O que é Fenomenologia?


Fenomenologia é o estudo dos fenômenos, tal como se apresentam à consciência, deixando de lado preconceitos, suposições, teorizações ou generalizações sobre como sejam, buscando se aproximar do modo como são captados pela consciência.

Trata-se de um método utilizado para compreender a experiência humana, utilizada pela psicologia, filosofia, antropologia, história e pedagogia. O interesse da fenomenologia não é o mundo objetivo, mas o modo como o entendimento de mundo se realiza para cada pessoa. Sua prática visa a retornar o nosso entendimento de mundo a um estágio pré-reflexivo, antes das representações e construções conceituais sobre ele.

"O interesse da Fenomenologia não é o mundo que existe, mas sim o modo como o conhecimento do mundo se dá, tem lugar, se realiza para cada pessoa."
(Rubem Queiroz Cobra)

Edmund Husserl (1859-1938) buscava descrever os objetos tal como os via e tocava, e deste modo extrair filosofia. Ele percebeu que todo movimento é relativo ao observador, e que as coisas são tais como os fenômenos que se apresentam à nossa consciência. Não buscava uma descrição ideal ou teórica sobre o que era percebido, mas uma compreensão do fenômeno tal como acontece.

A fenomenologia propõe uma revisão sobre o modo como se dá a percepção. Não busca um objeto ideal a ser descoberto, mas compreender como o fenômeno se apresenta. Entende que as ideias só existem porque são ideias sobre coisas, onde a consciência e o fenômeno não existem separados um do outro, mas numa correlação.

"A palavra 'fenomenologia' significa 'o estudo dos fenômenos', onde a noção de um fenômeno e a noção de experiência, de um modo geral, coincidem. Portanto, prestar atenção à experiência em vez de àquilo que é experienciado é prestar atenção aos fenômenos."
(David Cerbone, em 'Fenomenologia', 2014)

A consciência é caracterizada pela intencionalidade, de modo que não existe objeto separado da consciência deste objeto, pois toda consciência é 'consciência de' alguma coisa, a consciência se dirige para os objetos, que atribui significados ao que é percebido. O resultado dessa intencionalidade compõe o modo como captamos a realidade, onde o objeto só pode ser percebido a partir de sua relação com uma consciência.

A consciência é pura atividade, que constitui as significações, atribuindo sentido ao vivido das coisas. Fenômeno é tudo o que percebemos. O que aparece só pode aparecer para uma consciência, portanto é ela própria o fenômeno. Quando percebemos algo, nossa observação está muitas vezes carregada de experiências prévias, conhecimentos, valores, história de vida, afetos e desafetos com relação ao que observamos.

Para aproximar-se da experiência com a coisa percebida, a fenomenologia utiliza o método de redução fenomenológica, que consiste no exercício de se distanciar das crenças, teorias, valores e experiências que temos sobre a coisa observada, colocando-as "entre parênteses", para observar o que captamos de imediato, do modo como a coisa se apresenta à nossa consciência, evitando julgamentos prévios.

A redução fenomenológica requer a suspensão das atitudes, crenças, teorias, e todo o conhecimento prévio das coisas do mundo a fim de concentrar-se exclusivamente na experiência pré-reflexiva. Significa, portanto, restringir o conhecimento ao fenômeno da experiência de consciência, promovendo uma análise da consciência para encontrar sua experiência originária.

"Dou uma pequena pista para quem quer escutar: não se trata de ouvir uma serie de frases que enumeram algo; o que importa é acompanhar a marcha de um mostrar."
(Martin Heidegger)

O conhecimento que temos de mundo é fruto de uma experiência de nossa consciência. Não é possível nos livrar de nossa subjetividade e ver as coisas em como são em si mesmas, pois em toda experiência da consciência estão envolvidos também os nossos sentidos, e o modo como percebemos aquilo que é observado adquire um significado especial para nossa consciência.

A fenomenologia busca analisar a intencionalidade da consciência humana e compreender os fenômenos que se apresentam à percepção. Trata-se de um estudo do modo como os fenômenos ou eventos são captados pelo indivíduo. O método fenomenológico propõe uma 'volta as coisas mesmas', isto é, aos fenômenos, que aparecem à consciência, que se dão como objetos intencionais.

Essa busca de 'voltar as coisas mesmas' consiste em retornar ao mundo como sentimos e experimentamos, antes de qualquer orientação teórica, pressuposições ou preconceitos sobre as coisas percebidas, retornando à experiência vivida. A percepção é um modo de nossa consciência se relacionar com o mundo mediada por nosso corpo, sendo o modo da consciência se relacionar com as coisas.

"(...) a fenomenologia tem como preocupação central a descrição da realidade, colocando como ponto de partida de sua reflexão o próprio homem, num esforço de encontrar o que realmente é dado na experiência, e descrevendo 'o que se passa' efevitamente do ponto de vista daquele que vive uma determinada situação concreta. Nesse sentido, a fenomenologia é uma filosofia da vivência."
(Aranha; Martins, em 'Filosofando', 1993)

Alguns dos autores relacionados ao estudo da fenomenologia são Wilhelm Dilthey (1833-1911), Franz Bretano (1838-1917), Edmund Husserl (1859-1938), Max Scheler (1874-1928), Karl Jaspers (1883-1969), Martin Heidegger (1889-1976), Friedrich Perls (1893-1970), Jean Paul Sartre (1905-1980) e Maurice Merleau-Ponty (1908-1961).





Referências:
ARANHA, Maria Lúcia; MARTINS, Maria Helena. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1993.
CERBONE, David. Fenomenologia. Tradução: Caesar Souza. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2012.
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