Existencialismo e a liberdade existencial

Existencialismo é uma vertente de filosofia contemporânea, que começa a aparecer timidamente durante o século XIX, sobretudo com Sören Kierkegaard e Friedrich Nietzsche, mas se afirma como uma corrente filosófica sobretudo no século XX, especialmente com Jean-Paul Sartre, e influências de Martin Heidegger, Simone de Beauvoir, Albert Camus e Maurice Merleau-Ponty. 

O filósofo francês Jean-Paul Sartre, por meio de sua ontologia fenomenológica, propõs que "a existência precede a essência", recusando de antemão qualquer determinação sobre o ser humano, entendendo que a sua existência se constitui no mundo, na relação com as coisas do mundo, com as pessoas e os espaços. Portanto, não há uma essência prévia que determine o modo como cada pessoa será, e esta se tornará o que fizer de si mesma.

Como não há uma essência prévia que determine o modo como cada pessoa será, toda pessoa é livre para fazer escolhas. A liberdade não é algo que temos num momento e deixamos de ter em outro, mas uma característica da própria existência. Somos, inclusive, condenados a ser livres, como menciona Sartre, pois não há como não escolher, e temos de escolher a cada momento, e cada escolha implicará na pessoa que vamos nos tornar.

“O homem deve criar a sua própria essência; é jogando-se no mundo, lutando, que aos poucos se define... a angústia, longe de oferecer obstáculo à ação, é a própria condição dela... O homem só pode agir se compreender que conta exclusivamente consigo mesmo, que está sozinho e abandonado no mundo, no meio de responsabilidades infinitas, sem auxílio nem socorro, sem outro objetivo além do que der a si próprio, sem outro destino além de forjar para si mesmo aqui na terra.”
(Jean-Paul Sartre, em 'O existencialismo é um humanismo')

Por não haver um caminho a seguir ou um guia para a existência, nos deparamos com duas consequências: a angústia e a responsabilidade. Nos angustiamos, pois nunca saberemos a pessoa que vamos nos tornar com as escolhas que fazemos, e apesar disso a todo momento temos de escolher, pois até mesmo a "não escolha" é também uma escolha. Nos percebemos responsáveis por aquilo que fazemos, pois o que fazemos constitui o que nos tornamos.

O existencialismo destaca a liberdade e a angústia como condições inerentes ao existir humano. Além disso, destaca-se a importância da ação que tomamos diante da vida, entendendo que não somos seres meramente passivos e repetidores dos valores existentes, mas criamos valores, modos de vida e pensamentos.

Neste sentido existencialismo pode ser entendido como um humanismo, no sentido que retoma no humano sua capacidade de determinar sua própria existência, porém nunca livre de fatores externos, pois para a perspectiva existencialista, não há separação entre interno e externo, assim nos constituímos na relação contínua com nós mesmos e com os outros.

O existencialismo preza pela liberdade não como uma qualidade que num momento temos e em outro momento deixamos de ser, pois entende que o homem é liberdade, segundo Sartre, e não há como não ser. A liberdade existencialista nada tem relação com a liberdade burguesa ou liberalista, não é uma liberdade no sentido de adquirir bens, ou estar livre de alguma obrigação, mas uma possibilidade de escolher a todo momento.

Sartre afirma que o homem é livre, por não ser determinado, e é justamente por isso que precisa continuamente fazer a si mesmo, em cada escolha, por menor que seja, estamos constituindo a pessoa que vamos nos tornar. Portanto, a liberdade e a angústia são temas centrais desta filosofia que se fez muito presente durante o século XX, sobretudo nas décadas de 1940 e 50, influenciando também a cultura e os valores da sociedade europeia do pós-guerra.


Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.

Referências:
FOULQUIÉ, Paul. O Existencialismo. São Paulo: DIFEL, 1975.
PENHA, João da. O que é Existencialismo. São Paulo: Brasiliense, 2014.
SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo. Petrópolis: Vozes, 2014.