O que é Antropologia Filosófica?

Antropologia é um campo de conhecimento que estuda as diversas formas pelas quais o ser humano pode ser entendido. O termo se originou de dois radicais gregos, antropos e logos, o primeiro significa "ser humano", e o segundo tem o sentido de um "estudo" ou "teoria" sobre algo. O tema de estudo da antropologia é o ser humano, em suas dimensões biológicas e culturais.

A antropologia física busca entender o ser humano a partir da perspectiva das ciências naturais, em suas características físicas e sua adaptação ao meio. A antropologia cultural entende o ser humano como um ser inserido num contexto cultural específico, com valores, saberes, crenças e práticas específicas, analisando como estrutura suas relações e valores, e como influenciam seus comportamentos.

Diferente das perspectivas anteriores, a antropologia filosófica pretende entender o que é o ser humano a partir de análises filosóficas. Cada filósofo e corrente filosófica elabora um entendimento específico sobre o ser humano, como este se comporta, pensa, vive, se transforma, sofre e se alegra. Examina questões como: O que é o ser humano? O que o difere dos outros seres? Qual o sentido da vida?

A antropologia filosófica busca compreender o ser humano por meio de uma análise racional e argumentativa. Sua questão principal é a definição e o entendimento do que é e de como é o ser humano, levando em consideração os saberes da tradição filosófica e as perspectivas das ciências humanas. Trata-se de pensar filosoficamente a existência do ser humano, sua natureza ou condição.

"Existem coisas que, pela sua sutileza e infinita variedade, desafiam todas as tentativas de análise lógica. E se há alguma coisa no mundo que precisamos tratar desta segunda maneira, é o espírito do homem. O que caracteriza o homem é a riqueza e a sutileza, a variedade e a versatilidade de sua natureza. Por isto mesmo, a matemática nunca poderá vir a ser o instrumento de uma verdadeira doutrina do homem, de uma antropologia filosófica."
(Ernst Cassirer, em 'Antropologia Filosófica')

A preocupação com o entendimento do ser humano faz parte da filosofia desde seu início. Na Antiguidade, Sócrates entendia o corpo como um instrumento da alma, sendo a razão a sede de nossa atividade pensante e operante, possibilitando o conhecimento do mundo e sobre si.

Platão estabeleceu uma dicotomia entre corpo e alma, ele concebia que o corpo era a prisão da alma, dividida em três partes: a alma que se altera com as excitações, a alma responsável pela alimentação e o sexo, e a alma racional do pensamento puro.

Aristóteles destacava a importância dos sentidos para a constituição da memória e da experiência. Segundo ele, o homem tem a capacidade de pensar e é um ser político, civilizado. Para ser ético precisa dominar o corpo por meio da alma, necessitando desenvolver virtudes como a coragem, a temperança, a veracidade, a generosidade, a justiça, a amizade e a honestidade.

Durante a Idade Média, Santo Agostinho e Tomás de Aquino entendiam que o homem possui livre-arbítrio para distinguir entre o bem e o mal. Santo Agostinho concebia o homem como a imagem e semelhança de Deus, sendo um ser que busca a transcendência, visando viver bem em comunidade.

Na Modernidade, o antropocentrismo substituiu o teocentrismo. O racionalismo de René Descartes entendia que corpo e alma eram substâncias distintas, sendo o corpo uma máquina engenhosa e autômata, e a alma sua essência racional, ligada ao corpo pela glândula pineal. Durante os séculos XVI e XVII, alguns filósofos tentaram entender a natureza humana em sua dimensão social, como Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau, que ficaram conhecidos como os pensadores do contrato social.

Segundo Hobbes, o homem é naturalmente cruel ("o homem é o lobo do homem") e precisa do Estado para coagi-lo e civilizá-lo, de modo a torná-lo apto para viver com outros homens. Rousseau entendia que o homem era naturalmente bom, e a sociedade o corrompia, tornando ele perverso. John Locke entendia que o homem não era naturalmente bom nem mau, mas uma folha em branco que será moldada por suas vivências e experiências.

No século XIX, Friedrich Nietzsche criticou a tradição do pensamento ocidental, desde os gregos clássicos até a filosofia moderna, criticando a supremacia da razão, a busca da verdade e as crenças absolutas. Ele propõe o além-do-homem, sendo aquele que destrói os valores tradicionais decadentes para construir novos valores, que atuam em favor da vida e dos impulsos.

Michel Foucault, no século XX, foi profundamente crítico com relação à ideia de natureza humana. Segundo ele, o que entendemos como "natural" com relação aos seres humanos não passa de um discurso utilizado como uma ferramenta de controle dos modos de vida, estabelecendo a noção de "normal", como um modelo de vida a ser seguido por todos.

Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.

Referências:
CASSIRER, Ernst. Antropologia Filosófica: ensaio sobre o homem. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
OLIVEIRA, R. C. de. Antropologia Filosófica. Curitiba: InterSaberes, 2012.

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