O que é Aconselhamento Filosófico?

O Aconselhamento Filosófico é uma atividade que utiliza a filosofia de maneira prática, em sua relação direta com a vida, com o intuito de lidar com as dificuldades de uma pessoa a partir de sua visão de mundo, seus significados e as implicações de suas atitudes para consigo mesma e para os outros.

Sua prática está voltada para a compreensão de mundo da pessoa, utilizando-se de concepções filosóficas, existenciais, éticas e estéticas, desenvolvendo-se por meio do diálogo e da reflexão filosófica. Esta atividade não tem caráter de terapia no sentido como utilizado na área da saúde, mas pode gerar resultados terapêuticos.

Analisa-se a visão de mundo da pessoa, a partir de considerações éticas, estéticas, lógicas, conceituais e existenciais, tematizando seus modos de vida, tomando contato com outras visões de mundo possíveis, possibilitando uma revisão sobre como percebemos e entendemos a vida, bem como as relações e o modos como atuamos.

Essa atividade possibilita uma revisão sobre nossa vida, práticas e percepções, não com o intuito de um direcionamento, mas para uma abertura criativa, que nos permite encontrar e criar novas formas de vida. Trata-se de uma retomada do uso terapêutico da filosofia, no sentido de uma "medicina da alma", de práticas do cuidado de si, uma ética ou estética da existência.

Por conta de suas características, o Aconselhamento Filosófico não se constitui a partir de apenas uma ou outra escola de pensamento. Todo o acervo de reflexão filosófica pode ser utilizado como fonte de análise e aconselhamento sobre a experiência humana, fazendo o uso prático da filosofia como um modo de se observar e cuidar da vida, a partir do plano das ações do cotidiano.

O exercício da reflexão sobre as práticas e concepções de vida pode se tornar um processo constante, uma prática de cuidado de si, de modo que cada pessoa possa encontrar e criar sua "filosofia de vida", partindo de perguntas e reflexões que possibilitam um olhar diferenciado para suas atividades diárias, buscando novas maneiras de resolução, tornando-nos filósofos de nossa existência.

Por utilizar o método fenomenológico, o aconselhamento não deve ser confundido com uma simples conversa com um filósofo sobre os problemas cotidianos, mas uma prática que visa tomar contato com as experiências de uma pessoa, relacionando suas questões com saberes filosóficos a partir do diálogo, circulando entre distintas áreas e autores da filosofia conforme as necessidades do aconselhado, colaborando para encontrar outras maneiras de lidar com seus conflitos.

Este uso da filosofia prática não se apresenta como uma terapia no sentido de conduzir a uma cura, inclusive não é recomendado para as pessoas que precisam de um atendimento de saúde, mas para aquelas que queira questionar sobre sua própria existência. Inclusive, há muitas questões da vida que não demandam remédio ou terapias, mas diálogos e reflexões.

O aconselhamento filosófico é uma aplicação prática da filosofia para dilemas da vida cotidiana e questões existenciais que não necessitam de uma intervenção médica ou psicológica. Uma atividade profissional que fornece um atendimento utilizando a filosofia para a pessoa compreender melhor suas questões e dificuldades a partir de outras óticas, revendo sua vida e seus valores.

Pretende um maior contato da pessoa com suas dificuldades, visando um maior entendimento delas e o encontro de outras formas de resolução, para que esta possa deliberar sobre sua vida, visando uma maior saúde existencial. Entende-se que muitas das dificuldades e dilemas que são inerentes de nossa condição e podem ser resolvidas por meio de uma reflexão de cunho filosófico, possibilitando outros olhares para a saúde. 

A filosofia prática e em relação com a vida possibilita uma revisão sobre o modo como percebemos e entendemos a nossa vida, relações e os modos como atuamos, possibilitando encontrar e criar novas formas de vida. Além disso, possibilita resgatar a singularidade da pessoa e sua autonomia para poder fazer novas escolhas para sua vida, respeitando o outro no que este tem de singular e próprio.

Entende-se que cada pessoa pode ser um agente de mudança dos rumos de sua vida. Sua prática de cuidado possibilita uma assunção de si, tomando contato com sua visão de mundo, emoções e narrativas, bem como seus sofrimentos e angústias, ampliando suas perspectivas sobre si mesmo e o mundo, considerando o respeito à pessoa em sua liberdade de ser, agir no mundo e sobre si.

Por Bruno Carrasco, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.