Husserl e a Fenomenologia

O filósofo e matemático alemão Edmund Husserl (1859-1938) é responsável por criar o método fenomenológico, partindo de uma crítica sobre as ciências positivistas e da filosofia idealista, propondo uma revisão sobre o entendimento de como conhecemos e captamos o mundo e as coisas do mundo.

As ciências positivistas possuem como característica o foco demasiado sobre os objetos, reduzindo a realidade ao que percebemos por meio dos sentidos, utilizando como referência instrumentos de medição. Já o idealismo, na filosofia, tende a priorizar as ideias sobre as coisas, sem a necessidade de tomar contato com as coisas, valorizando assim o sujeito pensante ou a razão.

Diferente dessas tendências, a fenomenologia propõe um novo entendimento sobre o modo como conhecemos e tomamos contato com as coisas do mundo, que acontece fundamentalmente por meio da intencionalidade, onde as coisas se constituem na consciência a partir da relação entre o sujeito e o objeto, entre o homem e o mundo, entre o pensamento e as coisas pensadas.

"Seu projeto filosófico caracterizou-se inicialmente pela formulação da fenomenologia como um método que pretende explicitar as estruturas implícitas da experiência humana do real, revelando o sentido dessa experiência através de uma análise da consciência em sua relação com o real."
(Danilo Marcondes, em 'Iniciação à História da Filosofia')

Husserl criticou a concepção de consciência predominante na psicologia, que a entendia enquanto uma espécie de depósito de conteúdos, imagens e representações dos objetos, como se as coisas do mundo "entrassem" na consciência e passassem a fazer parte dela. Para ele, a consciência não é uma substância nem algo meramente passivo, mas pura atividade, sempre direcionada a algo.

Segundo o filósofo, a consciência se encontra constantemente voltada para o mundo e para os objetos do mundo, ela só existe se direcionando a alguma coisa, que corresponde justamente à intencionalidade. A intencionalidade é essa característica da consciência de estar sempre visando algo, sempre para fora. A consciência é entendida como doadora de sentido das coisas e do mundo.

Deste modo, as ideias só existem porque as coisas aparecem à consciência, enquanto as coisas só são percebidas porque a consciência se direciona a elas. As coisas são os fenômenos que aparecem à consciência, sendo sempre "coisas para uma consciência", enquanto a consciência se direciona às coisas, sendo sempre "consciência de alguma coisa".

"As ideias só existem porque são ideias sobre as coisas, ambas constituem um único fenômeno, por isso estão indissoluvelmente ligadas. (...) Sintetizando: consciência e fenômeno não existem separados um do outro."
(João da Penha, em 'O que é existencialismo')

Só é possível a consciência de um objeto, pois a consciência se direcionou a este objeto, ao mesmo tempo que este objeto se mostrou a uma consciência. Portanto, não há uma separação entre consciência e objeto, o entendimento de mundo acontece nesta correlação, do mesmo modo que não se separa pessoa de mundo ou ideia de experiência.

O intuito da fenomenologia é captar a essência mesma das coisas, a essência da experiência e a essência da percepção. Seu método consiste em descrever a experiência como acontece, buscando se aproximar do modo como ela se apresenta. Para alcançar essa essência, Husserl propõe o exercício da epoché, termo grego que significa a suspensão de juízos.

A epoché consiste na suspensão de todos os juízos prévios sobre o que percebemos. Trata-se de não afirmar e nem negar nada sobre as coisas, buscando compreendê-las tal como se aparecem à consciência, sem buscar por explicações prévias, suposições ou delimitações. Esse procedimento consiste na redução fenomenológica, onde as coisas são captadas tal como se apresentam à nossa consciência.

Por meio da redução fenomenológica, o mundo objetivo é colocado "entre parênteses", para se abrir à experiência tal como acontece, sem buscar distinguir o objeto percebido do objeto "em si", ou o "pensamento sobre a coisa" da "experiência sobre a coisa", mas captando o sentido que surge espontaneamente desta correlação, se aproximando dos elementos mais básicos de nossa experiência.

Foi por meio do método fenomenológico que se desenvolveu a ontologia existencialista, utilizada por filósofos como Martin Heidegger (1889-1976), Jean-Paul Sartre (1905-1980), Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), entre outros.


Referências:
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 12 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
PENHA, João da. O que é Existencialismo. 1ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2014.