Psicoterapia existencial enquanto abertura


A psicoterapia, na abordagem fenomenológico existencial, possibilita um aprofundamento no contato com a própria existência, com suas angústias e seus afetos, promovendo o contato com suas experiências e emoções, com o intuito de e se colocar como protagonista de sua vida, expandindo suas possibilidades de ser. 

O existencialismo, enquanto vertente filosófica, entende a existência humana como um processo e não enquanto algo estático, como um vir-a-ser, que se forma e se transforma constantemente na relação com o mundo, com os outros, com os objetos, consigo mesmo, com sua história, com o tempo, com os valores e experiências de vida.

Partindo da constatação de que não há uma essência que define uma pessoa, mas que esta se torna o que fizer de si, entende-se que a terapia, ou seja, o cuidado com o ser, é possível. Pois, se nossa existência fosse determinada e pronta, o processo de terapia, no sentido da revisão e transformação de si, não seria possível.

Deste modo, uma psicoterapia embasada na filosofia existencialista valoriza a liberdade de se fazer escolhas e a singularidade, reconhecendo os distintos modos de ser de cada um. Por não pressupor uma essência, não se pauta de maneira alguma em modelos prontos do que seja "correto" ou "adequado", mas busca compreender a pessoa em seu modo.

A pessoa, por não ser pronta, se faz a cada momento e em cada escolha. Portanto, não se utiliza de premissas prévias sobre o funcionamento, os sentimentos ou pensamentos de uma pessoa. Por conta disso, a psicoterapia não utiliza noções previamente definidas, mas se abre para os modos de ser e de experienciar a vida de cada um, buscando encontrar o que é saudável e o que não é saudável para cada pessoa, em cada momento.

Portanto, essa abordagem em psicoterapia não pretende "resolver" problemas, ensinar a "controlar a ansiedade", ou orientar sobre "como educar os filhos". Nada disso faz sentido num olhar existencial e fenomenológico, mas busca justamente se aproximar das singularidades e valorizar a existência de cada um, em seu modo específico de ser, de sentir e se colocar no mundo.

As buscas de "controlar a ansiedade", "corrigir nossos filhos" e "resolver nossos problemas" são totalmente contrárias a percepção de nossos sentimentos, a compreensão de nossa história, a aproximação de nossas experiências e valores, a singularidade, e inclusive contra a nossa autonomia, a nossa capacidade de resolver por conta própria as nossas dificuldades emocionais.

A psicoterapia fenomenológico existencial pretende preencher esse vazio de humanidade que paira nas técnicas psicológicas, valorizando nossos sentimentos, nos permitindo sentir, entrar em contato com nossas angústias e sofrimentos, e também com nossas alegrias e prazeres. Essa terapia possibilita compreender melhor o que nos faz sentido e o que não faz, estimulando a nossa autonomia para fazer escolhas mais autênticas e lidar com aquilo que nos atormenta.

Uma vida "equilibrada" e uma "inteligência emocional" não é o que a psicoterapia fenomenológico existencial oferece. Viver não é algo equilibrado, mas algo alegre e triste, onde atravessamos problemas, corremos riscos, nos desequilibramos e nos re-equilibramos. Nossos sentimentos não são controláveis como controlamos um aparelho eletrônico, mas podemos percebê-los, abrir um canal de diálogo com eles, permitindo que eles se expressem e fazer algo com isso.

Essa psicoterapia é então uma abertura para a experiência, e uma psicoterapia-abertura, tende a fomentar uma vida-abertura, ou seja, uma disposição de abertura para experimentar a vida, para se tomar contato com a própria existência, para explorar as possibilidades que nos aparecem, para conhecer o mundo, perceber nossas relações e compreender a nós mesmos.

É isso justamente que alegra e fascina nesta abordagem de psicoterapia, que entre tantas opções escolhe a existência como ponto de partida, que não parte de algo que esteja fora do ser, mas se abre para a existência em seu modo singular, de maneira curiosa e entusiasmada, interessando-se pelos modos de vida que cada um experimenta, em seus afetos e desafetos.

O processo de psicoterapia, na abordagem fenomenológico existencial é uma abertura ao ser que se mostra, que se revela e se aprofunda a cada encontro, em cada diálogo. Seu caminho dependerá das buscas e dos caminhos de cada um. Não há um caminho definido, mas o caminho que acontece, sendo trilhado a cada momento, podendo sempre mudar conforme as circunstâncias ou necessidades.

Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.