que está fora do homem, mas sim de tal maneira que o homem seja a fluente da angústia.

Filósofo contemporâneo, Søren Kierkegaard é considerado pai do existencialismo. Nasceu em Copenhague em 1813, no seio de uma família rica. Ele era menor de sete irmãos todos nascidos do mesmo pai, tornando-se o filho preferido. Foi o seu pai que o introduziu em um pensamento claro e fê- lo encontrar a fé cristã. Estudou humanidades e teologia encontrando- se com o velho racionalismo, mas também com o romantismo e o idealismo alemão e suas influências na teologia. Foi um grande estudante de Hegel opondo-se a ele mais tarde.

Ele assumiu uma posição radicalmente oposta e explicou que "as verdades objetivas", com as quais se ocupavam a filosofia de Hegel, eram totalmente irrelevantes para a assistência do homem enquanto indivíduo.

Podemos então perceber que a influência do pensamento Kierkergaardiano no pensamento contemporâneo é imensa, quer no campo teológico protestante como no filosófico. Não podemos esquecer também que Kierkegaard foi um grande crítico da cultura europeia, dizendo que toda Europa estava a caminho da "bancarrota" pois viviam destituídos de paixão e engajamento."


Fonte:
SUAREZ, Rodriguez. Søren Aabye Kierkegaard - Filósofo da Existência. Amazon, 2016.