tag:blogger.com,1999:blog-78583548871138212512024-03-18T10:54:49.413-03:00ex-istoAteliê filosófico virtual que aborda temáticas como a singularidade, a diferença e a criação, a partir da filosofia, da psicologia e artes, visando possibilitar outras perspectivas.Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comBlogger573125tag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-90857207018907087382024-02-27T16:48:00.014-03:002024-02-28T11:08:23.879-03:00Introdução à Fenomenologia - Grupo de estudos<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUWP9qOBkgKRdB3D8ECwhDD1X5zREYW4WOJMRjc2WsAIxOYqgoe3YpLzhFDjwtCzy81zfEXFlO35GXZdBJuuhqUN-kI4xUaVYe5njEF0s8iaj8pZfL4ReYX_S2Y2jkWyXRUeQXbaIHty6M10l0i408DM20EDXpiABsL54d899B4mqsI_ZGSx7l9omni6U/s720/fenomenologia-grupo-estudos.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="445" data-original-width="720" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUWP9qOBkgKRdB3D8ECwhDD1X5zREYW4WOJMRjc2WsAIxOYqgoe3YpLzhFDjwtCzy81zfEXFlO35GXZdBJuuhqUN-kI4xUaVYe5njEF0s8iaj8pZfL4ReYX_S2Y2jkWyXRUeQXbaIHty6M10l0i408DM20EDXpiABsL54d899B4mqsI_ZGSx7l9omni6U/s16000/fenomenologia-grupo-estudos.jpg" /></a><p></p><p></p><div style="text-align: justify;"><i>Grupo de estudos online sobre uma introdução à Fenomenologia:</i></div><div style="text-align: justify;"><div><div><br /></div><div>Este grupo de estudos se propõe a apresentar, de forma acessível, a perspectiva da <b>fenomenologia </b>enquanto uma atitude ou disposição ante ao fenômeno, que não busca teorizar ou interpretar, mas descrever e compreender suas particularidades, assumindo uma perspectiva crítica e questionadora.</div><div><br /></div><div>Destinado à estudantes de ciências humanas, de psicologia, psicólogos ou entusiastas pelo tema, que tenham interesse pela abordagem fenomenológica.</div><div><br /></div><div>Todos os encontros acontecem <b>online </b>conforme as datas e horários descritos abaixo. Não é necessário ter uma formação específica para participar. Os encontros são abertos tanto a profissionais e estudantes de psicologia quanto aos demais interessados nas temáticas. Cada encontro é gravado, a gravação é enviada aos participantes um dia após cada encontro.</div></div><div><br /></div></div><p></p><h3 style="text-align: justify;"><b style="font-size: medium;">Datas e temas:</b></h3><p></p><div style="text-align: justify;"><div><b>06/Mar</b>: Introdução à Fenomenologia</div><div><b>13/Mar</b>: Contextualização e crise das ciências</div><div><b>20/Mar</b>: Fenomenologia e mundo-da-vida</div><div><b>27/Mar</b>: Conceitos de Fenomenologia</div></div><div style="text-align: justify;">(quartas-feiras)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div><div><h3><b style="font-size: medium;">Horário e valor:</b></h3></div><div><b>Horário</b>: 19h às 20h30 (fuso horário de Brasília)</div><div><b>Inscrição</b>: R$ 120 (todos os encontros)</div><div><br /></div><div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://forms.gle/3srEV6d9fmGstDoc8" rel="nofollow" target="_blank"><img border="0" data-original-height="44" data-original-width="240" height="44" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgDK46zqmAR_p9LB43iOl7aKZBJ8qmWM_IalNwL7eAlN60m4jeZyM1jvxNVxjyhlOg68CjJdY3yn7fwmLkL6DgJxzNfrlKAClFZt8ttO_37vRujuwUgVemhmI_-u0w-1_zb05DNqkgGJXoSHG98KDN8_9wusSB8LEZR-RtY7tk31XSdtZOQAK_LLOyb" style="color: #0000ee; font-family: Tinos;" width="240" /></a></div></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></div></div><div style="text-align: left;"><h3 style="text-align: justify;"><b style="font-size: medium;">Condutores:</b></h3><div style="text-align: justify;"><a href="https://draft.blogger.com/#"><b>Bruno Carrasco</b></a>, professor de filosofia e psicologia, terapeuta, questionador, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em psicoterapia fenomenológico existencial, ensino de filosofia e aconselhamento filosófico.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Eduardo Ziegler</b>, psicólogo clínico, cabeludo e entusiasmado. Realizo psicoterapia através da gestalt-terapia, me especializando na área das psicopatologias de base fenomenológica e amplo interesse na filosofia heideggeriana da qual sofro influência.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Veronica Furini</b>, psicóloga e pesquisadora. Graduada em Psicologia e mestranda na mesma área. Realizo psicoterapia de base fenomenológico-existencial, presto apoio em pesquisa, escrita científica e estudos nas seguintes áreas: fenomenologia, existencialismo, gênero & álcool e drogas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div></div><div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><h3><b style="font-size: medium;">Formato:</b></h3></div><div style="text-align: justify;">O grupo de diálogos acontece online, via <a href="https://meet.google.com/" target="_blank">Google Meet</a>, onde é possível participar por vídeo ou áudio. Em cada encontro será utilizado um texto como referência, enviado previamente via e-mail, o texto é uma sugestão de leitura, não obrigatória. O grupo é um <b>espaço aberto</b> para a troca de entendimentos e perspectivas, não há necessidade de conhecimentos prévios para a participação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div><h3><b style="font-size: medium;">Referências bibliográficas:</b></h3></div><div><div>FONSECA RESENDE, G.; AKIRA GOTO, T. <u>Crise nas Ciências e na Psicologia: críticas de Edmund Husserl e de Farias Brito</u>. Saber Humano: Revista Científica da Faculdade Antonio Meneghetti, [S. l.], v. 13, n. 23, p. 191–218, 2023.<br />GUIMARÃES, A. C. <u>Uma aproximação aos conceitos básicos da fenomenologia</u>. Fenomenologia e Psicologia, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 138–148, 2013.<br />SILVA, J. M. DE O. E.; LOPES, R. L. M.; DINIZ, N. M. F.. <u>Fenomenologia</u>. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 61, n. 2, p. 254–257, mar. 2008. </div><div>STRUCHINER, Cinthia Dutra. <u>Fenomenologia: de volta ao mundo-da-vida</u>. Rev. abordagem gestalt., Goiânia, v. 13, n. 2, p. 241-246, dez. 2007.</div><div> </div></div></div></div><div><h3><b style="font-size: medium;">Observação:</b></h3></div><div>Após a inscrição você receberá em seu e-mail um link de convite para os encontros online e os textos referentes a cada encontro. Basta clicar no link para acessar o grupo no dia e horário combinado. Se tiver dúvidas, entre em <a href="https://www.ex-isto.com/p/contato.html" target="_blank">contato</a>.</div></div><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-56170794377042243642024-02-27T16:38:00.005-03:002024-02-28T11:00:18.526-03:00Catarse em Aristóteles<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoImdZT52M7Fbegzz2agFjN19YkNyE2DoChd-Rb6tqGM-LgoYekjZxq72jL_HD0NWUsIiBgaEMgJxvdB2LeJyMCp_M9mSMKyttkvDnEkHUd1cfJP9BuzmmtDRJQAuH4F7yvHruRX8WQVrUQlVEdlZ_VZZ2B_2tPeKvemKMldpLsVCeK76RTO6aKvfH_bo/s700/catarse-aristoteles.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="700" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoImdZT52M7Fbegzz2agFjN19YkNyE2DoChd-Rb6tqGM-LgoYekjZxq72jL_HD0NWUsIiBgaEMgJxvdB2LeJyMCp_M9mSMKyttkvDnEkHUd1cfJP9BuzmmtDRJQAuH4F7yvHruRX8WQVrUQlVEdlZ_VZZ2B_2tPeKvemKMldpLsVCeK76RTO6aKvfH_bo/s16000/catarse-aristoteles.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;"><b><a href="https://www.ex-isto.com/2022/01/aristoteles-filosofia.html" target="_blank">Aristóteles</a></b> (384-322 a.C.), em sua obra "Poética", introduz um conceito poderoso e profundo: a catarse. Para ele, a catarse é um processo de purificação da alma por meio da vivência de intensas emoções diante de uma manifestação artística, como um drama ou uma tragédia. Por meio desta experiência estética, o espectador é levado a confrontar aspectos profundos de sua própria existência.</p><p style="text-align: justify;">A palavra "<b>catarse</b>" tem sua origem no grego, vem de <i>kátharsis</i>. A obra de arte, segundo Aristóteles, não é apenas um objeto passivo a ser contemplado, mas algo que deve ser consumido e apropriado por um sujeito. Assim, a catarse não se trata apenas de um fenômeno externo, mas prioritariamente de uma experiência interna, que ocorre dentro do indivíduo que se entrega à experiência artística.</p><p style="text-align: justify;">Trata-se de uma <b>libertação</b> do que é estranho à essência ou à natureza de uma coisa, que a perturba ou corrompe. Em Platão, este termo tem um sentido moral e metafísico. Aristóteles utilizou a catarse em seu sentido médico de purificação ou purgação, tendo o sentido de uma purgação de resíduos corporais que o organismo procede para evitar que adoeça.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"Regra da catarse (purificação): a tragédia tem uma finalidade educativa e formadora do caráter e das virtudes, por isso deve suscitar no espectador paixões que imitem (simulem e emulem) as que ele sentiria se, de fato, os acontecimentos trágicos acontecessem e deve, a seguir, oferecer remédios para essas paixões, fazendo o espectador sair do teatro emocionalmente liberado ou no goerno de suas emoções. O espectador deve aprender, pela imitação (isto é, pelo espetáculo oferecido), o bem e o mal das paixões, o que podem fazer de terrível ou benéfico para os humanos."<br />(Chauí, em 'Introdução à História da Filosofia', 485-486p.)</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Enquanto <b>fenômeno estético</b>, a catarse possibilita uma libertação e a purificação dos afetos. Não há diferença, em Aristóteles, entre o significado da catarse estética e médica ou moral, sendo ambas uma espécie de tratamento das afecções (físicas ou espirituais) que não as anula, mas as reduz para dimensões compatíveis com a razão.</p><div style="text-align: justify;">Quando se vivencia uma <b>tragédia</b>, por exemplo, o espectador é confrontado com as vicissitudes dos personagens, com suas questões pessoais e lutas internas. Essas emoções intensas despertam um processo de purificação da alma, levando o espectador a refletir sobre sua própria vida e suas escolhas. A obra de arte, assim, torna-se um espelho no qual o espectador pode se enxergar de uma maneira mais clara e profunda.</div><p style="text-align: justify;">A <b>catarse</b>, portanto, não é apenas um entretenimento passageiro, mas um processo que possibilita uma revisão da própria existência. Ao questionar como estamos conduzindo nossas vidas, somos confrontados com nossos medos, desejos e conflitos internos. Nesse sentido, a catarse é um convite à autoconsciência e à autotransformação.</p><p style="text-align: justify;">Além disso, a catarse não se limita apenas ao momento da experiência artística. Ela pode ter efeitos amplos na vida do espectador, modificando sua existência em vários aspectos. Ao <b>liberar emoções reprimidas</b> e confrontar aspectos obscuros de si mesmo, o espectador se torna mais consciente de suas próprias possibilidades de vida.</p><p style="text-align: justify;">Enfim, a catarse é um processo profundo e <b>transformador</b>, que possibilita ao espectador vivenciar intensas emoções e liberar potencialidades latentes em sua própria existência. Ao consumir e se apropriar da obra de arte, o sujeito é levado a uma jornada interior que pode alterar sua percepção de si mesmo e suas relações com o mundo.</p><p style="text-align: justify;"><br />Por <a href="https://www.ex-isto.com/p/bruno-carrasco.html" target="_blank">Bruno Carrasco</a>, terapeuta e professor, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico-existencial e aconselhamento filosófico. Possui interesse na filosofia antiga e contemporânea, em distintas perspectivas de psicologia e autores como Friedrich Nietzsche, Michel Foucault e Gilles Deleuze.</p><p style="text-align: justify;">Referências:<br />ABBAGNANO, Nicola. <u>Dicionário de filosofia</u>. São Paulo: Martins Fontes, 2007.<br />CHAUÍ, Marilena. <u>Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos à Aristóteles</u>, volume 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.<br />DRUCKER, Claudia Pellegrini. <u>Estética</u>. Florianópolis: Filosofia/EAD/UFSC, 2009.</p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-9633350824199099602024-02-07T21:02:00.005-03:002024-02-07T21:02:52.354-03:00Capitalismo que explora as emoções<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXxkF24j8IstcOBbItjIBbCWol6aGnoRh3pNGlRoN7wHY0c9lLs8XVaWwGQGn8bVLMsQXZ6IXTovxhXlpGJ_ANEy9LI4F1jstobcw2VgIDclbqPhE_kcPzdMXxYm68Au2GNAezbPHALnLrcD6PnX_bw6VtHip9E_WCXuIM0T8BANOHSmQFgBQAUyFQ9h8/s700/capitalismo-da-emocao-byung-chul-han.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="397" data-original-width="700" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXxkF24j8IstcOBbItjIBbCWol6aGnoRh3pNGlRoN7wHY0c9lLs8XVaWwGQGn8bVLMsQXZ6IXTovxhXlpGJ_ANEy9LI4F1jstobcw2VgIDclbqPhE_kcPzdMXxYm68Au2GNAezbPHALnLrcD6PnX_bw6VtHip9E_WCXuIM0T8BANOHSmQFgBQAUyFQ9h8/s16000/capitalismo-da-emocao-byung-chul-han.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;">Atualmente vivemos o tempo de um capitalismo que transcende as condições materiais e se apropria dos pensamentos, das emoções, dos discursos e da psiquê. O filósofo sul-coreano Byung Chul-Han, chama de "<b>capitalismo da emoção</b>", que captura nossos afetos e sentimentos.</p><p style="text-align: justify;">Este modelo de capitalismo que nos atravessa é caracterizado por seu dinamismo e efemeridade, <b>se apropriando dos instantes</b>, onde as atividades se tornam, em sua maioria, meramente performáticas, realizadas não apenas pela atividade em si, mas simplesmente para serem vistas e reconhecidas.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"A emoção é dinâmica, situacional e performativa. O capitalismo da emoção explora exatamente essas características."<br />(Han, em 'Psicopolítica', p.61)</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Esta prática <b>transforma as emoções em capital</b>, deixando para trás a antiga ideia de valor de uso. Agora, o valor emotivo e de culto tornam-se fundamentais para a economia do consumo. A alienação, disciplinarização e o psicopoder são ferramentas usadas para manipular as emoções, transformando estas em recursos para aumentar a produtividade, a otimização e o desempenho das pessoas.</p><p style="text-align: justify;">O <b>neoliberalismo</b> atual se apresenta como o estágio mais avançado desse capitalismo da emoção, onde os sentimentos são associados a noção de liberdade. Ser livre, nesse contexto, é entendido como deixar que as emoções fluam livremente, mas essa liberdade é paradoxal, pois sua prática está associada à exploração de si e ao consumo excessivo, sem avaliar suas consequências.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"O regime neoliberal emprega as emoções como recursos para alcançar mais produtividade e desempenho."<br />(Han, em 'Psicopolítica', p.65)</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">A flexibilidade e a adaptabilidade às necessidades do mercado são valores imperativos de nosso tempo. Isso se converte, de certo modo, a uma <b>ditadura da emoção</b>, que substitui o consumo de coisas e objetos pelo consumo de emoções. Não consumimos mais objetos e serviços, mas consumimos as emoções associadas a esses objetos e serviços, inaugurando um novo mercado amplo para consumo.</p><p style="text-align: justify;">O ambiente de trabalho não se exige apenas as competências cognitiva, ou uma quantidade de conhecimentos específicos, mas prioritariamente as competências emocionais. O <b>gerenciamento das emoções</b> torna-se uma necessidade, substituindo o gerenciamento de comportamentos. Treinadores motivacionais visam gerar emoções positivas, transformando as emoções em ferramentas de controle.</p><p style="text-align: justify;">Vivemos sob o tempo de trabalhar sob pressão interna, somos constantemente estimulados a sermos resilientes, superar obstáculos, alcançar metas, ter proatividade e não perder o foco. O <b>treinador emocional</b> é aquele que gerencia as emoções em favor das "emoções positivas", entendidas como aquelas que servem ao mercado e ao sistema vigente. Neste contexto, todas as emoções que não são consideradas positivas devem ser descartadas.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"O capitalismo do consumo, além disso, introduz emoções para criar necessidades e estimular a compra. O emotional design molda emoções e padrões para maximizar o consumo. Hoje, em última análise, não consumimos coisas, mas emoções. Coisas não podem ser consumidas infinitamente, mas emoções sim. Emoções se desdobram para além do seu valor de uso. Assim, inaugura-se um novo e infinito campo de consumo."<br />(Han, em 'Psicopolítica', p.66)</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Ocupar das emoções se tornou um mecanismo muito mais eficiente de <b>controle psicopolítico</b> do que se ocupar meramente dos comportamentos. A "gamificação do trabalho" é uma estratégia adotada pelo capitalismo da emoção para aumentar a produtividade, que transforma o ambiente de trabalho num jogo, com sistemas de recompensas para estimular o desempenho e aumentar o rendimento.</p><p style="text-align: justify;">Assim, o capitalismo busca envolver os trabalhadores de maneira mais psíquica do que apenas suas funcionalidade ou cognição. O <b>tempo livre </b>também é explorado, passa a ser considerado um momento para o aprimoramento do indivíduo, que deve se ocupar da alimentação adequada, exercícios físicos regulares, arrumar a casa, ter um hobby. Enfim, tudo é capturado pelo capitalismo da emoção.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"O jogador com suas emoções está muito mais envolvido do que um trabalhador meramente funcional ou que atua apenas no nível racional."<br />(Han, em 'Psicopolítica', p.69)</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">O <b>consumo excessivo </b>se torna uma falta de liberdade, pois não há tempo para atividades que não estejam atreladas a lógica de produção, desenvolvimento e aprimoramento de si. Todas as outras atividades que não estejam no rol daquelas necessárias para o aprimoramento do indivíduo são associadas a algo sem sentido e supérfluas, que não possuem finalidade e devem ser evitadas.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"O consumo excessivo é uma falta de liberdade."<br />(Han, em 'Psicopolítica', p.73)</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Uma liberdade mais genuína talvez seja aquela que permita fazer uso do que é considerado inutilizável, habilitar o que é sem sentido, que não vise um desempenho, deixando de lado essa vigilância contra nós mesmos, nos libertando dessas formas de subjetivação já engessadas, criando <b>espaço para rupturas e imprevisibilidades</b>, possibilitando novas configurações e outros modos de vida possíveis.</p><p style="text-align: justify;"><br />Por <a href="https://www.ex-isto.com/p/bruno-carrasco.html" target="_blank">Bruno Carrasco</a>, terapeuta e professor, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico-existencial e aconselhamento filosófico. Possui interesse na filosofia antiga e contemporânea, em distintas perspectivas de psicologia e autores como Friedrich Nietzsche, Michel Foucault e Gilles Deleuze. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.</p><p style="text-align: justify;">Referência:<br />HAN, Byung-Chul. <u>Psicopolítica</u>: o neoliberalismo e as novas técnicas de poder. Tradução: Maurício Liesen. Belo Horizonte: Âyné, 2020.</p><p></p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-71099154953502850772024-01-25T01:57:00.053-03:002024-01-27T11:45:37.137-03:00Arqueologia em Foucault<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHF8X8OlbFmm4EqTVtUw-zp7nc37HBqBflx8dKLQtKwoDvzsJdJUKN3l5dPjoBQmRX_OS-RyS9VVFv04fjm_v8wc8JbfVtnZTJ67nW9Si9qwoLvO9H6C9Higk7nuE8xpf-Mj8KJOa4k69ATqR50GZdiCJPcygpOP_y6UpHaRz9wiVirCpaSgsJ2M8wKII/s1199/foucault-arqueologia.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="701" data-original-width="1199" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHF8X8OlbFmm4EqTVtUw-zp7nc37HBqBflx8dKLQtKwoDvzsJdJUKN3l5dPjoBQmRX_OS-RyS9VVFv04fjm_v8wc8JbfVtnZTJ67nW9Si9qwoLvO9H6C9Higk7nuE8xpf-Mj8KJOa4k69ATqR50GZdiCJPcygpOP_y6UpHaRz9wiVirCpaSgsJ2M8wKII/s16000/foucault-arqueologia.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;">A <b>arqueologia</b>, segundo Foucault, é um método de análise que busca descrever as condições históricas dos saberes e práticas, destacando suas relações com as disposições de seu tempo. Seu intuito é evidenciar o modo como as condições culturais e as configurações de um período específico possibilitam a emergência de determinados saberes e enunciados. A arqueologia analisa o modo como os discursos se constituem em meio a premissas historicamente determinadas e como são usados para justificar e legitimar práticas.</p><p style="text-align: justify;"><b>Michel Foucault</b> (1926-1984) produziu uma ampla e complexa obra, que perpassa e relaciona diversos temas, como a filosofia, a história, a medicina, a psiquiatria, o direito e as artes. Em suas pesquisas adotou diferentes abordagens para compreender as dinâmicas dos saberes, dos poderes e das práticas de si. O método arqueológico se faz presente em suas primeiras obras: "História da Loucura na Idade Clássica" (1961), "O Nascimento da Clínica" (1963), "As Palavras e as Coisas" (1966) e "A Arqueologia do Saber" (1969).</p><p style="text-align: justify;">Sua <b>arqueologia</b> não se ocupa da escavação de ruínas, mas da análise dos sistemas discursivos e das práticas que constituem e habilitam os saberes e as disposições de uma época específica, revelando as condições de possibilidade históricas para a emergência de entendimentos e práticas. A análise arquelógica desenterra as camadas dos saberes, buscando compreender seus fundamentos e condições de aparição, por meio da análise de documentos, textos e discursos, abrangendo tanto o discursivo quanto o não discursivo.</p><p style="text-align: justify;">O <b>método arqueológico</b> analisa os saberes a partir de sua constituição histórica, visando compreender o modo como cada discurso se constituiu, se estabeleceu e se transformou. Essa metodologia é utilizada para analisar as formações discursivas que configuram os entendimentos e as disposições de diferentes épocas e culturas, investigando como as precondições históricas influenciam a produção, disseminação e legitimação de certos saberes, e a consequente exclusão de outros.</p><div style="text-align: justify;"><blockquote>"A arqueologia tem por objetivo descrever conceitualmente a formação dos saberes, sejam eles científicos ou não, para estabelecer suas condições de existência, e não de validade, considerando a verdade como uma produção histórica cuja análise remete a suas regras de aparecimento, organização e transformação no nível do saber."<br />(Roberto Machado, em 'Foucault, a ciência e o saber')</blockquote></div><div style="text-align: justify;"></div><p></p><p style="text-align: justify;">Para Foucault, os saberes não se constituem numa trajetória linear no sentido de alcançar uma verdade, mas são resultantes de uma construção histórica, contextualmente situada. A arqueologia busca os vestígios dos <b>saberes e das práticas</b>, visando compreender como determinadas formas de conhecimento foram produzidas e legitimadas ao longo do tempo, mapeando uma época específica e identificando como distintas disciplinas e práticas se estruturaram e se relacionaram, sem a pretensão de apresentar um progresso a uma objetividade ou a uma ciência, mas descrevendo suas disposições momentâneas de saber.</p><p style="text-align: justify;">Neste sentido, a arqueologia se difere da epistemologia, da história das ciências ou das correntes filosóficas, pois não busca estabelecer uma relação causal de um discurso com o que o precede ou segue, nem procura encontrar uma unidade discursiva, mas se interessa justamente pela especificidade dos saberes e das práticas em sua singularidade. Enquanto método para <b>analisar discursos e práticas</b>, a arqueologia não é interpretativa, pois se fundamenta nos arquivos e formações discursivas inseridos em seus contextos, sejam em meio a instituições, processos econômicos ou práticas sociais.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"Uma arqueologia não é uma 'história', na medida em que, em se tratando antes de reconstituir um campo histórico, Foucault, na verdade, trabalha diferentes dimensões (filosófica, econômica, científica, política, etc.) com o propósito de obter as condições de emergência dos discursos do saber em geral em uma dada época."<br />(Judith Revel, em 'Dicionário Foucault')</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: start;">Ao invés de estudar a história das ideias, como se estas se formassem a partir de uma unidade discursiva, seguindo uma evolução cumulativa, a arqueologia reconhece que <b>os saberes se configuram de maneira fragmentada </b>e dispersa. Partindo deste entendimento, realiza um recorte horizontal dos acontecimentos discursivos, dos saberes locais e suas relações de poder, concentrando-se em recortes históricos específicos, com o intuito de descrever o modo como os saberes se correlacionam entre si numa configuração epistêmica.</span></p><p style="text-align: justify;">Foucault utiliza a noção de "<b>episteme</b>" para se referir às condições de possibilidade para a produção de conhecimentos numa dada época. A episteme consiste num conjunto de regras e códigos fundamentais de uma cultura, que determina quais enunciados são considerados verdadeiros, quais práticas são aceitas e como o saber é organizado em cada período. Por meio da arqueologia, é possível revelar as transformações nas epistemes ao longo do tempo, destacando as condições que possibilitam os saberes, compreendendo como se configuraram, se alteraram e influenciaram os discursos e as práticas.</p><p style="text-align: justify;">A <b>análise arqueológica</b> de Foucault abrange tanto os discursos quanto as práticas sociais, entendendo que ambos acontecem em relação. Não há separação entre discursos e práticas, pois ambos mantêm conjuntamente as relações entre saberes e poderes de um grupo social, de um período específico. Ao desvendar os discursos, a arqueologia também descreve as práticas que os acompanham, revelando como instituições e sujeitos agem em conformidade com as normas estabelecidas de um saber vigente.</p><p></p><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>"Foucault pretende analisar acontecimentos. Suas perguntas não se dirigem às totalidades abrangentes, mas à singularidade, às raridades. Suas problemáticas são do tipo: por que suscitaram em determinada época (e lugar) estes enunciados e não outros? Que condições de possibilidade colaboraram para que emergissem certos acontecimentos discursivos? Quais foram as condições de possibilidade históricas que produziram determinados saberes?"<br />(Esther Díaz, em 'A filosofia de Michel Foucault')</blockquote></div><div style="text-align: justify;"></div><p></p><p style="text-align: justify;">Michel Foucault concebia a ciência não como uma verdade única e inquestionável, mas como um campo de produção discursiva com pretensão de verdade, onde seus discursos estão intrinsecamente ligados a interesses políticos, religiosos, culturais e econômicos, em estreita relação com as práticas. Em suas obras, ele evidenciou a <b>condição histórica e contingente dos saberes</b>, das relações de poder e das práticas de si, destacando os elementos implícitos nos saberes e práticas.</p><p style="text-align: justify;">Deste modo, buscou compreender as condições históricas que possibilitam a constituição dos saberes e entendimentos de cada época, de suas disposições e práticas, reconhecendo que os saberes são resultantes de contingências e uma variedade de elementos situados e contextualizados historicamente. Portanto, a ciência não faz descobertas sobre as coisas e os seres, mas cria discursos com pretensão de "verdade", permeados por interesses morais, culturais, econômicos e políticos.</p><p style="text-align: justify;">Nem todos os fundamentos das teorias científicas são estritamente científicos, muitos são configurados por disposições sociais e culturais, hábitos e costumes de uma época. A ciência se constitui por saberes que são exteriores a ela. Assim, a arqueologia rompe com a noção de uma história cumulativa e continuísta das ciências, rompe com a perspectiva dialética e com as concepções de verdade "essencial" ou "natural", entendendo que <b>a história de uma ciência não é linear</b> e contínua, mas atravessada por exigências, coerções, rupturas, acidentes, desvios, recortes e crises.</p><p style="text-align: justify;">Por meio da pesquisa arqueológica é possível tomar contato com as <b>condições de enunciação dos discursos</b> e de sua eleição como verdadeiros ou falsos. A análise arqueológica reconhece que existem condições históricas que possibilitam a constituição de saberes e verdades, que estão vinculadas às convenções e normativas de seu tempo. Dessa forma, compreende que os saberes, a ciência e o que entendemos como "verdade" não se constitui por meio de saberes "neutros", mas são influenciados por práticas sociais, históricas e culturais.</p><div style="text-align: justify;"><blockquote>"Há condições de possibilidade que precedem o encontro do homem com a verdade. Cada época, cada cultura, cada episteme tem as suas. Elas são como o limite que marca quais enunciados podem ser considerados verdadeiros e quais enunciados nem sequer merecem ser considerados em um regime de verdade, inclusive nem para computá-los como falso. Essas condições esboçam o horizonte de aparecimento de verdades e, ainda, de falsidades. Aquilo que não está contido naqueles limites não ingressa na vontade de verdade do momento, é desvalorizado, ridicularizado, rejeitado."<br />(Esther Díaz, em ‘A filosofia de Michel Foucault’)</blockquote></div><div style="text-align: justify;"></div><p></p><p style="text-align: justify;">Em "<b>A História da Loucura</b>", Foucault utiliza a arqueologia para desafiar as concepções tradicionais sobre a loucura. Ele não apenas investiga os discursos que circundam a loucura, mas também examina as práticas institucionais que marginalizam e reprimem os indivíduos considerados loucos. A obra revela como a noção de loucura se transformou historicamente, sempre relacionada as transformações nas estruturas de poder e nos modos de saber.</p><p style="text-align: justify;">Colocando em questão os entendimentos e as disposições para com a loucura e o louco, Foucault mostra como as práticas sociais e são constituídas pelos discursos e saberes prévios que as sustentam e legitimam. A arqueologia da loucura revela as complexidades das relações entre saber, poder e normatividade, destacando a arbitrariedade das categorias que rotulam e excluem certos grupos sociais, utilizando rótulos de loucos ou doentes mentais.</p><p style="text-align: justify;">A relação entre discursos e práticas é evidente em obras como "<b>O Nascimento da Clínica</b>", onde Foucault analisa a transformação das práticas médicas e a emergência da medicina clínica. Sua arqueologia da clínica destaca como os discursos médicos foram reconfigurados, influenciando diretamente as práticas de diagnóstico, tratamento e inclusive a relação médico-paciente.</p><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>"Uma análise arqueológica, tal como proposta por Foucault, toma os discursos na sua exterioridade, buscando conhecer suas condições históricas de possibilidade. (...) trata-se de fazer um corte transversal num campo discursivo para analisar os monumentos, as peças históricas ali encontradas e buscar compreender como elas se relacionam. (...) ela se refere aos discursos como produções históricas."<br />(Kleber Filho, ‘Para uma arqueologia da psicologia’, em 'Foucault e a Psicologia')</blockquote></div><div style="text-align: justify;"></div><p style="text-align: justify;">A obra "<b>As Palavras e as Coisas</b>" oferece uma crítica aos fundamentos do pensamento ocidental, apresentando uma análise das transformações nas ciências humanas ao longo da história, revelando como diferentes épocas organizaram e classificaram o conhecimento de maneiras distintas. Foucault examinou as mudanças nas formas de conhecimento, linguagem e representação, demonstrando como as estruturas do saber estão relacionadas as configurações de poder.</p><p style="text-align: justify;">Em "<b>A Arqueologia do Saber</b>", Foucault propõe uma reflexão sobre sua própria prática arqueológica. Ele explora as condições de produção do conhecimento e as limitações inerentes à análise arqueológica. Ao fazer isso, reconhece a inevitabilidade de sua própria posição no jogo de poder e saber que investiga. A arqueologia do saber torna-se, assim, uma autoconsciência crítica, um convite à reflexão sobre as condições de possibilidade de qualquer discurso.</p><p style="text-align: justify;">A noção de arqueologia na obra de Michel Foucault oferece um método para a compreensão das relações entre conhecimento, poder, discursos e práticas, desenterrando as camadas de significado histórico e revelando as condições de possibilidade para a emergência de determinados saberes e práticas. Essa abordagem crítica nos permite compreender melhor o modo como os saberes são constituídos, colocando em questão as estruturas que configuram nossa compreensão de mundo.</p><p style="text-align: justify;"><br />Por <a href="https://www.ex-isto.com/p/bruno-carrasco.html" target="_blank">Bruno Carrasco</a>, terapeuta e professor, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico-existencial e aconselhamento filosófico. Possui interesse na filosofia antiga e contemporânea, em distintas perspectivas de psicologia e autores como Friedrich Nietzsche, Michel Foucault e Gilles Deleuze. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.</p><p style="text-align: justify;"><br />Referências:<br />CASTRO, Edgardo. <u>Introdução a Foucault</u>. Belo Horizonte: Autentica Editora, 2014.<br />CASTRO, Edgardo. <u>Vocabulário de Foucault</u>. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.<br />DÍAZ, Esther. <u>A filosofia de Michel Foucault</u>. São Paulo: Editora Unesp, 2012.<br />GUARESCHI; HÜNING; FERREIRA [et al.]. <u>Foucault e a Psicologia</u>. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2014.<br />MACHADO, Roberto. <u>Foucault, a Ciência e o Saber</u>. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.<br />REVEL, Judith. <u>Dicionário Foucault</u>. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011.<br /></p><p></p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-66539636186328115852023-12-02T07:17:00.043-03:002023-12-02T14:02:44.080-03:00Perspectiva crítica em Psicologia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTGfarFFs4dcmfIAbkhBejtyINNp66jNsnvQL2Mh91unoqkCCDfKFkIG9ASHhtIJjJIPjmGPmIgmqEqCHI4L03n5SUJqMdZvtXTucQaeg25nUHYUmSaNHmyQtXkorDR3_t-vxiN7kN8Ldc_mMjf81bfE_OSL5OhdeELdYNRoJymkrm35HibTbvt3G8hR8/s1199/psicologia-perspectiva-critica.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="671" data-original-width="1199" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTGfarFFs4dcmfIAbkhBejtyINNp66jNsnvQL2Mh91unoqkCCDfKFkIG9ASHhtIJjJIPjmGPmIgmqEqCHI4L03n5SUJqMdZvtXTucQaeg25nUHYUmSaNHmyQtXkorDR3_t-vxiN7kN8Ldc_mMjf81bfE_OSL5OhdeELdYNRoJymkrm35HibTbvt3G8hR8/s16000/psicologia-perspectiva-critica.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;">A <b><a href="https://www.ex-isto.com/search/label/Psicologia%20Cr%C3%ADtica">perspectiva crítica em psicologia</a></b> propõe uma postura reflexiva e questionadora, problematizando os saberes e práticas da disciplina. Este olhar crítico não apenas repensa a atuação dos psicólogos no âmbito individual e coletivo, mas também revisita a própria constituição da psicologia enquanto ciência.</p><p style="text-align: justify;">Pensar criticamente a psicologia implica em <b>questionar como a psicologia atua</b> e elabora suas teorias, constatando as condições históricas, sociais e culturais da produção de seus saberes e de suas intervenções, entendendo esta ciência como uma técnica de poder e de manutenção social, que estabelece um controle sobre a subjetividade das pessoas e seus modos de vida.</p><p style="text-align: justify;">Ao questionar as bases epistemológicas da psicologia, a perspectiva crítica busca desvelar os interesses ocultos por trás de seus saberes e práticas, revelando as <b>influências econômicas, morais, políticas e ideológicas</b> que permeiam a disciplina. Longe de ser uma ciência "neutra" a psicologia é compreendida como uma técnica de poder, que exerce um controle psicopolítico sobre os sujeitos.</p><p style="text-align: justify;">Na atualidade, a psicologia assumiu a pretensão de dizer a "verdade" sobre as pessoas, sobre suas questões mais íntimas e subjetivas, <b>normalizando condutas e modos de vida</b>, encaixando no paradigma do "saudável". A busca do "saudável" se alinha com o considerado "adequado" socialmente, apresentando modelos de criação de filhos, superação de crises, enfrentamento de traumas e relações no trabalho.</p><p></p><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>"A Psicologia para mim, hoje, não passa de um ramo da Política. Um ramo ou aliado poderoso que, aliás, vem servindo à manutenção dos sistemas autoritários, fingindo ser uma ciência apolítica e independente."<br />(Roberto Freire, em 'Soma: uma terapia anarquista')</blockquote></div><div style="text-align: justify;"></div><p></p><p style="text-align: justify;">Fazer <b>crítica em psicologia</b> consiste em questionar os fundamentos epistemológicos da disciplina, sejam estes científicos ou não, refletindo sobre as condições de produção de seus saberes e práticas, fazendo emergir os intuitos disciplinares, sociais e morais presentes nas teorias e intervenções práticas, visando repensar a psicologia a partir de outras perspectivas, como a filosofia, a sociologia e a antropologia.</p><p style="text-align: justify;">Entre as <b>precondições teóricas</b>, econômicas e culturais para a emergência da psicologia enquanto ciência estão o <a href="https://www.ex-isto.com/2020/07/mecanicismo-psicologia.html" target="_blank">mecanicismo</a>, a <a href="https://www.ex-isto.com/2019/08/filosofia-moderna.html" target="_blank">ciência moderna</a>, o materialismo, o <a href="https://www.ex-isto.com/2019/10/racionalismo-e-empirismo.html" target="_blank">empirismo</a>, o <a href="https://www.ex-isto.com/2022/12/positivismo.html" target="_blank">positivismo</a>, o capitalismo, a fisiologia e o <a href="https://www.ex-isto.com/2020/08/psicologia-poder-disciplinar.html" target="_blank">poder disciplinar</a>, convergindo, no final do século XIX, para a organização de uma força de trabalho organizada e de um procedimento escolar disciplinado para conduzir as crianças adequadamente.</p><p style="text-align: justify;">No início do século XX, a psicologia se dedicou a elaborar <b>teorias da aprendizagem e testes avaliativos</b> para a prática escolar e do trabalho. Suas teorias se direcionaram para a necessidade de organizar a força de trabalho nas fábricas e as crianças nas escolas. Partindo de uma perspectiva adaptativa, a psicologia passou a avaliar as pessoas a partir do nível de inadaptação ao campo social, diagnosticando e categorizando os "inadequados" socialmente.</p><p></p><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>"Quem são, porém, as pessoas sadias? Como se definem a si próprias? As definições de saúde mental propostas pelos especialistas usualmente correspondem à noção de conformismo a um conjunto de normas sociais mais ou menos arbitrariamente pressupostos."<br />(David Cooper, em 'Psiquiatria e Antipsiquiatria')</blockquote></div><div style="text-align: justify;"></div><p></p><p style="text-align: justify;">A psicologia se iniciou como um <b>dispositivo para "ajustar" e "adaptar"</b> as pessoas na escola e no trabalho, sustentando suas práticas por meio das técnicas, dos exames e dos testes psicológicos. O padrão de normalidade foi estabelecido a partir da capacidade de adaptação social de uma pessoa, e sua disposição ao trabalho. A finalidade da psicologia institucionalizada era eliminar as diferenças e a improdutividade, por meio de métodos e embasamentos ditos "científicos".</p><p style="text-align: justify;">Há uma relação intrínseca entre a <b>psicologia, capitalismo e neoliberalismo</b>, evidenciada na forma como suas intervenções atuam em favor dos interesses dos grupos economicamente dominantes. A psicologia contribuiu para a ampliação da capacidade produtiva dos trabalhadores, conduzindo as crianças para o aprendizado, selecionando indivíduos "certos" para os lugares "certos", promovendo uma higienização moral da sociedade, por meio de um controle ao nível comportamental.</p><p style="text-align: justify;">Entre as características da perspectiva que se tornou hegemônica na psicologia estão a <b>análise do indivíduo separado do social</b>, centrando nele as patologias e os transtornos psíquicos; um olhar adaptativo, avaliando o indivíduo a partir de sua inadaptação ao campo social; e uma busca de identificar "transtornos" nas pessoas inadaptadas ou diferentes do grupo social.</p><p style="text-align: justify;">As práticas diagnósticas <b>assujeitam as pessoas</b> a partir das "verdades psicológicas", conduzindo modos de vida sustentados por discursos normativos, que operam enquadrando as pessoas segundo os padrões de normalidade ou anormalidade, adequado ou inadequado, apto ou inapto. Estamos caminhando cada vez mais para uma psicologia que não pensa, que não reflete sobre suas teorias, que apenas reproduz técnicas sem questionar.</p><p></p><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>"(...) nossas construções ideais de saúde e de normalidade em geral abrigam valores morais da cultura dominante da sociedade (...) O problema maior está em que não temos assumido essa adesão. Temos apontado esses valores e referências como naturais do homem; como universais."<br />(Ana Bock, em 'Psicologia Sócio-Histórica')</blockquote></div><div style="text-align: justify;"></div><p></p><p style="text-align: justify;">A <b>psicologia científica</b> passou a conceber o fenômeno psicológico como algo descolado da realidade vivencial da pessoa. Depressão, ansiedade, burnout e pânico, são entendidos como algo que “acontece” no interior da pessoa, como uma doença ou um vírus, mas que a pessoa não possui controle sobre. Não se questiona as condições de emergência desses estados psíquicos.</p><p style="text-align: justify;">Esta percepção do fenômeno psicológico permeia a perspectiva positivista de psicologia, ocultando suas origens sociais, históricas e contextuais. Com isso, transforma todos os diferentes, peculiares e excêntricos em portadores de um "transtorno" ou "patologia" que deve ser corrigida e tratada. A noção de tratamento implica num "ajustamento social", portanto sua atuação não visa necessariamente a saúde das pessoas, mas seu ajustamento moral, realizando assim seu <b>projeto normalizador</b>.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"O diferente passa a ser combatido; visto como crise, como desajuste ou desequilíbrio; passa a ser 'tratado', com a finalidade do retorno à condição saudável e natural do homem. A Psicologia torna-se assim uma profissão conservadora que trabalha para impedir o surgimento do novo."<br />(Ana Bock, em 'Psicologia Sócio-Histórica')</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Uma perspectiva crítica desafia o discurso dominante, que busca "normalizar" condutas e modos de vida, ocultando as condições econômicas, sociais e culturais nas quais as pessoas estão inseridas. A crítica também pretende <b>despatologizar as diferenças</b>, reconhecendo que o fenômeno psicológico é resultante das relações sociais e históricas, que precisa ser compreendido de maneira ampla e contextualizada.</p><p style="text-align: justify;">Deste modo, a perspectiva crítica em psicologia se apresenta um convite à reflexão, colocando em questão as verdades estabelecidas, considerando as <b>implicações políticas e sociais das práticas psicológicas</b> para buscar novos meios de cuidado do sofrimento emocional. Não se trata apenas de um questionamento meramente teórico, mas uma abertura para outras maneiras possíveis de se compreender e lidar com a complexidade da experiência humana, mais respeitosas e libertárias.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Por <a href="https://www.ex-isto.com/p/bruno-carrasco.html" target="_blank">Bruno Carrasco</a>, terapeuta, professor e questionador, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico existencial e aconselhamento filosófico. Nos últimos anos se dedica a filosofia da diferença e psicologia crítica.</p><p></p><div style="text-align: justify;">Referências:<br /><div>BOCK; GONÇALVES; FURTADO (orgs.). <u>Psicologia Sócio-Histórica</u>: uma perspectiva crítica em psicologia. São Paulo: Cortez, 2001.</div><div>COOPER, David. <u>Psiquiatria e Antipsiquiatria</u>. Tradução: Regina Schnaiderman. São Paulo: Editora Perspectiva, 1982.</div><div>FREIRE, Roberto. <u>Soma - Uma terapia anarquista</u> - Vol. 2 - A arma é o corpo - Prática da Soma e Capoeira. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.</div><div>GUARESCHI; HÜNING; FERREIRA [et al.]. <u>Foucault e a Psicologia</u>. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2014.</div><div>HEATHER, Nick. <u>Perspectivas Radicais em Psicologia</u>. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977.</div></div><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-2232751273953435862023-12-01T14:25:00.035-03:002024-02-27T16:38:26.352-03:00Vontade criadora em Nietzsche<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjawpS_KM_O14BKHLmAYK0hi3klwd5tK00x0zGYYUO6Q_ORXIfDI8OAJV860w_3OC6JAzmz2-itWErR7qE4J988AI7NXJ-jJdz_6a_ZTRXaofF7Q28jXpwW_XuO5LcyHpcJn65dE814xDoyFRIo6rNWVZSGP_0iAMM9joeKCER5FO706rq6MVCAYxV8dhg/s1000/nietzsche-vida-criacao.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="618" data-original-width="1000" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjawpS_KM_O14BKHLmAYK0hi3klwd5tK00x0zGYYUO6Q_ORXIfDI8OAJV860w_3OC6JAzmz2-itWErR7qE4J988AI7NXJ-jJdz_6a_ZTRXaofF7Q28jXpwW_XuO5LcyHpcJn65dE814xDoyFRIo6rNWVZSGP_0iAMM9joeKCER5FO706rq6MVCAYxV8dhg/s16000/nietzsche-vida-criacao.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;">A filosofia de <a href="https://www.ex-isto.com/search/label/Nietzsche" target="_blank">Nietzsche</a> concebe a <b>vida como uma vontade criadora</b>, a partir de uma apreciação artística que entende a existência como um contínuo devir, em movimento e transformação. Contrário a busca da essência e do verdadeiro, sua perspectiva afirma a importância da multiplicidade, da transitoriedade e da aparência como elementos fundamentais da experiência humana.</p><p style="text-align: justify;">Segundo Nietzsche, a vida se desdobra numa alternância entre <b>criação e destruição</b>, alegria e sofrimento. Ele propõe a transmutação dos valores, para ir além das dicotomias convencionais de bem e mal. A vontade de potência, entendida como o princípio plástico das avaliações, representa a força criadora de novos valores, desafiando as forças de adaptação e conservação.</p><p style="text-align: justify;">A vida, para o filósofo alemão, é caracterizada como uma força criadora, uma <b>vontade de potência artística e plástica</b>, em processo e transformação constantes. Contrapondo-se à atitude conservadora, que busca estabilidade e permanência, a vontade criadora é constantemente autoinventora, privilegiando a atividade e a mudança em detrimento da manutenção.</p><p style="text-align: justify;">Seu propósito não é buscar verdades objetivas e absolutas, mas interpretar a realidade e avaliar segundo sua força, a partir do que amplia e potencializa a existência em contraste com o que a diminui e paralisa. O <b>perspectivismo nietzschiano</b>, expresso em sua máxima "não há fatos, apenas interpretações" se direciona para possibilidade de buscar interpretações mais salutares e interessantes.</p><p style="text-align: justify;">A noção de criar, derivada do latim "<i>creare</i>" sugere crescimento, desenvolvimento e geração. Para Nietzsche, criar é uma atividade contínua e ininterrupta de <b>produção da própria vida</b>, uma afirmação constante de novos modos de vida, transpondo valores e perspectivas. A vida é criação constante, não é algo dado, mas algo a ser criado. Sem criação não há nada.</p><p style="text-align: justify;">O ideal, para Nietzsche, é uma fraqueza que empobrece a existência, pois impede a capacidade de criar em favor da manutenção. A criação, em contrapartida, não se esgota num ato único, mas é uma atividade permanente, ela impede que a existência se fixe, evitando que se torne mera conservação. A <b>vontade criadora é contrária à vontade de permanência</b>, pois afirma o presente e se autoinventa constantemente.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"não há um ser por trás do fazer, do atuar, do devir; (...) a ação é tudo"<br />(Nietzsche, em Genealogia da Moral)</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Na filosofia nietzschiana se destaca o esquecimento, ressaltando a importância de deixar passar, esquecer, para que novas possibilidades surjam. O criador assimila o passado não para conservá-lo, mas para transfigurá-lo. A memória, sendo uma faculdade passiva e conservadora, é contrastada com a <b>força ativa e regeneradora do esquecimento</b>.</p><p style="text-align: justify;">A <b>vontade criadora</b>, para Nietzsche, é uma atividade que se relaciona com o devir, reconhecendo que não há começo nem fim, pois tudo está em constante criação e destruição. Ela se opõe ao pensamento conservador, valorizando o fluxo do tempo e da vida, libertando a existência do ressentimento e do desejo de vingança, característicos dos fracos.</p><p style="text-align: justify;">O criador não guarda para si o que cria, ele cria para destruir, para se possa criar outras coisas novamente. Quando criamos algo, isso não vai durar para sempre, pois a criação não é eterna, mas algo que o tempo vai se encarregar de destruir, para que novas criações sejam possíveis.</p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"></span></p><blockquote><span style="text-align: left;">"A criação intervém no presente, modifica o futuro e recria o passado."</span><br style="text-align: left;" /><span style="text-align: left;">(Rosa Dias, em 'Nietzsche, vida como obra de arte')</span></blockquote><span style="text-align: left;"></span><p></p><p style="text-align: justify;">Entre as características da vontade criadora estão tender a um aumento de potência, crescer e expandir-se, afirmando a temporalidade, num constante recomeçar. Por isso, ela precisa da destruição, pois <b>sem destruição não há criação</b>, a destruição é tão importante e necessária quanto a criação. A vida é entendida como algo que está sempre por fazer, nunca concluído, onde tudo está sujeito a se perder e a desfazer.</p><p style="text-align: justify;">Deste modo, a realidade é entendida como uma <b>constante mudança e transitoriedade</b>, rejeitando a noção de ser em favor da impermanência do devir. Afirmar o devir é afirmar o querer, dizendo sim à vida, reconhecendo que não há nada fixo, mas que sempre há algo para criar e destruir. O criar possibilita fazer as pazes com o presente, aceitando o acaso e encorporando a plasticidade artística na vida.</p><p></p><p style="text-align: justify;">Diferente do ressentido, que é o ser da memória, que não consegue se desembaraçar da vida, impedindo o desconhecido, o inesperado e sua capacidade criativa, o criador vive o esquecimento como uma <b>força ativa, regeneradora e curativa</b>, ele sabe esquecer, não leva muito a sério seus contratempos, cicatrizando suas feridas e reparando suas perdas, vivendo ativamente o presente.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"Um homem bem logrado advinha meios de cura contra danos, utiliza acasos ruins em sua vantagem: o que não o derruba torna-o mais forte. Está sempre em sua companhia, quer esteja com livros, homens ou paisagens."<br />(Nietzsche, em 'Ecce Homo')</blockquote><p></p><div style="text-align: justify;">Nietzsche propõe uma concepção de vida como uma vontade criadora, reconhecendo a <b>transitoriedade e a temporalidade</b> como aspectos intrínsecos da existência. A vontade criadora opera em favor do tempo, libertando o homem da fixidez, impulsionando a vida em direção a uma constante inconstância. A vontade criadora reconhece a transitoriedade da vida e se afirma nela.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><p>Por <a href="https://www.ex-isto.com/p/bruno-carrasco.html" target="_blank">Bruno Carrasco</a>, terapeuta, professor e questionador, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico existencial e aconselhamento filosófico. Nos últimos anos se dedica a filosofia da diferença e psicologia crítica.</p><p style="text-align: left;"></p><div>Referências:<br />DIAS, Rosa Maria. <u>Nietzsche, vida como obra de arte</u>. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.<br />GIACOIA JUNIOR, Oswaldo. <u>Nietzsche</u>. São Paulo: Publifolha, 2000.<br />MACHADO, Roberto. <u>Nietzsche e a Verdade</u>. 3 ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2017.<br />NIETZSCHE, Friedrich. <u>A Genealogia da Moral</u>. Petrópolis: Vozes, 2017.<br />NIETZSCHE, Friedrich. <u>Ecce Homo</u>. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.</div></div><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-64969467430504524232023-11-25T21:43:00.027-03:002023-12-03T22:54:47.931-03:00Autoinvestigação em Montaigne<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-2l50YXBpp9vgQgJBz26wwxP-5ceF_3-DcDVseCasTXMtezZc14UGGF827U3SIqS_MVP00mVHjvFeN9NdKL0wHA8nGEXi7yqGjEogbNQxqsywbi8WzxTbgEluwZMztr3zTPr6YJTsoDWklewe55sF7VoCu6AIXjHgB9YJrud2Q5jPvd_HKCrE-5B6NQQ/s1127/autoinvestigacao-montaigne.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="728" data-original-width="1127" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-2l50YXBpp9vgQgJBz26wwxP-5ceF_3-DcDVseCasTXMtezZc14UGGF827U3SIqS_MVP00mVHjvFeN9NdKL0wHA8nGEXi7yqGjEogbNQxqsywbi8WzxTbgEluwZMztr3zTPr6YJTsoDWklewe55sF7VoCu6AIXjHgB9YJrud2Q5jPvd_HKCrE-5B6NQQ/s16000/autoinvestigacao-montaigne.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;"><b>Michel de Montaigne</b>, foi um grande pensador do século XVI, tendo desempenhado um papel crucial na transformação do pensamento da época. Nascido em 1533, numa família nobre e se formado em Direito, dedicou-se à magistratura antes de se retirar para seu castelo em Montaigne, no sudoeste da França. Este filósofo, escritor e ensaísta francês viveu o período do Renascimento, da retomada do homem como centro do universo, e retomada da sabedoria clássica dos gregos antigos.</p><p style="text-align: justify;">O surgimento da imprensa contribuiu para a disseminação das ideias renascentistas, marcando uma era de valorização da razão e de seu uso para alcançar as verdades. Em sua obra mais conhecida, <b>"Os Ensaios"</b>, Montaigne abordou assuntos pessoais, cotidianos, políticos e filosóficos, inaugurando o ensaio como um gênero literário. Ele se destacou como um dos primeiros escritores a incluir a subjetividade como tema central de seus ensaios, anunciando: "Sou eu mesmo a matéria de meu livro".</p><p style="text-align: justify;">Seus <b><a href="https://www.ex-isto.com/2021/08/ensaio-montaigne.html" target="_blank">ensaios</a></b> eram textos escritos por meio de tentativas e aproximações, sem a rigidez de um método ou de ideias acabadas, muitas vezes sem chegar a conclusões definitivas, convidando o leitor a considerar diferentes perspectivas. Montaigne entendia o ensaio como um meio para contestar as certezas absolutas, assim sua escrita emergia de reflexões sobre suas experiências e pensamentos, num estilo muito pessoal e original.</p><blockquote>"Não posso fixar o objeto que quero representar: move-se e titubeia como sob o efeito de uma embriaguez natural. Pinto-o como aparece em dado instante, eu não pinto o ser. Eu pinto a passagem."<br />(Montaigne, em 'Os Ensaios')</blockquote><p style="text-align: justify;">Montaigne não aderiu a nenhuma corrente de filosofia, se colocando independente da tradição, concebendo que o tempo algo valioso quando passamos com <b>aquilo que nos agrada</b>, mesmo que isso pareça pouco glorioso ou exemplar para os outros, dando valor ao exercício do que é próprio em nós mesmos. Segundo ele, podemos utilizar a filosofia para viver o presente e aproveitar cada momento da vida, sem nos preocuparmos muito com o futuro ou com o passado.</p><p style="text-align: justify;">Este filósofo possuía uma visão bem ampla sobre o mundo e os diferentes hábitos culturais. Ele passou quinze meses viajando por diversos países da Europa, chegou a conhecer três caciques das Américas e constatou que estes, que eram chamados de "selvagens", eram superiores aos europeus em vários aspectos, enquanto os europeus se colocavam como selvagens, matando os nativos por conta da conquista das Américas.</p><p style="text-align: justify;">Seu processo de <b>autoinvestigação</b> implicava numa prática de olhar para si mesmo, reconhecendo suas mudanças e inconstâncias, adotando uma abordagem livre e pessoal para descrever sobre temas específicos de suas experiências, utilizando argumentos e exemplos próprios para sustentar suas ideias. A liberdade e a pessoalidade na exposição de seus pensamentos contrastava com gêneros mais estruturados como a poesia e o romance.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"Em verdade, o homem é de natureza muito pouco definida, estranhamente desigual e diverso. Dificilmente fundaríamos sobre ele julgamento constante e uniforme."<br />(Montaigne, em 'Os Ensaios')</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Crítico da abstração escolástica e do renascentismo livresco, Montaigne influenciou significativamente a literatura e filosofia, especialmente algumas características que estariam presentes no romantismo do século XIX, antecipando a noção de "eu" na modernidade, enquanto interioridade, destacando-se como o filósofo da autoinvestigação e da subjetividade, afastando-se da busca pela verdade em favor da questão de viver bem.</p><p style="text-align: justify;">Em sua filosofia, ele recusou a supervalorização da razão, entendendo que o conhecimento só podia alcançar as aparências. Não se colocava como um modelo ou ideal, nem buscava uma lei universal, mas se dedicou a investigar a <b>condição mundana e singular</b> de cada ser, expondo em "Os Ensaios" um homem comum narrando episódios corriqueiros: "Falo de mim mesmo, de Michel de Montaigne, e não do gramático, poeta ou jurisconsulto, mas do homem."</p><p style="text-align: justify;">Para o filósofo, a busca pela sabedoria deveria ter como finalidade viver bem. Pensar sobre si mesmo era o caminho para o autodomínio da vontade e dar sentido à vida. O reconhecimento de que a vida é tudo o que temos nos deve colocar numa posição de dar maior importância ao nosso ser, ele menciona que "Desdenhar a vida é ridículo, porque afinal de contas a vida é nosso ser, nosso tudo."</p><p style="text-align: justify;">Montaigne encarava a vida em sua totalidade, reconhecendo que as <b>alegrias e tristezas</b> eram elementos característicos da condição humana. Sua autoinvestigação, nesse contexto, implicava em utilizar suas vivências, sejam estas boas ou ruins, como referências para escolhas futuras: "A vida por si só não é bem nem mal: é o lugar do bem e do mal conforme a fazeis."</p><p style="text-align: justify;">Valorizando a pessoa que somos, independente de nossos fracassos ou êxitos, Montaigne recomendava <b>interiorizar-se</b> e entrar em contato com outros costumes e pontos de vista, visando ampliar perspectivas e duvidar de suas próprias, buscando saberes e perspectivas mais amplas. Voltar-se para si mesmo teria o sentido de reconhecer a fragilidade de nossas crenças e lidar com as incertezas.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"A cada minuto me parece que escapo de mim."<br />(Montaigne, em 'Os Ensaios')</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Essa prática de mergulhar em si mesmo buscava um aprofundamento na <b>percepção sobre si</b>, não procurando algo por trás do visível, mas reconhecendo cada acontecimento em sua singularidade. Ele questionava como o hábito nos tornava cegos e insensíveis ao cotidiano, sugerindo que aquilo que consideramos conhecido e seguro talvez não seja.</p><p style="text-align: justify;">A natureza, de acordo com Montaigne, aparecia desordenada e monstruosa, mutante e incontrolável. Conhecer e respeitar a natureza era essencial, qualquer tentativa de sujeitá-la seria insensata. Ele reconhecia a falta de controle sobre o curso das experiências: "Não vamos, somos levados com as coisas que flutuam, ora docemente, ora com violência, conforme a água é turbulenta ou calma. Flutuamos entre diversas opções: não queremos nada livremente, nada absolutamente, nada constantemente."</p><p style="text-align: justify;">Montaigne entendia a filosofia como uma forma de preparação para a morte. Ela deveria nos auxiliar na aceitação serena e natural desse inevitável destino, permitindo <b>viver o presente</b>, aproveitando cada momento sem excessiva preocupação com o futuro ou passado. Sua autoinvestigação se direciona para a busca do bem viver e da valorização da vida em sua plenitude.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Por <a href="https://www.ex-isto.com/p/bruno-carrasco.html" target="_blank">Bruno Carrasco</a>, terapeuta, professor e questionador, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico existencial e aconselhamento filosófico. Nos últimos anos se dedica a filosofia da diferença e psicologia crítica.</p><p></p><div style="text-align: justify;">Referências:<br />LUDWIG, Carlos R. <u>Subjetividade e autoinvestigação nos Ensaios de Montaigne</u>. In: Revista de Letras, UNESP Online, v. 53, p. 7-20, 2013.<br /><div>MONTAIGNE, Michel de. <u>Os ensaios</u>: uma seleção. Tradução: Rosa Freire d'Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.</div><div>SANTI, Pedro Luiz Ribeiro de. <u>Montaigne e a reflexão moral no século XVI</u>. In: Revista Olhar, ano 04, nº 7, jan-jun / 2003, pp. 76-85.</div></div><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-30268184385806103202023-11-15T12:31:00.016-03:002023-11-30T14:12:03.748-03:00O Fio das Palavras - Leitura comentada<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3QX4Sul55QH0EZ69bG1fUgB_f7PFC2GwL3pGmKaxi4iJOnVmOvwaj6zsyV1LNxPc23boDaiJpcLwaENYUwFy3CLpDNoVXehxlXcfL8tG2m2bfLAhSyowVw0hqrLGTyYds0sOoJKavT6Jz4oHyNTYXXMxZNY-anxexHfKAwI609fGnVEDqBZKcPDz2Zr8/s1199/fio-das-palavras-leitura-comentada.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="679" data-original-width="1199" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3QX4Sul55QH0EZ69bG1fUgB_f7PFC2GwL3pGmKaxi4iJOnVmOvwaj6zsyV1LNxPc23boDaiJpcLwaENYUwFy3CLpDNoVXehxlXcfL8tG2m2bfLAhSyowVw0hqrLGTyYds0sOoJKavT6Jz4oHyNTYXXMxZNY-anxexHfKAwI609fGnVEDqBZKcPDz2Zr8/s16000/fio-das-palavras-leitura-comentada.jpg" /></a></div><p></p><p style="text-align: justify;"><i>Atividade em grupo: leitura comentada de '<b>O Fio das Palavras</b>: um estudo de psicoterapia existencial', escrito por Luiz A. G. Cancello.</i></p><p style="text-align: justify;">A atividade de leitura comentada de "O Fio das Palavras" propõe um diálogo sobre os principais temas abordados no livro, refletindo sobre a <b>teoria e prática da psicoterapia existencial</b>, destacando sua perspectiva a respeito da existência e suas nuances - a liberdade, a angústia, a finitude, a relação entre o coletivo e o singular, bem como o intuito da sessão terapêutica.</p><p style="text-align: justify;">Nos encontros serão mencionados alguns dos <b>principais trechos do livro</b>, comentando didaticamente a partir da perspectiva da fenomenologia existencial, uma abordagem se direciona para a existência em sua singularidade, concebendo que cada pessoa é livre e, ao mesmo tempo, responsável por suas escolhas, estando sempre na possibilidade de fazer algo distinto de si.</p><p style="text-align: justify;">Trata-se de uma leitura acessível, indicada tanto para especialistas como também estudantes e demais interessados, onde o autor Luiz Cancello apresenta um estudo de caso de psicoterapia existencial, descrevendo a prática da <b>analítica existencial</b>. O intuito desta atividade é explorar as principais temáticas abordadas no livro e dialogar com os participantes.</p><p style="text-align: justify;"><b>Dias</b>: 30 de novembro, 7 e 14 de dezembro<br /><b>Horário</b>: 19h às 20h15 (fuso horário de Brasília)<br /><b>Meio</b>: Google Meet (link será disponibilizado aos participantes)<br /><b>Inscrição:</b> R$ 80 (referente aos três encontros)</p><p style="text-align: justify;"><b>Objetivos:<br /></b>- Explorar as temáticas fundamentais apresentadas em "O Fio das Palavras".<br />- Destacar a teoria e prática da psicoterapia fenomenológico existencial.<br />- Fomentar discussões construtivas e reflexões aprofundadas sobre o conteúdo.</p><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div style="text-align: justify;"><div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.ex-isto.com/p/pagamento.html" rel="nofollow" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" data-original-height="44" data-original-width="240" height="44" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgDK46zqmAR_p9LB43iOl7aKZBJ8qmWM_IalNwL7eAlN60m4jeZyM1jvxNVxjyhlOg68CjJdY3yn7fwmLkL6DgJxzNfrlKAClFZt8ttO_37vRujuwUgVemhmI_-u0w-1_zb05DNqkgGJXoSHG98KDN8_9wusSB8LEZR-RtY7tk31XSdtZOQAK_LLOyb" width="240" /></a></div></div></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></div></div><div style="text-align: left;"></div></div></div><p style="text-align: justify;"><b>Condução:</b><br /><b><a href="https://www.ex-isto.com/p/bruno-carrasco.html" target="_blank">Bruno Carrasco</a></b>, professor de filosofia e psicologia, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico existencial e aconselhamento filosófico.</p><p style="text-align: justify;"><b>Leitura comentada</b> é uma atividade onde é feita a leitura dos principais fragmentos do livro, comentando e descrevendo seus sentidos didaticamente, visando facilitar seu entendimento. Nestes três encontros vamos aprofundar nos principais temas abordados no livro, relacionando com a psicoterapia existencial.</p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;">Todos os encontros acontecem online, por meio do <b>Google Meet</b>, onde é possível participar por vídeo ou apenas áudio. </span>O livro será utilizado como referência para os encontros, e será enviado em formato "pdf" para os inscritos.</p><p style="text-align: justify;">Após fazer a inscrição você receberá em seu e-mail um convite para os encontros online, basta clicar no link no dia e horário combinado para participar. Se tiver alguma dúvida, entre em <b><a href="https://www.ex-isto.com/p/contato.html" target="_blank">contato</a></b>.</p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-30813192103327725872023-10-31T13:28:00.022-03:002024-02-26T15:02:19.596-03:00Psicologia Crítica - Grupo de diálogos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3oboTvL0watgrKX2nEyxzyEDAZ7yGBKEoyZuuqn6hrTt_ryXb6maHMdfo2VBM37K8hwlaXos5rL0V4hT5z3-dEQGy6bob360jlDTi0mVIVcraSJYSOGGuiRf9WvH68VTkJdtLKrda-_-N7Y9a4vxENtxdopa7ZZiZv8oGSWSwHnKkaKG7v6WmpAIKokk/s1200/psicologia-critica-grupo-estudos.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="554" data-original-width="1200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3oboTvL0watgrKX2nEyxzyEDAZ7yGBKEoyZuuqn6hrTt_ryXb6maHMdfo2VBM37K8hwlaXos5rL0V4hT5z3-dEQGy6bob360jlDTi0mVIVcraSJYSOGGuiRf9WvH68VTkJdtLKrda-_-N7Y9a4vxENtxdopa7ZZiZv8oGSWSwHnKkaKG7v6WmpAIKokk/s16000/psicologia-critica-grupo-estudos.jpg" /></a></div><p></p><div style="text-align: justify;"><i>O grupo de diálogos online sobre a <b>Psicologia Crítica</b> propõe uma abordagem questionadora sobre a psicologia hegemônica, problematizando suas perspectivas, seus saberes e intervenções.</i></div><div style="text-align: justify;"><div><br /></div><div>A <b>perspectiva crítica em psicologia</b> levanta questões sobre os paradigmas e as práticas da psicologia tradicional institucionalizada, que analisa o comportamento das pessoas para melhor predizer e delimitar seus modos de vida, utilizando suas técnicas e saberes para conduzir as pessoas a um determinado padrão aceitável socialmente.</div><div><br /></div><div>Em nossas discussões, vamos problematizar as teorias e intervenções da psicologia moderna, refletindo sobre seus impactos tanto no nível individual quanto social. Seu objetivo é dialogar sobre os pressupostos que fundamentam a psicologia enquanto ciência, inclusive os intuitos <b>morais</b>, <b>ideológicos</b> e <b>disciplinares </b>que permeiam seus saberes e atuação prática.</div><div><br /></div><div><div>Vamos questionar a noção de "normalidade" utilizada como um mecanismo de disciplina, investigar o uso da psicologia como uma ferramenta de <b>controle social</b>, refletindo sobre o "tratamento" utilizado como uma forma de ajuste moral. Além disso, discutiremos a linha tênue entre <b>normal e patológico</b>, entre loucura e diferença.</div></div><div><blockquote>"A psicologia não é somente sobre indivíduos, mas também é uma forma de teorizar e de administrar relações sociais. Ela realiza isto mirando o indivíduo e quebrando-o em componentes mensuráveis."<br />(Ian Parker, em ‘Revolução na Psicologia’)</blockquote></div><div>Todos os encontros acontecem <b>online </b>conforme as datas e horários descritos abaixo. Não é necessário ter uma formação específica para participar. Os encontros são abertos tanto a profissionais e estudantes de psicologia quanto aos demais interessados nas temáticas. Cada encontro é gravado, a gravação é enviada aos participantes um dia após cada encontro.</div><div><br /></div></div><p></p><h3 style="text-align: justify;"><b style="font-size: medium;">Datas e temas:</b></h3><p></p><div style="text-align: justify;"><b>13/Nov</b><b>/2023</b>: Perspectiva crítica em psicologia</div><div style="text-align: justify;"><b>27/</b><b>Nov</b><b>/2023</b>: Loucura ou diferença?</div><div style="text-align: justify;"><b>04/</b><b>Dez</b><b>/2023</b>: Psicologia e controle social</div><div style="text-align: justify;"><b>11/Dez</b><b>/2023</b>: Repensando as práticas psi</div><div style="text-align: justify;">(segundas-feiras)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div><div><h3><b style="font-size: medium;">Horário e valor:</b></h3></div><div><b>Horário</b>: 19h às 20h15 (fuso horário de Brasília)</div><div><b>Inscrição</b>: R$ 100 (todos os encontros)<br /><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></div></div><div style="text-align: left;"><h3 style="text-align: justify;"><b style="font-size: medium;">Condutor:</b></h3><div style="text-align: justify;"><a href="https://draft.blogger.com/#">Bruno Carrasco</a>, professor de filosofia e psicologia, questionador, terapeuta, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em psicoterapia fenomenológico existencial, ensino de filosofia e aconselhamento filosófico. Nos últimos anos tenho me dedicado a estudar sobre as perspectivas críticas sobre a psicologia e a filosofia da diferença.<br /><br /></div></div><div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><h3><b style="font-size: medium;">Formato:</b></h3></div><div style="text-align: justify;">O grupo de diálogos acontece online, via <a href="https://meet.google.com/" target="_blank">Google Meet</a>, onde é possível participar por vídeo ou áudio. Em cada encontro será utilizado um texto como referência, enviado previamente via e-mail, o texto é uma sugestão de leitura, não obrigatória. O grupo é um <b>espaço aberto</b> para a troca de entendimentos e perspectivas, não há necessidade de conhecimentos prévios para a participação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div><h3><b style="font-size: medium;">Referências bibliográficas:</b></h3></div><div><div>BOCK, Ana M.; GONÇALVES, Maria da G.; FURTADO, Odair. (orgs). <u>Psicologia Sócio-Histórica</u>: uma perspectiva crítica em psicologia. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2015.<br />FRAYZE-PEREIRA, João. <u>O que é Loucura</u>. São Paulo: Brasiliense, 2002.<br />GUARESCHI; HÜNING; FERREIRA [et al.]. <u>Foucault e a Psicologia</u>. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2014.<br />HEATHER, Nick. <u>Perspectivas Radicais em Psicologia</u>. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977.<br /></div><div><br /></div><div><h3><b style="font-size: medium;">Bibliografia complementar:</b></h3></div><div>BENELLI, Silvio José. <u>A lógica da internação</u>: instituições totais e disciplinares (des)educativas. SciELO - Editora UNESP, 2014.<br />CANGUILHEM, Georges. <u>O normal e o patológico</u>. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.<br />COOPER, David. <u>Psiquiatria e Antipsiquiatria</u>. Tradução: Regina Schnaiderman. São Paulo: Editora Perspectiva, 1989.<br />FIGUEIREDO, Luís C. M.; SANTI, Pedro L. R. <u>Psicologia, uma (nova) Introdução</u>. Educ, 2008.</div><div>FOUCAULT, Michel. <u>História da Loucura</u>: na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva, 2017.<br />FOUCAULT, Michel. <u>Vigiar e punir</u>: nascimento da prisão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.<br />HAN, Byung-Chul. <u>Psicopolítica</u>: o neoliberalismo e as novas técnicas de poder. Belo Horizonte: Âyné, 2020.<br />HAN, Byung-Chul. <u>Sociedade Paliativa</u>: a dor hoje. Petrópolis, RJ: Vozes, 2021.<br />LAPLATINE, François. <u>Aprender Etnopsiquiatria</u>. Trad.: Ramon Vasques. São Paulo: Brasiliense, 1998.<br />PARKER, Ian. <u>Revolução na Psicologia</u>: da alienação à emancipação. Campinas, SP: Alínea, 2014.</div><div>SERRANO, Alan Indio. <u>O que é Psiquiatria Alternativa</u>. São Paulo: Brasiliense, 1992.<br />SZASZ, Thomas S. <u>A Fabricação da Loucura</u>: um estudo comparativo entre a Inquisição e o movimento de Saúde Mental. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1971.<br /></div><div> </div></div></div></div><div><h3><b style="font-size: medium;">Observação:</b></h3></div><div>Após a inscrição você receberá em seu e-mail um link de convite para os encontros online e os textos referentes a cada encontro. Basta clicar no link para acessar o grupo no dia e horário combinado. Se tiver dúvidas, entre em <a href="https://www.ex-isto.com/p/contato.html" target="_blank">contato</a>.</div></div><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-64523586192711254632023-10-26T17:20:00.004-03:002023-10-30T18:57:46.895-03:00Analítica do poder em Foucault<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2Xz0KUczbsCAPiJMwMhUsBhJOC0DGygHmLPEP7B_Wo7MEbXSCAnik_dnOtPNcYj-jLpCYawETcBM-gMsHsjywvbDfmqs99dA8nJGSJqHR7LuAzQBFpA9zIKaZXfjjRDq-01DN2LHCPdYpCRv3JE7ikKPIGS1k3OFSZTYdddvTLxEoC1aOe8mzyM_V0V8/s1200/foucault-poder.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="683" data-original-width="1200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2Xz0KUczbsCAPiJMwMhUsBhJOC0DGygHmLPEP7B_Wo7MEbXSCAnik_dnOtPNcYj-jLpCYawETcBM-gMsHsjywvbDfmqs99dA8nJGSJqHR7LuAzQBFpA9zIKaZXfjjRDq-01DN2LHCPdYpCRv3JE7ikKPIGS1k3OFSZTYdddvTLxEoC1aOe8mzyM_V0V8/s16000/foucault-poder.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;">O filósofo francês <b>Michel Foucault</b> se ocupou de diversos temas em sua produção filosófica, entre eles três se destacam: o <b>saber</b>, que envolve seus estudos sobre a psiquiatria, a psicologia, a medicina e as ciências humanas de modo geral; o <b>poder</b>, se dedicando às instituições sociais, as relações de poder, os micropoderes, o poder disciplinar, o biopoder; e o <b>sujeito</b>, investigando sobre as questões éticas, as práticas de si, a sexualidade e a subjetivação.</p><p style="text-align: justify;">A cada tema de estudo Foucault utilizou um método específico, entre eles a <b>arqueologia</b>, que busca escavar as camadas discursivas e as disposições de uma época para a emergência de saberes e práticas específicas, que tratou sobretudo no período dedicado ao saber; e a <b>genealogia</b>, derivada do método utilizado por Nietzsche em sua obra 'Genealogia da Moral', que busca encontrar a origem da emergência das disposições a partir das relações de poder.</p><p style="text-align: justify;">Por analisar as condições históricas e contingentes dos saberes e das práticas, questionando o que parecia absoluto e universal, entendendo que as ideias e disposições são apenas fenômenos históricos, Foucault ficou conhecido como um filósofo destruidor das evidências. Neste sentido, ele não elaborou uma teoria sobre o poder, mas uma análise de como o poder acontece nas relações, não é algo que alguns possuem e outros não, nem está apartado das pessoas, mas acontece em todas as relações.</p><p style="text-align: justify;">Sua pergunta não é sobre o que é o poder, enquanto um objeto estanque, que exige uma definição única e estruturada, mas como funciona o poder, como o poder acontece, entendendo que o poder não é algo que se possui, mas algo que acontece nas relações, envolvendo não apenas um poder central e grandioso, mas uma multiplicidade de micropoderes. Deste modo, o filósofo se coloca a analisar criticamente as relações de poder, identificando elas e pensando resistências.</p><p style="text-align: justify;">Contrariando a perspectiva de um poder soberano centralizado, Foucault considera que na modernidade somos atravessados pelo que chamou de "poder disciplinar", que é um poder que se distribui nas instituições sociais, se capilarizando em toda a sociedade. Essa nova técnica de poder se multiplica nas relações, onde o poder emerge nas diversas relações, se sobrepondo e se interligando, ele não tem um centro e não se conecta apenas a um sujeito ou a uma ideia.</p><p style="text-align: justify;">Suas análises do poder constatam uma mudança nas relações de poder na modernidade, ele enumera novas técnicas de poder, onde este não se apresenta mais como uma interdição (de cima para baixo), onde o poder não vem apenas do Estado ou da Igreja, mas de todos os lados. O poder acontece em todas as relações sociais, que influenciam o que pode ou não ser dito e feito, inclusive como devemos nos vestir, o que comer, quando ir ao médico, de que modo cuidamos de nosso corpo, etc.</p><p></p><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>"Compreender o poder: 1 múltiplas correlações de força; 2 processo em que são transformadas, reforçadas e invertidas, operando num certo domínio ou discurso; 3 apoios que tais correlações de força encontram umas nas outras, formando cadeias ou sistemas; 4 estratégias em que se originam e cujo esboço geral ou cristalização institucional toma corpo nos aparelhos estatais, na formulação da lei, nas hegemonias sociais."<br/>(Michel Foucault, em 'A vontade de saber' - História da Sexualidade 1)</blockquote></div><div style="text-align: justify;"></div><p></p><p style="text-align: justify;">O poder acontece de maneira intencional, é exercido com metas e objetivos. Foucault analisou as relações micro (microfísica do poder, disciplinar, corpo) e macro (biopoder, populações), entendendo o poder como uma multiplicidade de relações de força que operam e constituem uma disposição ou prática, num arranjo amplo, complexo e interligado.</p><p style="text-align: justify;">Foucault recusa a ideia negativa de poder, enquanto algo que retira, que se impõe por uma regra ou lei, que proíbe e impede. Segundo ele, o poder na modernidade é produtivo, ele não retira, mas positiva, constrói, produz sujeitos, saberes, disposições e práticas. De modo geral, o poder produz a realidade, o mundo que vivemos e o modo como vivemos e nos relacionamos, o poder produz os modos de vida, os saberes e atividades.</p><p></p><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>"Temos que deixar de descrever sempre os efeitos de poder em termos negativos: ele ‘exclui’, ‘reprime’, ‘recalca’, ‘censura’, ‘abstrai’, ‘mascara’, ‘esconde’. Na verdade o poder produz; ele produz realidade; produz campos de objetos e rituais da verdade. O indivíduo e o conhecimento que dele se pode ter se originam nessa produção."<br/>(Michel Foucault, em 'Vigiar e punir’)</blockquote></div><div style="text-align: justify;"></div><p></p><p style="text-align: justify;">Neste sentido, as ideias e os sujeitos são resultantes das relações de poder. A subjetividade não é algo dado ou essencial, mas uma produção cultural e histórica. O poder moderno ele se constitui numa rede de relações entre indivíduos, grupos e instituições, relações estas que são constantemente transformadas. Foucault observa o poder em seus efeitos locais e periféricos.</p><p style="text-align: justify;">Essas práticas de poder reverberam nos saberes. A psicologia e a psiquiatria estabelecem relações de poder com a diferenciação entre normal e anormal. A escola e a fábrica estabelecem relações de poder sobre como o indivíduo deve se vestir, que horas chegar, qual lugar ocupar. O conhecimento estabelece uma relação do poder, estabelecendo o que é verdadeiro e o que é falso, o que pode ser dito e o que não pode, o que temos de crer e o que devemos rejeitar.</p><p style="text-align: justify;"><br />Por <a href="https://www.ex-isto.com/p/bruno-carrasco.html" target="_blank">Bruno Carrasco</a>, terapeuta, professor e questionador, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico existencial e aconselhamento filosófico. Nos últimos anos se dedica a filosofia da diferença e psicologia crítica.</p><p></p><div style="text-align: justify;">Referências:</div><div style="text-align: justify;">CASTRO, Edgardo. Introdução a Foucault. Trad.: Beatriz de Almeida Magalhães. Belo Horizonte: Autentica Editora, 2014.</div><div style="text-align: justify;">DÍAZ, Esther. A filosofia de Michel Foucault. Trad.: Cesar Candiotto. São Paulo: Editora Unesp, 2012.</div><div style="text-align: justify;">FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Tradução: Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985.</div><div style="text-align: justify;">FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Trad.: Raquel Ramalhete. 42ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.</div><div style="text-align: justify;">TAYLOR, Dianna (org.). Michel Foucault: conceitos fundamentais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018. </div><p></p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-8174318240419538932023-10-26T16:00:00.014-03:002023-10-26T20:42:39.956-03:00Conversa sobre terapia - Bilê Tatit Sapienza<p style="text-align: justify;">O livro "<b>Conversa sobre terapia</b>" escrito pela psicóloga Bilê Tatit Sapienza, é uma ótima referência para a prática terapêutica numa perspectiva fenomenológico existencial. A autora reuniu experiências, reflexões e estudos, descrevendo de maneira muito acessível como acontece numa psicoterapia nesta perspectiva, sem deixar de mencionar as referências teóricas para a prática.</p><p style="text-align: justify;">Acredito que um dos intuitos desta obra é refletir sobre o sentido da terapia e o papel do terapeuta, bem como sobre como acontece um encontro terapêutico, onde a pessoa que busca terapia vai tomando contato com seus modos de perceber e experienciar a vida, de se alegrar e sofrer, reconhecendo sua história e ampliando suas possibilidades existenciais.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-SD0Z3Rv1-1Rxwz-JQmYBav3j4s0WM1AW8hdAy136ElyQtU9L175OUA3D7Y_28WGMKwejqcxwqQ0zzk80Sh9THtQHuYdXt4xRIEfn4HB5_ABHQCHMoWftnJQEsFOp-GyGxYJlmcMJzsi-oohS0iN-FpPaMMuGsFB9Quxd8aNMN5k_90ZEgekUcVx26x4/s902/conversa-sobre-terapia-bile-tatit-sapienza.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="902" data-original-width="641" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-SD0Z3Rv1-1Rxwz-JQmYBav3j4s0WM1AW8hdAy136ElyQtU9L175OUA3D7Y_28WGMKwejqcxwqQ0zzk80Sh9THtQHuYdXt4xRIEfn4HB5_ABHQCHMoWftnJQEsFOp-GyGxYJlmcMJzsi-oohS0iN-FpPaMMuGsFB9Quxd8aNMN5k_90ZEgekUcVx26x4/w284-h400/conversa-sobre-terapia-bile-tatit-sapienza.jpg" width="284" /></a></div><p style="text-align: justify;"><u>Trechos do livro</u>:</p><p style="text-align: justify;">Quem trabalha com fenomenologia convive com isto: a necessidade de ir direto ao fenômeno tal como se apresenta - ir atrás de seu significado naquele caso especial, único, um significado que pode mesmo contrariar qualquer teoria de psicologia -, sem, contudo, ignorar as teorias que pretendem explicá-lo. Quando, conhecendo as teorias, você conseguir manter o pensamento aberto para permanecer diante do fenômeno, livre das teorias, você vai ter a sensação de estar honestamente fazendo fenomenologia; saberá o que está deixando de lado e por que faz isso. Você sentirá que o faz porque o apelo do fenômeno é maior.</p><p style="text-align: justify;">O momento da terapia é aquele privilegiado, em que fazemos uma fenomenologia da existência. (...) Sua existência se abre para ser compreendida. Esse é o fenômeno ali. Ele é absolutamente singular: porque aquela vida de que se trata e única, aquela sessão é única, a relação entre aquele terapeuta e aquele paciente é única. Não há duas terapias iguais.</p><p style="text-align: justify;">E ali, na terapia, a única fenomenologia que interessa é a dessa historia particular, e a da existência do paciente que esta na sala. Nisto consiste o trabalho que ali se realiza: deixar que as coisas apareçam com seus significados, reuni-los e permitir que sentidos se articulem.</p><p style="text-align: justify;">Terapia é um pouco isto: oportunidade de o paciente poder olhar, de novo, para o que foi vivido e passou - ou não passou -, para o que é vivido agora, e autenticar tudo como sendo dele, como sendo ele.</p><p style="text-align: justify;">Terapia também é isto: ocasião de ver que essa é a vida que se realizou, que foi esse o caminho percorrido, mas é um caminho que continua e, o mais importante, pode ir em direções diferentes. (...) Mas o mais comum é que esse poder ir em outra direção queira dizer: mudar a direção do olhar, poder ver outros significados nos fatos que, em si continuam os mesmos; poder sentir que, exatamente porque aquela história é especialmente a dele, ele é seu protagonista e cabe a ele trazer elementos novos para ela.</p><p style="text-align: justify;">Terapia é um pouco isto: possibilidade de dirigir um olhar diferente para a própria existência e, assim, reformular significados.</p><p style="text-align: justify;">Então, terapia é também um pouco isto: ocasião de ouvir a própria voz a dizer coisas que, uma vez ditas, encorpadas na voz, são acolhidas por ouvidos humanos. Tomando corpo assim, elas se mostram com mais nitidez. Pensamentos e sentimentos expressos dessa forma podem ser compreendidos melhor em suas proporções e significados.</p><p style="text-align: justify;">A concepção de existência como "ser-no-mundo" representa modificações radicais de ordem filosófica e epistemológica. A existência é o "lugar", é o "aí" onde há "mundo", e "mundo" já é sempre o "aí" onde a existência é. Existência e "mundo" são co-originários. Um não é anterior ao outro.</p><p style="text-align: justify;">Terapia não pode deixar também de ser isto: o lugar onde se pode ouvir a própria resposta à pergunta inevitável: o que tem valor para mim?</p><p style="text-align: justify;">Terapia é um pouco isto: uma rara ocasião de aprofundar o pensamento em coisas que, à primeira vista, parecem ser simplesmente questões de opinião, já resolvidas, mas que, na verdade, precisam ser pensadas.</p><p style="text-align: justify;">O paciente expressou o que para ele tem valor e até contou o que faz concretamente para conseguir seu objetivo. Mas, além disso, que outras coisas ele valoriza? O que mais constitui a sua existência? Aonde o leva esse seu modo de ser? Dentro de que contexto de significados o que ele descreve faz sentido? E o terapeuta já tem ideia desse contexto de significados que é o mundo dele? Será que aquilo que ele disse que é seu maior valor é mesmo o mais importante ou, quem sabe, será um meio para outra coisa, que representa até mais, outra coisa que ele ainda não conseguiu ver e, se conseguisse vê-la, talvez a buscasse de algum outro modo? Então, é preciso calma, facilitar que essa conversa se prolongue que puxe outras, e talvez isso leve tempo.</p><p style="text-align: justify;">O terapeuta está lá para ser essa abertura, numa disponibilidade para a compreensão daquilo que chega e se mostra; daquilo que não se mostra diretamente, mas se insinua, e, com paciência, acaba por aparecer; e também daquilo que nem sequer se insinua, visto que dele nem podemos dizer que "é", mas que passa a "ser quando pode, enfim, articular-se na linguagem – a "linguagem" é a morada do ser" -; e, para isso, vai ser preciso mais paciência ainda.</p><p style="text-align: justify;">A paciência é pronta; atenta não só ao que é dito, mas ao como é dito, a voz mais solta ou embargada, aos rodeios, aos desvios, aos silêncios; e atenta aos gestos do paciente, a sua postura. Essa paciência é a que permite estar em sintonia com a tristeza dele e, às vezes, sem achar que isso é perder tempo, poder rir com ele - a terapia não é feita só de lágrimas -, quando naquele dia o paciente traz o seu lado bem-humorado e as coisas boas da sua vida, porque isso também faz parte da vida dele.</p><p style="text-align: justify;">Num dizer mais rigoroso, o fenômeno com o qual lidamos não é um "psiquismo", que precisaria de uma teoria psicológica científica para explicá-lo. Lidamos com o fenômeno da existência, e, segundo a concepção de que partimos, a existência é, em cada caso, a minha, a sua, a do paciente em sua sala.</p><p style="text-align: justify;">Fenomenologia não é urna teoria. É um modo de se aproximar de um fenômeno, que se caracteriza, principalmente, por deixar que ele se mostre tal como se apresenta o mais possível sem a interferência das teorias já existentes sobre ele. Mas o fenômeno só se mostra quando alguém olha para ele, aproxima-se dele na procura de compreendê-lo e explicita-o na linguagem. Na terapia, o fenômeno em questão é a existência do paciente.</p><p style="text-align: justify;">Terapia vem da palavra grega <i>therapeía-as</i>, de <i>therapeúein</i>, e tem os significados de: servir, honrar, assistir, cuidar, tratar.</p><p style="text-align: justify;">Então, qualquer cuidado terapêutico tem a ver com o devolver, recuperar ou resgatar para aquilo que é cuidado algo que diz respeito a ele e que por algum motivo foi perdido ou prejudicado; isso quer dizer: favorecer que aquilo de que se cuida retome mais plenamente aquilo que se espera dele, ao que é próprio dele.</p><p style="text-align: justify;">Ha terapeutas que ficam sempre tão preocupados em descobrir alguma coisa que deve estar no fundo, sempre por trás do que está sendo dito, do evidente, que desqualificam tudo o que está diante dele. Interessante é que há pacientes que acabam por se acostumar com esse estilo, e acreditam no poder do terapeuta de descobrir coisas que só ele, o terapeuta, sabe, não importa se aquilo faz ou não sentido para eles, os pacientes.</p><p style="text-align: justify;">Mas para quem faz uma fenomenologia da existência, nada da existência é mera aparência. Ao mostrar-se, ela o faz como tudo aquilo que se mostra, que se apresenta: sempre ocultando e sempre desocultando algo. E há sempre alguma verdade no que se desoculta.</p><p style="text-align: justify;"><br />Fonte:<br />SAPIENZA, Bilê Tatit. <u>Conversa sobre terapia</u>. São Paulo: EDUC; Paulus, 2004.</p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-24246022870469611072023-10-19T09:05:00.002-03:002023-10-26T17:26:32.423-03:00Basaglia e suas críticas à psiquiatria<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2rJh6ZjQZLT7BiBz8oNhQ97tPb5cnqzreBwOGuGhtw8Wh0KTWY_prQO0KiVmhoCeSfvb8TS282NNmzvlSJQ6X5PD7D-vDMceQ98unNhPB9PniruvsoD8IS5XDFYBU1OgXQVr3nr1J26hDzlw6hvtRyNIYYZDcJ27nR0QZKSQPdOkJG13sMXJUoI-suuo/s533/franco-basaglia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="350" data-original-width="533" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2rJh6ZjQZLT7BiBz8oNhQ97tPb5cnqzreBwOGuGhtw8Wh0KTWY_prQO0KiVmhoCeSfvb8TS282NNmzvlSJQ6X5PD7D-vDMceQ98unNhPB9PniruvsoD8IS5XDFYBU1OgXQVr3nr1J26hDzlw6hvtRyNIYYZDcJ27nR0QZKSQPdOkJG13sMXJUoI-suuo/s16000/franco-basaglia.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;">Franco Basaglia foi um psiquiatra italiano que desempenhou um papel fundamental na reforma psiquiátrica e no movimento de desinstitucionalização na Itália. Ele nasceu em 1924, na cidade de Veneza, e faleceu em 1980.</p><p style="text-align: justify;">Basaglia foi um crítico ferrenho das práticas asilares e da concepção tradicional de tratamento psiquiátrico, que envolvia a exclusão e a segregação de pessoas com transtornos mentais. Ele acreditava que os hospitais psiquiátricos perpetuavam a opressão, a violência e a desumanização, contribuindo para a estigmatização e marginalização das pessoas com doenças mentais.</p><p style="text-align: justify;">Em 1961, Basaglia assumiu a direção do Hospital Psiquiátrico de Gorizia, na Itália, onde implementou uma série de mudanças radicais. Ele promoveu a abertura dos portões do hospital, permitindo que os pacientes circulassem livremente pela cidade. Além disso, ele rejeitou a utilização de métodos coercitivos, como o uso de camisas de força e a prática de eletrochoque.</p><p style="text-align: justify;">A experiência de Basaglia em Gorizia levou à formulação da chamada "Lei Basaglia" (Lei 180), aprovada na Itália em 1978. Essa lei marcou o início da reforma psiquiátrica no país e resultou no fechamento gradual dos manicômios e na implementação de serviços de saúde mental comunitários. Basaglia defendia uma abordagem comunitária e centrada no indivíduo, que buscava reintegrar as pessoas com transtornos mentais na sociedade e garantir seus direitos humanos.</p><p style="text-align: justify;">Sua abordagem revolucionária questionou as práticas psiquiátricas tradicionais e promoveu uma nova compreensão da saúde mental, baseada na dignidade, na liberdade e na inclusão social. Ele é considerado um dos pioneiros e líderes da luta pela reforma psiquiátrica e pelos direitos das pessoas com transtornos mentais.</p><p style="text-align: justify;">O médico e psiquiatra Franco Basaglia foi o precursor do movimento de reforma psiquiátrica italiano conhecido como Psiquiatria Democrática. No ano de 1961, quando assumiu a direção do hospital, iniciou diversas mudanças, visando transformá-lo em uma comunidade terapêutica.</p><p style="text-align: justify;">Basaglia apresentou várias críticas à psicopatologia tradicional. Suas críticas estavam intrinsecamente ligadas à sua visão da reforma psiquiátrica e ao movimento de desinstitucionalização. Criticou fortemente o modelo asilar, que promovia a segregação e o confinamento das pessoas com transtornos mentais em hospitais psiquiátricos. Ele argumentava que essa prática resultava na exclusão social desses indivíduos, contribuindo para sua marginalização e estigmatização.</p><p style="text-align: justify;">Questionou a tendência da psicopatologia tradicional de medicalizar uma ampla gama de comportamentos e experiências humanas. Ele acreditava que muitas vezes os problemas psicológicos e emocionais eram transformados em doenças mentais, resultando em uma abordagem reducionista que negligenciava a complexidade da condição humana.</p><p style="text-align: justify;">Criticou o uso de práticas coercitivas, como camisas de força e a administração de tratamentos invasivos, como o eletrochoque. Ele argumentava que essas práticas violavam os direitos humanos dos pacientes e reforçavam a relação de poder desigual entre médicos e pacientes. Basaglia enfatizava a importância da dignidade e da autonomia das pessoas com transtornos mentais. Ele criticou a forma como a psicopatologia tradicional desumanizava os pacientes, tratando-os como objetos de estudo ou controle, em vez de respeitar sua individualidade e capacidade de tomar decisões sobre seu próprio cuidado.</p><p style="text-align: justify;">Basaglia defendia uma abordagem comunitária para a saúde mental, na qual os serviços fossem descentralizados e integrados às comunidades. Ele argumentava que a psicopatologia tradicional se concentrava muito nos hospitais psiquiátricos, isolando as pessoas com transtornos mentais da sociedade. Ele propôs a criação de serviços de saúde mental comunitários, que valorizassem a inclusão e a participação social dos indivíduos.</p><p style="text-align: justify;">Essas críticas de Franco Basaglia à psicopatologia tradicional estavam profundamente enraizadas em seu compromisso com a reforma psiquiátrica e na defesa dos direitos e da dignidade das pessoas com transtornos mentais. Sua visão da psicopatologia estava alinhada a uma perspectiva mais humanizada, inclusiva e centrada na comunidade, que valorizava a autonomia e a participação ativa dos indivíduos no seu próprio processo de recuperação. </p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-37545197383939981562023-10-18T16:00:00.007-03:002023-10-28T11:50:29.302-03:00Kant e o sujeito transcendental<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGnyuqIM_nLfQhvKAGXh239CsyRgOeTzeKFvtA3sjcnu3Akmuxqm00cMVbuoSqfZUEeGi_fcmcVUFfLP51-ajZHTUt8AQop2-UmSJUi2uGemaMMSpRE1Z9CcIwd_pa4ZA3aTU1d1fa1TG-RqThp5bjSd0-yTAOdgXa3GgaQRRhEAwy-7n3toqbCpOJ50Q/s1100/kant-sujeito-transcedental.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="619" data-original-width="1100" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGnyuqIM_nLfQhvKAGXh239CsyRgOeTzeKFvtA3sjcnu3Akmuxqm00cMVbuoSqfZUEeGi_fcmcVUFfLP51-ajZHTUt8AQop2-UmSJUi2uGemaMMSpRE1Z9CcIwd_pa4ZA3aTU1d1fa1TG-RqThp5bjSd0-yTAOdgXa3GgaQRRhEAwy-7n3toqbCpOJ50Q/s16000/kant-sujeito-transcedental.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;"><b>Immanuel Kant</b> (1724-1804) é considerado um dos filósofos mais influentes do ocidente, sua filosofia crítica teve um impacto significativo em diversas áreas do pensamento humano, incluindo a ética, a metafísica, a epistemologia e a estética.</p><p style="text-align: justify;">De acordo com Kant, o conhecimento humano não é simplesmente uma questão de observar a realidade e registrar os fatos objetivos, mas um processo ativo que envolve o entendimento na construção do conhecimento. <b>O entendimento tem suas próprias estruturas</b>, conceitos e categorias para a experiência, e essas estruturas são universais e necessárias para a compreensão da realidade.</p><p style="text-align: justify;">Kant enfatizou a importância da razão e da autonomia moral na vida humana, argumentando que os indivíduos devem agir de acordo com princípios racionais e universais, em vez de seguir meramente suas inclinações e desejos. Também defendeu a ideia de que a moralidade é baseada na dignidade da pessoa humana e na ideia de que cada indivíduo é um fim em si mesmo, e não um meio para os fins dos outros.</p><p style="text-align: justify;">Outra importante contribuição de Kant foi sua teoria estética, que defendia a ideia de que o valor da arte não está apenas na sua beleza, mas na maneira como ela nos ajuda a compreender a realidade e a tomar contato com as emoções humanas.</p><p style="text-align: justify;">A principal contribuição de Kant para a filosofia foi uma <b>perspectiva crítica</b> com relação à capacidade do conhecimento humano conhecer efetivamente o mundo e as coisas do mundo, rejeitando o dogmatismo e o ceticismo, defendendo a importância da razão, da moralidade e da estética como elementos fundamentais para a compreensão da experiência humana e do mundo que nos rodeia.</p><p style="text-align: justify;">Para Kant, o <b>sujeito transcendental</b> é uma estrutura <i>a priori </i>da mente humana que possibilita a experiência e o conhecimento dos objetos. Segundo o filósofo, o entendimento humano possui certas estruturas inatas que configuram a maneira como percebemos e entendemos o mundo ao nosso redor. Essas estruturas são chamadas de categorias ou conceitos puros do entendimento.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"Na filosofia kantiana, também caracterizada como filosofia transcendental, trata-se do ponto de vista que considera as condições de possibilidade de todo conhecimento."<br />(Japiassu e Marcondes, em 'Dicionário básico de filosofia')</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Seu método transcendental se caracteriza por uma análise das condições de possibilidade do conhecimento, que fundamentam a ciência e as experiências em geral. Esse método rejeita a metafísica especulativa, se tornando a última etapa do racionalismo iluminista, influenciando a filosofia romântica, juntamente com o idealismo alemão pós-kantiano.</p><p style="text-align: justify;">O sujeito transcendental não é um ser empírico ou uma pessoa em si, mas uma condição de possibilidade necessária para que qualquer experiência ou conhecimento seja possível. É o sujeito o que possibilita a organização dos dados sensoriais captados em objetos e a compreensão desses objetos por meio dos conceitos puros do entendimento.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"A fonte de toda a verdade está no apriorismo transcendental. É nele que encontramos o princípio da possibilidade da experiência. O transcendental só ganha validade se se reporta a um objeto (da experiência): o transcendental é 'forma', 'síntese', 'universalismo'."<br />(Manieri, em 'O transcendental em Kant')</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Kant distinguiu entre o sujeito empírico, sendo o indivíduo concreto que experimenta e percebe os objetos, e o sujeito transcendental, a qual é a estrutura inata do entendimento humano que permite a experiência em si. Segundo ele, o entendimento humano é resultante da interação entre o sujeito empírico e o sujeito transcendental, e que ambos são necessários para a construção do conhecimento.</p><p style="text-align: justify;">Neste sentido, o transcendental é uma forma, uma síntese universal, que se apresenta quando se direciona a um objeto da experiência. O campo transcendental compõe uma totalidade absoluta na síntese das condições, sendo um nível puramente intelectual, diferente dos objetos do mundo sensível, que se apresentam como uma realidade fenomênica. Trata-se de um sujeito abstrato e isolado.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"O transcendental de Kant nos leva às condições universais constitutivas da objetividade, da experiência possível. Mas a experiência real fica carente (...)."<br />(Manieri, em 'O transendental em Kant')</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">O sujeito transcendental é uma noção fundamental para a compreensão do entendimento humano e da relação entre a mente e o mundo. Na filosofia, de modo geral, "transcendente" e "transcendental" são termos distintos, embora ambos se refiram a algo que está além do mundo material e da experiência empírica.</p><p style="text-align: justify;">Transcendente refere-se a algo que está além ou acima da experiência humana, seja Deus, o sobrenatural ou o mundo além da nossa realidade imediata. É um conceito muitas vezes associado à religião e à metafísica. Por outro lado, transcendental refere-se a condições ou pressupostos fundamentais que possibilitam a experiência humana. É um termo comumente usado na filosofia kantiana, que enfatizou as condições <i>a priori </i>do conhecimento humano.</p><p style="text-align: justify;">Para Kant, o "transcendental" refere-se às estruturas mentais universais que são pré-existentes à experiência empírica e que permitem a percepção, o pensamento e o conhecimento. Essas estruturas incluem categorias como espaço, tempo, causa e efeito, necessárias para o entendimento das experiências.</p><p style="text-align: justify;">Dessa forma, enquanto o "transcendente" se refere a algo além da experiência humana, o "transcendental" se refere a condições essenciais para a experiência humana ser possível. Ambos os conceitos são importantes na filosofia e na compreensão do mundo que nos rodeia.</p><p style="text-align: justify;"><br />Por <a href="https://www.ex-isto.com/p/bruno-carrasco.html" target="_blank">Bruno Carrasco</a>, terapeuta, professor e questionador, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico existencial e aconselhamento filosófico. Nos últimos anos se dedica a filosofia da diferença e psicologia crítica.</p><p style="text-align: justify;">Referências:<br />JAPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo. <u>Dicionário Básico de Filosofia</u>. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.<br />MANIERI, Dagmar. <u>O transcendental em Kant</u>. Theoria - Revista Eletrônica de Filosofia - vol 3, no. 6, 2011.</p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-31961407197786830942023-10-17T17:22:00.016-03:002023-10-27T09:57:47.602-03:00O que é arte de vanguarda?<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDFiW7p1spmGtLZv263ITwrw-bLBCSm3eL4EJC-GWb0I27OzAkgP7XpfURi_p3P9KTKlaOmCIslu7ONzkDQqXXtr9svpUXAu2oQOyJ42fe1syMdyMeJX4rhD5CM_yl2M0jSEr40CczF8tD4La6-Fq8NsmBDIqNIT_zoj6LC1VA1qLcIjFpvhJhxMFEHbA/s1000/vanguarda-arte.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="545" data-original-width="1000" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDFiW7p1spmGtLZv263ITwrw-bLBCSm3eL4EJC-GWb0I27OzAkgP7XpfURi_p3P9KTKlaOmCIslu7ONzkDQqXXtr9svpUXAu2oQOyJ42fe1syMdyMeJX4rhD5CM_yl2M0jSEr40CczF8tD4La6-Fq8NsmBDIqNIT_zoj6LC1VA1qLcIjFpvhJhxMFEHbA/s16000/vanguarda-arte.jpg" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Composition II, Karel Appel, 1970</td></tr></tbody></table><p style="text-align: justify;">Os <b>movimentos artísticos de vanguarda</b> são aqueles atuam de maneira crítica com relação ao estatuto estabelecido sobre o que é arte e com relação às práticas sociais, colocando em questão os valores da sociedade burguesa contemporânea. Por conta de suas características, as obras de vanguarda estão sempre transgredindo os limites instituídos a respeito do que é entendido por arte.</p><p style="text-align: justify;">As artes de vanguarda costumam se exprimir por meio de criações e obras de <b>arte experimentais</b>, que possuem um caráter inovador, muitas vezes não sendo aceitas inicialmente no contexto social de uma época, por desafiar o modelo de arte vigente, bem como os formatos e as noções estabelecidos sobre a arte com base na tradição.</p><p style="text-align: justify;">Esses movimentos artísticos são múltiplos e diversos, aparecendo de maneira mais intensa entre o final do século XIX e meados do século XX. A perspectiva de vanguarda entende que a arte tem um papel político, em favor de uma mudança social. Nos Estados Unidos, durante a década de 1960, os artistas de vanguarda produziam arte com elementos do contexto de industrialização crescente, se opondo à conformidade da cultura popular, criticando a tendência do modo de vida consumista.</p><p style="text-align: justify;">O termo vanguarda vem do francês "<i><b>avant-garde</b></i>", que significa "guarda avançada", esse termo era usado pelos militares franceses fazendo referência a um pequeno grupo que explorava à frente da tropa. No século XIX, passou a ser associado aos radicais franceses de esquerda que defendiam reformas políticas. Do final do século XIX em diante, <i>avant-garde</i> passou a ser usado para se referir a produções artísticas e estéticas inovadoras.</p><p style="text-align: justify;">Uma das principais características dos movimentos de vanguarda é sua postura de questionar a instituição arte, enquanto uma instância separada da prática da vida. De modo geral, os movimentos de arte de vanguarda rejeitam a ideia de arte como uma representação alheia ao mundo, pois entendem que a arte é um processo que ocorre implicado no mundo, na vida e nas relações, em constante movimento e transformação.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"Até princípios do século XX, os músicos utilizavam apenas uma parte reduzidíssima das possibilidades do mundo sonoro. Em quase todas as civilizações evoluídas, os ruídos representavam uma posição muito baixa na escala de valores musicais, e isto embora não existisse nenhuma diferença física básica entre som e ruído. Foi esta a revelação musical mais importante do movimento futurista italiano, que não hesitou em incorporar o ruído na criação musical."<br />(Montserrat, em 'A música contemporânea')</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Na perspectiva tradicional de arte, o sentido da arte é associado a uma tradição que a entende como um processo onde suas partes compõem uma grande unidade representativa, tendo seu sentido atrelado a uma noção do todo. Nas artes de vanguarda, o todo não sobrepõe as partes, pois as partes já são uma intenção da obra. Além disso, nas obras de vanguarda não há um sentido único, mas múltiplos sentidos possíveis.</p><p style="text-align: justify;">Essas tendências críticas e inovadoras da arte de vanguarda costumam chocar os espectadores. O artista de vanguarda se expressa em diferentes linguagens, de modo que há tanto escritores, quanto pintores, compositores, arquitetos, dramaturgos, entre outros. A característica em comum entre eles consiste em sua postura que desafia as concepções sobre o que é arte e os valores da sociedade burguesa contemporânea.</p><p style="text-align: justify;">O artista de vanguarda pretende oferecer uma crítica e um questionamento ao espectador, para que este possa refletir sobre seus modos de vida, seus valores e perspectivas, buscando implicar no mundo e promover transformações. A arte se apresenta como um estímulo, uma proposta de experimentar outra perspectiva sobre a vida, quebrando paradigmas e tradições, visando uma transformação singular.</p><p style="text-align: justify;">A vanguarda se coloca também como uma instância crítica da arte enquanto instituição e da estrutura social onde a arte é produzida. Os movimentos de vanguarda não questionam apenas uma ou outra forma de arte específica, mas toda a instituição arte, que determina e define a produção e a distribuição artística, que delimita o que é ou não arte. O intuito desta critica é retomar na arte seu papel criativo e sua relação com a vida.</p><p style="text-align: justify;">Suas críticas sobre a instituição da arte não buscam instituir um novo modo de se fazer arte, mas ampliar a possibilidade de outros modos de se fazer arte, mais livres, experimentais e inventivos, menos determinados e definidos. Além disso, busca-se retomar a relação entre a criação de arte e os modos de vida, reconhecendo o contexto onde a arte é produzida, as circunstâncias e os materiais que atravessam a experiência de vida.</p><p style="text-align: justify;">Entre os artistas de vanguarda podemos destacar na música Arnold Schöenberg, Igor Stravinsky, Luigi Russolo, Edgard Varese, <a href="https://www.ex-isto.com/2020/12/john-cage-experimental.html" target="_blank">John Cage</a>, Iannis Xenakis, Morton Feldman, Karlheinz Stockhausen, Sun Ra, John Coltrane, Meredith Monk, Laurie Anderson, entre outros. Nas artes plásticas: Wassily Kandinsky, Pablo Picasso, Paul Klee, <a href="https://www.ex-isto.com/2018/12/grito-edvard-munch.html" target="_blank">Edvard Munch</a>, Joan Miró, Henri Matisse, Salvador Dali, René Magritte, Max Ernst, Marcel Duchamp, Jean Dubuffet, Andy Warhol, Karel Appel, Jean-Michel Basquiat, entre outros.</p><p style="text-align: justify;">No Brasil há grandes nomes entre os artistas de vanguarda, tais como Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Heitor Villa-Lobos, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Mario Pedrosa, Victor Brecheret, Candido Portinari, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Lygia Clark, Augusto de Campos, Décio Pignatari, Glauber Rocha, Beatriz Milhazes, Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, Wesley Duke Lee, Rubem Grilo.</p><p style="text-align: justify;">Entre os movimentos artísticos de vanguarda, pode-se destacar a <b>arte conceitual</b>, o <b>dadaísmo</b>, o <b><a href="https://www.ex-isto.com/2018/05/expressionismo-e-existencialismo.html" target="_blank">expressionismo</a></b>, o <b>fauvismo</b>, o <b>cubismo</b>, o <b>futurismo</b>, o <b>abstracionismo</b>, o <b>minimalismo</b>, o <b>concretismo</b>, o <b>cinema novo</b>, o <b>neo-dadá</b>, a <b>arte pop</b>, o <b>surrealismo</b>, o <b>tropicalismo</b>, entre outros. Há também que se destacar os grupos Grupo dos Seis, Grupo Vanguarda Fluxus e CoBrA.</p><p style="text-align: justify;"><br />Por <a href="https://www.ex-isto.com/p/bruno-carrasco.html" target="_blank">Bruno Carrasco</a>, terapeuta, professor e questionador, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico existencial e aconselhamento filosófico. Nos últimos anos se dedica a filosofia da diferença e psicologia crítica.</p><p style="text-align: justify;">Referências:<br />ALBET, Montserrat. <u>A Música Contemporânea</u>. Rio de Janeiro: Salvat, 1979.<br />BÜRGER, Peter. <u>Teoria da vanguarda</u>. Trad.: Ernesto Sampaio. Lisboa: Vega, 1993.<br />Couto, M. de F. M. (2011). <u>A arte de vanguarda no Brasil e seus manifestos</u>. Revista Do Instituto De Estudos Brasileiros, (53), 89-106.</p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-56570097567907615922023-09-26T10:37:00.026-03:002024-02-26T15:02:02.406-03:00Nietzsche e a Psicologia - Grupo de estudos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEip0GBqcW_eo8hIobD7Yce2MFE8nbb_LcdNbiZnLpEP-v970Z3LmZCuCGZInWDsMPuRSWYWQM17J2LY-tyJbgnWQwnl9aO65aB0oe-b47tAZcfwqwO0QyWDsD57XQkSUE8prGxB65TRv_RHKApGgh7_Eg665n3zVYE5tNWKDy68lbKlWAwmNDCf-EXT97g/s1000/nietzsche-psicologia-grupo.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="644" data-original-width="1000" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEip0GBqcW_eo8hIobD7Yce2MFE8nbb_LcdNbiZnLpEP-v970Z3LmZCuCGZInWDsMPuRSWYWQM17J2LY-tyJbgnWQwnl9aO65aB0oe-b47tAZcfwqwO0QyWDsD57XQkSUE8prGxB65TRv_RHKApGgh7_Eg665n3zVYE5tNWKDy68lbKlWAwmNDCf-EXT97g/s16000/nietzsche-psicologia-grupo.jpg" /></a></div><p></p><div style="text-align: justify;"><i>O grupo de estudos online <b>Nietzsche e a Psicologia</b> propõe diálogos e reflexões sobre as perspectivas do filósofo acerca de uma psicologia que não nega nem evita o sofrimento, mas o transforma em potência e afirmação de si.</i></div><div style="text-align: justify;"><div><br /></div><div>A psicologia é um tema que aparece em diversos textos de <b>Friedrich Nietzsche </b>(1844-1900), porém sua perspectiva se difere da tendência da psicologia científica moderna, ele contrapõe uma psicologia que julga a vida para propor uma psicologia que afirma a vida enquanto vontade criadora, para além de bem e mal, que se apropria da existência e transforma experiências de sofrimento em potência de vida.</div><div><br /></div><div>Iniciaremos com uma breve introdução sobre o filósofo, sua vida e pensamentos, depois vamos abordar seu entendimento de vida enquanto <b>vontade criadora</b> - contrário à adaptação e conservação, passaremos pelo conceito de <b>grande saúde</b> - uma saúde que se faz a partir da experiência da doença, e por fim vamos tratar sobre a <b>psicologia trágica</b> - uma proposta de psicologia que afirma a vida em sua plenitude e em seu caos.</div><div><br /></div><div><div><blockquote>"Pois não existe uma saúde em si, e todas as tentativas de definir tal coisa fracassaram miseravelmente. Depende do seu objetivo, do seu horizonte, de suas forças, de seus impulsos, seus erros e, sobretudo, dos ideais e fantasias de sua alma, determinar o que deve significar saúde também para seu corpo. Assim, há inúmeras saúdes do corpo."<br />(Friedrich Nietzsche, A saúde da alma, em ‘A Gaia Ciência’)</blockquote></div></div><div><br /></div><div>Todos os encontros acontecem online conforme as datas e horários descritos abaixo. Os encontros são abertos a qualquer pessoa interessada para trocar ideias e questões, não é necessário ter uma formação específica para participar. Cada encontro é gravado, a gravação será disponibilizada para quem não puder participar no dia e horário combinado.</div><div><br /></div></div><p></p><h3 style="text-align: justify;"><b style="font-size: medium;">Datas e temas:</b></h3><p></p><div style="text-align: justify;"><b>09/Out</b><b>/2023</b>: Introdução a Nietzsche</div><div style="text-align: justify;"><b>16/</b><b>Out</b><b>/2023</b>: Vida como criação</div><div style="text-align: justify;"><b>23/</b><b>Out</b><b>/2023</b>: A grande saúde</div><div style="text-align: justify;"><b>30/</b><b>Out/2023</b>: Psicologia trágica</div><div style="text-align: justify;">(segundas-feiras)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div><div><h3><b style="font-size: medium;">Horário e valor:</b></h3></div><div><b>Horário</b>: 19h às 20h (fuso horário de Brasília).</div><div><b>Inscrição</b>: R$ 90,00 (todos os encontros).<br /><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></div></div><div style="text-align: left;"><h3 style="text-align: justify;"><b style="font-size: medium;">Condutor:</b></h3><div style="text-align: justify;"><a href="https://draft.blogger.com/#">Bruno Carrasco</a>, professor de filosofia e psicologia, terapeuta, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em psicoterapia fenomenológico existencial, ensino de filosofia e aconselhamento filosófico.</div></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><h3><b style="font-size: medium;">Formato:</b></h3></div><div style="text-align: justify;">O grupo de estudos acontece online, via <a href="https://meet.google.com/" target="_blank">Google Meet</a>, onde é possível participar por vídeo ou áudio. Em cada encontro será utilizado um texto como referência, enviado previamente via e-mail, o texto é uma sugestão de leitura, não obrigatória. O grupo é um <b>espaço aberto</b> para a troca de entendimentos e perspectivas, não há necessidade de conhecimentos prévios para a participação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div><h3><b style="font-size: medium;">Referências bibliográficas:</b></h3></div><div><div>AMORIM, Wellington; MELO, Roberta. <u>Psicologia trágica e afirmação da existência em Nietzsche</u>. Em: Revista Trágica: estudos de filosofia da imanência. Rio de Janeiro: UFRJ, Vol. 9, no 1, 2016.</div><div>DIAS, Rosa Maria. <u>Nietzsche, vida como obra de arte</u>. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.</div><div>FEREZ, Olgária. <u>Nietzsche: vida e obra</u>. Em: NIETZSCHE, Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999.</div><div>SANTANA, Bruno. <u>Da grande saúde em Nietzsche</u>. Em: Revista Ensaios Filosóficos. Rio de Janeiro: UERJ, Volume VI, 2012.<br /><br /></div><div><h3><b style="font-size: medium;">Bibliografia complementar:</b></h3></div><div><div>CALÇADO, Thiago. <u>O Sofrimento como Redenção de Si</u>: doença e vida nas filosofias de Nietzsche e Pascal. São Paulo: Paulus, 2012.<br />CAMUS, Albert. <u>O mito de Sísifo</u>. Rio de Janeiro: BestBolso, 2019.</div><div>DELEUZE, Gilles. <u>Nietzsche</u>. Trad.: Alberto Campos. Lisboa: Edições 70, 2016.</div><div>GEN - Grupo de Estudos Nietzsche. <u>Dicionário Nietzsche</u>. São Paulo: GEN/Loyola 2016.</div><div>GIACOIA JUNIOR, Oswaldo. <u>Nietzsche como Psicólogo</u>. São Leopoldo, RS: Unisinos, 2001.</div><div>MARTON, Scarlett. <u>Nietzsche: a transvaloração dos valores</u>. São Paulo: Moderna, 1993.</div><div>NIETZSCHE, Friedrich. <u>A Gaia Ciência</u>. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.</div><div>NIETZSCHE, Friedrich. <u>Além do Bem e do Mal</u>. São Paulo: Companhia de Bolso, 2005.</div><div>NIETZSCHE, Friedrich. <u>Ecce homo</u>. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.</div><div>NIETZSCHE, Friedrich. <u>Sobre Verdade e Mentira</u>. Tradução: Fernando de Moraes Barros. São Paulo: Hedra, 2007.<br />RILKE, Rainer Maria. <u>Cartas a um jovem poeta</u>. Porto Alegre: L&PM, 2013.</div></div><div> </div></div></div></div><div><h3><b style="font-size: medium;">Observação:</b></h3></div><div>Após a inscrição você receberá em seu e-mail um link de convite para os encontros online e os textos referentes a cada encontro. Basta clicar no link para acessar o grupo no dia e horário combinado. Se tiver dúvidas, entre em <a href="https://www.ex-isto.com/p/contato.html" target="_blank">contato</a>.</div></div><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-70555449782545658442023-09-24T02:16:00.016-03:002023-09-24T10:19:45.267-03:00Ian Parker e a Psicologia Crítica<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgl21VbTX-kXC30iqQBTbd7YPA5JU8J1SeBxYXOL8IV7T04WsG9bntZ06djc_9COeruzln-HlwoKXNapMbNKNQ6V0f1T67HgR7ACQzvD4rJHRYpwXd7P1hlKBM1nP-hNfaXHyw5HKca1rlLFszpCd8VPn-UKIwqTsMvdviOB2brMzMMlNReUMJ3z02uvHU/s956/ian-parker-psicologia-critica.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="534" data-original-width="956" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgl21VbTX-kXC30iqQBTbd7YPA5JU8J1SeBxYXOL8IV7T04WsG9bntZ06djc_9COeruzln-HlwoKXNapMbNKNQ6V0f1T67HgR7ACQzvD4rJHRYpwXd7P1hlKBM1nP-hNfaXHyw5HKca1rlLFszpCd8VPn-UKIwqTsMvdviOB2brMzMMlNReUMJ3z02uvHU/s16000/ian-parker-psicologia-critica.jpg" /></a></div><p></p><p style="text-align: justify;"><b>Ian Parker</b> é psicólogo, professor e pesquisador britânico, conhecido por suas contribuições no campo da psicologia crítica. Nascido em 1956, Parker trabalha na Universidade de Manchester, na Inglaterra, e investiga a interseção entre psicologia, política e sociedade, analisando criticamente os diagnósticos psiquiátricos e as práticas terapêuticas.</p><p style="text-align: justify;">Enquanto crítico da psicologia dominante, ele aborda as relações entre o poder, a política e a ideologia e suas influências nas teorias e práticas da psicologia. Parker se posiciona em favor de uma <b><a href="https://www.ex-isto.com/search/label/Psicologia%20Cr%C3%ADtica" target="_blank">psicologia crítica</a></b>, que reflete sobre as implicações sociais e políticas dos processos de psicologização e patologização, considerando o contexto social, histórico e cultural para a compreensão das questões mentais e emocionais.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"A psicologia crítica é uma forma de dar um passo atrás e olhar para a disciplina da psicologia. Em vez de tomar como certo o que os psicólogos dizem, a psicologia crítica vira o olhar e analisa reflexivamente o que os psicólogos estão a fazer – como determinam o nosso comportamento, a forma como pensamos e as formas como especificam diferentes tipos de perturbações para nós."<br />(Ian Parker)</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Em seu livro "<b><a href="https://www.ex-isto.com/2023/08/revolucao-na-psicologia-ian-parker.html" target="_blank">Revolução na Psicologia</a></b>", ele apontou diversas críticas sobre a psicologia e psicopatologia tradicional hegemônica, criticando o reducionismo biológico, a medicalização excessiva, a normalização e patologização das diferenças, a descontextualização social da pessoa em sofrimento emocional, ao modelo padronizado de diagnóstico dos transtornos mentais, entre outras.</p><p style="text-align: justify;">Parker se coloca contrário à tendência de categorizar e rotular as características e os comportamentos que fogem aos padrões considerados como "normais". Segundo ele, isso leva a uma estigmatização e marginalização das pessoas que não se enquadram nos moldes socialmente aceitos, desconsiderando a diversidade humana e a multiplicidade de experiências.</p><p style="text-align: justify;">O autor enfatiza a importância de considerar o contexto social, político e cultural para a compreensão das questões mentais e emocionais. Ele argumenta que as experiências psicológicas devem ser analisadas levando em conta os fatores sociais e as relações de poder que afetam as pessoas, ao invés de serem explicadas exclusivamente por fatores individuais ou biológicos.</p><p style="text-align: justify;">Além disso, também coloca diversas questões sobre a validade e a utilidade dos sistemas diagnósticos utilizados na psicopatologia tradicional, como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). Segundo ele, esses sistemas são baseados em categorias arbitrárias e muitas vezes não refletem a complexidade e a singularidade da experiência humana.</p><p style="text-align: justify;">Parker colocou em questão as "verdades" estabelecidas pelos especialistas sobre a psiquê humana, entendendo a psicologia como um conjunto de discursos e teorias, que não estabelece contato com o modo como as coisas são, onde seu discurso é deslocado da realidade. Segundo ele, a psicologia opera um processo de "psicologização", tendo o papel de definir e gerenciar o comportamento das pessoas.</p><p style="text-align: justify;">Na atualidade, Parker é considerado um dos mais importantes críticos da disciplina de psicologia. Ele constatou que enquanto outras ciências sociais estabeleciam uma olhar crítico com relação ao conhecimento recebido, dialogando com temas como direitos civis e movimentos de minorias, a psicologia se manteve reforçando antigas relações de poder, patologizando os movimentos sociais. </p><p style="text-align: justify;">Parker é um dos críticos mais conhecidos da psicologia dominante, em seu trabalho ele questiona repetidamente o papel da ideologia e do poder no campo da psicologia. Suas contribuições são evidentes ao longo de sua carreira e em suas publicações, entre elas podemos destacar um livro sobre "Psicologia Crítica", de 2011, e um "Manual de Psicologia Crítica", publicado em 2015.</p><p style="text-align: justify;">A <b><a href="https://www.ex-isto.com/2023/08/psicologia-critica.html" target="_blank">psicologia crítica</a></b> busca estabelecer alianças e diálogos, ao invés de construir primeiro as teorias para dizer o que é a psicologia crítica, são estabelecidas alianças com profissionais para aprender por meio das experiências das pessoas, na prática de saúde mental, tomando como referência suas experiências, trabalhando juntos, de maneira horizontal, e não como um suposto portador do saber.</p><p style="text-align: justify;">Em sua atuação em psicologia crítica, Parker relaciona análise discursiva, a perspectiva crítica e a psicanálise, com foco em questões de ideologia e poder. Uma característica do trabalho crítico consiste em fazer reuniões com usuários de serviços de psicologia, psiquiatria ou psicoterapia, pensando criticamente a atuação prática dos profissionais, constatando suas inconsistências e seus jogos de poder.</p><p style="text-align: justify;">Entende que é preciso respeitar a especificidade dos diferentes locais de prática, tratando cada questão como operando de acordo com uma lógica distinta onde é estruturada. Além disso, atender de forma particular cada pessoa e campo de trabalho como historicamente constituído, desenvolvendo modos de análise que possibilitem transformar relações sociais, relacionando as especificidades espacial e temporal.</p><p style="text-align: justify;">Ian Parker é cofundador e atual codiretor da "Discourse Unit", uma rede interdisciplinar para acadêmicos críticos e radicais, que mantém um periódico online. Ele é professor na Universidade de Leicester, no Reino Unido, envolvido com grupos de pesquisas sobre psicologia, política e resistência. Seu maior interesse está voltado para a mudança social.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Por <a href="https://www.ex-isto.com/p/bruno-carrasco.html" target="_blank">Bruno Carrasco</a>, terapeuta, professor e questionador, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico existencial e aconselhamento filosófico. Nos últimos anos se dedica a filosofia da diferença e psicologia crítica.</p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-3477113392545549422023-09-23T08:40:00.029-03:002023-09-26T02:04:03.447-03:00O controle sutil da liberdade<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrcs0gGugTxk9NwpP3LBNd-kI4IvXZvk-TT63PHcdYNL6-CHazuuIL4OmWjfMJ7SKsTSQ4ecBe76ftlS9tnO623XqyE80O7qM23MFYXqLKHEpoXtfkntN8fvzZ7EzrP-GPNOf8p2Jiw9u3HLRH_4a7rMs1mX1UAEJCQiBPj2aJ0JtTR7cPNhr3ZVlruos/s1000/exploracao-da-liberdade.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="1000" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrcs0gGugTxk9NwpP3LBNd-kI4IvXZvk-TT63PHcdYNL6-CHazuuIL4OmWjfMJ7SKsTSQ4ecBe76ftlS9tnO623XqyE80O7qM23MFYXqLKHEpoXtfkntN8fvzZ7EzrP-GPNOf8p2Jiw9u3HLRH_4a7rMs1mX1UAEJCQiBPj2aJ0JtTR7cPNhr3ZVlruos/s16000/exploracao-da-liberdade.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;">Quando pensamos sobre a liberdade, logo nos vem a ideia de algo que nos habilita a escolher, a fazer algo, a tomar uma decisão ou exercer a nossa vontade. Parece-nos que ela nos permite decidir por conta própria, de maneira autônoma, aparenta ares de uma coisa boa, positiva e alegre. Porém, no contexto atual do capitalismo neoliberal, a liberdade se torna uma nova forma de controle e de exploração de si, segundo o filósofo sul-coreano <b>Byung-Chul Han</b>.</p><p style="text-align: justify;">A aparente autonomia de escolha está sendo cada vez mais restringida e capturada pelos mecanismos de controle que atuam sobre a mente e as emoções. Em nossa sociedade neoliberal acreditamos que somos sujeitos livres, que fazemos escolhas por conta própria, de acordo com nossos desejos, interesses e necessidades, porém esse sentimento de liberdade encobre uma forma mais sutil de <b>submissão</b>, atrelada à própria ideia de liberdade.</p><p style="text-align: justify;">Vivemos num momento onde não necessitamos mais de um chefe, um patrão ou um pai para dizer o que devemos ou não fazer, pois de certo modo já internalizamos essa figura de controle e dizemos a nós mesmos o que pode e o que não pode ser feito a cada momento. Até mesmo nosso entendimento de liberdade se associou a um conjunto de obrigações de desempenho e otimização de si, que nos levam a explorar a nós mesmos de maneira voluntária, a <b>exploração da liberdade</b> é característica de nosso tempo.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>“Hoje, acreditamos que não somos sujeitos submissos, mas projetos livres, que se esboçam e se reinventam incessantemente (...). O «eu» como projeto, que acreditava ter se libertado das coerções externas e das restrições impostas por outros, submete-se agora a coações internas, na forma de obrigações de desempenho e otimização.”<br />(Byung-Chul Han, em 'Psicopolítica')</blockquote><p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial;"></p><div style="text-align: justify;">As novas técnicas perceberam que explorar uma pessoa contra a sua vontade não é um procedimento muito eficiente, constataram que <b>explorar a vontade</b> da pessoa possibilitaria um melhor aproveitamento de seus "recursos humanos". Com isso, se tornou uma prática cada vez mais comum as técnicas motivacionais, os mimos de rendimento, o quadro do funcionário do mês, e as premiações para aqueles que superam as metas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O neoliberalismo passou a explorar tudo aquilo que se relaciona com a expressão da liberdade, transformando o trabalhador num empreendedor de si mesmo. Hoje, cada um de nós se explora para sua própria "empresa". Somos, ao mesmo tempo, senhores e servos numa única pessoa, a luta de classes agora possui uma dimensão interna e individual. Supondo-se livre, o <b>sujeito do desempenho</b> é um submisso constante das obrigações que estabelece sobre si.</div><p></p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>“O sujeito do desempenho, que se julga livre, é na realidade um servo: é um servo absoluto, na medida em que, sem um senhor, explora voluntariamente a si mesmo.”<br />(Byung-Chul Han, em 'Psicopolítica')</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">A grande ilusão difundida na sociedade neoliberal é que qualquer pessoa, enquanto projeto de si, que se esboça livremente, é capaz de uma <b>autoprodução ilimitada</b>. Acreditamos sermos os únicos responsáveis de nosso sucesso ou fracasso nessa busca constante por otimização, desempenho e sucesso pessoal. Porém, essa autoprodução tem seus limites, e nem todos conseguem atingir as metas impostas pela cultura do desempenho, muitos são os que não alcançam as metas e acabam sucumbindo.</p><p style="text-align: justify;">Quando a pessoa não alcança os resultados esperados, não cumpre com suas metas e objetivos, ela não vê a cultura organizacional ou as exigências de desempenho como um problema, mas percebe a si mesma como um problema, como uma "peça com defeito", que precisa ser corrigida e ajustada para voltar a produzir mais e melhor. Essa pessoa se deprime por não se sentir adequada numa sociedade que cobra uma <b>produção incessante e exaustiva de si</b>.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>“Quem fracassa na sociedade neoliberal de desempenho, em vez de questionar a sociedade ou o sistema, considera a si mesmo como responsável e se envergonha por isso.”<br />(Byung-Chul Han, em 'Psicopolítica')</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">O mais curioso é que o regime neoliberal não tolera resistências, as formas de controle operam internamente, de maneira mais sutil e pouco perceptível. Nesse cenário, multiplicam os terapeutas, psicólogos e <i>coaches</i>, dispostos a "curar" aqueles que se sentem depressivos e incapazes. Essa "cura" não propõe uma transformação social, mas o <b>ajustamento do indivíduo ao sistema</b>. Discursos motivacionais são utilizados como soluções para a ansiedade e o <i>burnout</i> nessa era de autoexploração.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>“(...) no regime neoliberal de autoexploração, a agressão é dirigida contra nós mesmos. Ela não transforma os explorados em revolucionários, mas sim em depressivos.”<br />(Byung-Chul Han, em 'Psicopolítica')</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Como um aprimoramento da sociedade disciplinar, apresentada por Foucault, vivemos diante de um <b>pan-óptico digital</b>, onde nos expomos voluntariamente nas redes sociais. Essa sociedade digital de controle usa intensivamente a nossa liberdade, nos incentivando a uma autoexposição voluntária. Ninguém nos obriga a compartilhar detalhes sobre nossas vidas nas redes sociais, mas fazemos isso diariamente, alimentando os bancos de dados com informações sobre nossos interesses e preferências.</p><p></p><p style="text-align: justify;"><b>O alvo dessa forma de controle é a nossa vontade própria</b>, constantemente capturada pelos anúncios que saltam em nossos aplicativos de celulares, computadores e <i>tablets</i>, de acordo com nossos interesses ou sobre algo que estamos em vias de escolher. Esses dispositivos utilizam as informações que enviamos para mostrar propagandas e gerar desejo de consumo. Assim seguimos para um futuro onde nos tornamos peças quantificáveis, mensuráveis e controláveis num quebra-cabeças mais amplo.</p><p style="text-align: justify;">Tudo isso nos faz colocar questões sobre esse ideal de busca pelo controle, segurança e estabilidade, que surge inicialmente no início da modernidade, se ampliando no período iluminista, mas que, diferente do esperado, não alcançou a autonomia e a emancipação dos seres humanos. Pelo contrário, estamos nos encaminhando para uma era em que <b>nos tornamos "autômatos" digitais</b>, controlados por algoritmos que configuram nossas escolhas e comportamentos.</p><p style="text-align: justify;">A exploração da liberdade no contexto neoliberal levanta questões sobre as relações sociais e de trabalho na atualidade. Será que nossa busca incessante pela autossuperação e pelo bem-estar está nos tornando mais livres ou submissos? Estamos caminhando para uma vida mais saudável ou mais controlados sem perceber a sutileza dos mecanismos de controle, supondo que somos livres? O neoliberalismo nos oferece uma <b>ilusão de liberdade</b>, enquanto nos tornamos, de fato, cada vez mais submissos.<br /></p><p style="text-align: justify;"><br />Por <a href="https://www.ex-isto.com/p/bruno-carrasco.html" target="_blank">Bruno Carrasco</a>, terapeuta, professor e questionador, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico existencial e aconselhamento filosófico. Nos últimos anos se dedica a filosofia da diferença e psicologia crítica.</p><p style="text-align: justify;">Referência:<br />HAN, Byung-Chul. <b>Psicopolítica: o neoliberalismo e as novas técnicas de poder</b>. Tradução: Maurício Liesen. Belo Horizonte: Âyné, 2020.</p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-53096799230113944552023-09-21T23:16:00.000-03:002023-09-29T20:19:31.645-03:00Ser sadio não é ser normal<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTgvKExm1rMwrNEa2Il_VGyJK453PAjAgla64ueqV3Q5jMeaq1KKwyY7ywgutkBpV9EkspNEqll-YoRxmvog8dPPosc8Kilx6XlgbAqjhPCuX9PlFSBFiTkTnv7ybJsluvsLwbdm887pBtiHrt-sEKJZmeg6_Z1P5UAHrvsn1wQSv23NIEM-bWm0od5wM/s1069/normal-patologico-psicologia.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="542" data-original-width="1069" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTgvKExm1rMwrNEa2Il_VGyJK453PAjAgla64ueqV3Q5jMeaq1KKwyY7ywgutkBpV9EkspNEqll-YoRxmvog8dPPosc8Kilx6XlgbAqjhPCuX9PlFSBFiTkTnv7ybJsluvsLwbdm887pBtiHrt-sEKJZmeg6_Z1P5UAHrvsn1wQSv23NIEM-bWm0od5wM/s16000/normal-patologico-psicologia.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;"><b>Normal </b>e <b>patológico </b>são termos que parecem não necessitar de explicações, como se todas as pessoas soubessem distinguir o que é um comportamento normal de um comportamento patológico. Porém, quando paramos para pensar e tentar descrever cada um deles, sentimos uma grande dificuldade em conceituar. O que é considerado normal para um grupo social pode ser considerado patológico para outro, e vice-versa.</p><p style="text-align: justify;">Todo trabalho em clínica terapêutica se orienta a partir de noções de normal e patológico, desde o início da terapia até o momento de avaliar seus resultados. Essas questões deveriam estar no centro da reflexão sobre a clínica, porém nem sempre isso acontece. Muitos terapeutas acabam reproduzindo o imaginário social que possuem sobre a normalidade e a patologia, entendendo como patológico aquele que se difere da maioria, de uma "<b>normalidade social</b>".</p><p style="text-align: justify;">Há um ideal de saúde adequada que entende tudo o que difere deste ideal em patologia, percebendo as pessoas que não compactuam com este ideal como desviantes e inadequadas, como se elas devessem ser ajustadas a esta "normalidade". O filósofo e médico francês <b>Georges Canguilhem</b> (1904-1995), mencionou em '<a href="https://www.ex-isto.com/2022/08/normal-e-patologico-canguilhem.html" target="_blank">O Normal e o Patológico</a>', que o tratamento de um sofrimento visa sempre a restauração de um estado "normal" e que essa prática é orientada por valores.</p><p style="text-align: justify;">Para Canguilhem, não é possível delimitar as diferenças entre as noções de "normal" e "patológico" de maneira objetiva, pois nem todo desvio a normalidade é uma doença, do mesmo modo que viver de acordo com normalidade não é sinônimo de saúde. O "normal" costuma ser entendido como o mais frequente, porém o saudável pode ser entendido como uma capacidade de <b>criar outras maneiras</b> de funcionamento para se preservar ou ampliar a saúde do organismo.</p><p style="text-align: justify;">Neste sentido, não é possível utilizar medidas meramente objetivas, padronizadas e generalistas para avaliar o que é o saudável, pois é preciso compreender o quanto tal experiência possibilita ou reduz o processo de manutenção e ampliação da vida, o quanto ela permite ampliar própria <b>experiência de saúde</b>. Deste modo, é impossível descrever um fato normal ou patológico em si mesmo, sem avaliar os efeitos sobre cada pessoa e organismo.</p><p style="text-align: justify;">Canguilhem propõe a noção de "<b>normatividade vital</b>", entendendo como uma capacidade de enfrentar situações adversas e obstáculos que afetam a vida, e encontrar outras maneiras de lidar com eles. Nesta perspectiva, o patológico teria como característica uma incapacidade de enfrentar desafios, uma espécie de estreitamento das possibilidades de ação de uma pessoa frente ao sofrimento. Ele propõe a adoção de uma perspectiva vitalista ao invés de mecanicista, entendendo a vida enquanto polaridade e fluxo constantes.</p><p></p><div style="text-align: justify;"><blockquote>"A doença não é somente desequilíbrio ou desarmonia; ela é também, e talvez sobretudo, o esforço que a natureza exerce no homem para obter um novo equilíbrio. A doença é uma reação generalizada com intenção de cura. O organismo desenvolve uma doença para se curar. A terapêutica deve, em primeiro lugar, tolerar e, se necessário, até reforçar essas reações hedônicas e terapêuticas espontâneas."<br/>(Canguilhem, em 'O normal e o patológico')</blockquote></div><p></p><p style="text-align: justify;">Para avaliar a <b>saúde </b>ou a <b>doença</b>, seria preciso avaliar as pessoas e o contexto onde vivem, seus relacionamentos, seu trabalho, a cidade, o clima, etc. Nessas relações pode acontecer circunstâncias favoráveis ou desfavoráveis, estabilidade ou variabilidade. Por isso, a saúde não pode ser pensada enquanto uma mera adaptação bem sucedida do indivíduo ao meio, mas como uma possibilidade de criação de novas normas de vida e de reestruturação da relação entre indivíduo e meio. </p><p style="text-align: justify;">A patologia não precisa ser entendida como uma ausência de algo, uma desordem ou negatividade, mas pode ser entendida como uma resposta, um recurso do organismo para reequilibrar sua relação com o meio. Nesta perspectiva, a patologia demanda a necessidade de <b>produção de novas normas</b>, possibilitando a reestruturação do mundo vivido para o surgimento de outros modos possíveis de se inserir no mundo, de se relacionar com os outros e consigo mesmo.</p><p></p><div style="text-align: justify;"><blockquote>"De fato, assim me aparece agora aquele longo tempo de doença: descobri a vida e a mim mesmo como que de novo, saboreei todas as boas e mesmo pequenas coisas, como outros não as teriam sabido saborear — fiz da minha vontade de saúde, de vida, a minha filosofia..."<br/>(Nietzsche, em 'Ecce Homo')<div style="text-align: justify;"></div><p></p><p style="text-align: justify;">Numa <b>perspectiva vitalista</b>, a saúde não seria um estado de ausência de doença, mas uma disponibilidade vital que possibilita o indivíduo adoecer e se recuperar. Ser sadio não é ser normal, pois a saúde implica a doença, depende dela para se fazer saúde. É a partir da experiência da doença que é possível emergir a experiência de saúde, como uma reestruturação nos modos de vida.</p><p></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por <a href="https://www.ex-isto.com/p/bruno-carrasco.html" target="_blank">Bruno Carrasco</a>, terapeuta, professor e questionador, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico existencial e aconselhamento filosófico. Nos últimos anos se dedica a filosofia da diferença e psicologia crítica.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Referências:<br /><div>BEZERRA JUNIOR, Benilton. <u>O normal e o patológico: uma discussão atual</u>. Em: SOUZA, Alicia Navarro; PITANGUY, Jacqueline. (Orgs.). Saúde, corpo e sociedade. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2006.</div></div><div style="text-align: justify;">CANGUILHEM, Georges. <u>O normal e o patológico</u>. Trad.: Mana Thereza Redig de Carvalho Barrocas. 6. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.</div><div style="text-align: justify;">NIETZSCHE, Friedrich. <u>Ecce homo</u>: como alguém se torna o que é. Trad.: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.</div><p></p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-12518429665169956572023-09-20T01:45:00.001-03:002023-10-04T19:42:19.126-03:00Aurora - Nietzsche<p style="text-align: justify;"><b>Aurora</b> é uma obra do filósofo <b>Friedrich Nietzsche</b>, tendo como subtítulo "reflexões sobre os preconceitos morais", foi publicada em 1881, composta por 575 aforismos divididos em cinco livros. Em seus textos ele aborda sobre o desprendimento dos preconceitos morais que atuam na vida, preconceitos estes constituídos historicamente e mantidos pela tradição.</p><p style="text-align: justify;">A moralidade é entendida como a obediência aos costumes, sejam estes quais forem. Em seus aforismos, o filósofo propõe romper a maneira tradicional avaliar e agir, evidenciando a capacidade criadora e inventiva, desmistificando as perspectivas morais estabelecidas pela tradição. Com isso, o indivíduo se percebe criador de valores, capaz de romper a tradição da moralidade.</p><p style="text-align: justify;">Nietzsche menciona em seu livro sobre a história dos costumes e da moralidade, e a história do pensamento e do conhecimento, destacando os preconceitos da tradição, analisando a história dos sentimentos morais, dos preconceitos filosóficos e dos preconceitos morais. Sua aurora anuncia um novo dia, um novo despertar para a vida.<br /><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsw9wS8eNAlVh00y3r3xx_YmZg_CHSZ2sj-Z0zXGprudUpBvMcBaqYnjHkJ9afFjKs7_l4TmMSXlkC3A0KaSv2nOmJ1syk1KQejbFHNI0KlVqQ_WUZXw6zF-IraN3rFGSkiDfA4FpSr3vcYH6LD8F7p-X1urwF9-FkGGSb_DzD6CZYhsKneTXYu6VLZ4k/s650/aurora-nietzsche.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="650" data-original-width="445" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsw9wS8eNAlVh00y3r3xx_YmZg_CHSZ2sj-Z0zXGprudUpBvMcBaqYnjHkJ9afFjKs7_l4TmMSXlkC3A0KaSv2nOmJ1syk1KQejbFHNI0KlVqQ_WUZXw6zF-IraN3rFGSkiDfA4FpSr3vcYH6LD8F7p-X1urwF9-FkGGSb_DzD6CZYhsKneTXYu6VLZ4k/w274-h400/aurora-nietzsche.jpg" width="274" /></a></div><p></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><u>Trechos do livro</u>:</div><p></p><p style="text-align: justify;">— Naquele tempo empreendi algo que pode não ser para qualquer um: desci à profundeza, penetrei no alicerce, comecei a investigar e escavar uma velha confiança, sobre a qual nós, filósofos, há alguns milênios construíamos, como se fora o mais seguro fundamento — e sempre de novo, embora todo edifício desmoronasse até hoje: eu me pus a solapar nossa confiança na moral. Estão me compreendendo?</p><p style="text-align: justify;">Até agora, foi sobre o bem e o mal que se refletiu da pior maneira: sempre foi um tema demasiado perigoso. A consciência, a boa reputação, o inferno, às vezes até a polícia não permitiam e não permitem a imparcialidade; na presença da moral, como diante de toda autoridade, não se deve pensar, menos ainda falar: aí — se obedece! Desde que o mundo é mundo, autoridade nenhuma se dispôs a ser alvo de crítica; e criticar a moral, tomá-la como problema, como problemática: o quê? isso não era — não é — imoral?</p><p style="text-align: justify;">A resposta correta seria, isto sim, que todos os filósofos construíram sob a sedução da moral</p><p style="text-align: justify;">Mas os juízos de valor lógicos não são os mais profundos e mais fundamentais a que pode descer a ousadia de nossa suspeita: a confiança na razão, com que se sustenta ou cai a validez desses juízos, é, sendo confiança, um fenômeno moral…</p><p style="text-align: justify;">Em nós se
realiza, supondo que desejem uma fórmula — a auto-supressão da moral.</p><p style="text-align: justify;">E finalmente: por que deveríamos dizer tão alto e com tal fervor aquilo que somos, que queremos ou não queremos? Vamos observá-lo de modo mais frio, mais distante, com mais prudência, de uma maior altura; vamos dizê-lo, como pode ser dito entre nós, tão discretamente que o mundo não o ouça, que o mundo não nos ouça! Sobretudo, digamo-lo lentamente... </p><p style="text-align: justify;">Um tal livro, um tal problema não tem pressa; além do que, ambos somos amigos do lento, tanto eu como meu livro. Não fui filólogo em vão, talvez o seja ainda, isto é, um professor da lenta leitura: — afinal, também escrevemos lentamente.</p><p style="text-align: justify;">a moralidade não é outra coisa (e, portanto, não mais!) do que obediência a costumes, não importa quais sejam; mas costumes são a maneira tradicional de agir e avaliar. Em coisas nas quais nenhuma tradição manda não existe moralidade; e quanto menos a vida é determinada pela tradição, tanto menor é o círculo da moralidade. O homem livre é não-moral, porque em tudo quer depender de si, não de uma tradição: em todos os estados originais da humanidade, “mau” significa o mesmo que “individual”, “livre”, “arbitrário”, “inusitado”, “inaudito”, “imprevisível”.</p><p style="text-align: justify;">O que é a tradição? Uma autoridade superior, a que se obedece não porque ordena o que nos é útil, mas porque ordena. — O que distingue esse sentimento ante a tradição do sentimento do medo?</p><p style="text-align: justify;">ela exigia que alguém observasse os preceitos sem pensar em si como indivíduo. Originalmente, portanto, tudo era costume, e quem quisesse erguer-se acima dele tinha que se tornar legislador e curandeiro, e uma espécie de semideus: isto é, tinha de criar costumes — algo terrível, mortalmente perigoso!</p><p style="text-align: justify;">Não nos enganemos quanto ao motivo da moral que requer, como indício da moralidade, a mais difícil obediência do costume! A auto-superação é exigida não por suas conseqüências úteis para o indivíduo, mas a fim de que o costume, a tradição apareça vigorando, não obstante toda vantagem e desejo individual: o indivíduo deve sacrificar-se — assim reza a moralidade do costume.</p><p style="text-align: justify;">Cada ação individual, cada modo de pensar individual provoca horror; é impossível calcular o que justamente os espíritos mais raros, mais seletos, mais originais da história devem ter sofrido pelo fato de serem percebidos como maus e perigosos, por perceberem a si próprios assim. Sob o domínio da moralidade do costume, toda espécie de originalidade adquiriu má consciência; até o momento de hoje, o horizonte dos melhores tornou-se ainda mais sombrio do que deveria ser.</p><p style="text-align: justify;">Avancemos mais um passo: todos os homens superiores, que eram irresistivelmente levados a romper o jugo de uma moralidade e instaurar novas leis, não tiveram alternativa, caso não fossem realmente loucos, senão tornar-se ou fazer-se de loucos.</p><p style="text-align: justify;">Cada pequeno passo no âmbito do livre pensar, da vida pessoalmente configurada, sempre foi pelejado com martírios físicos e espirituais: não apenas o passo à frente!</p><p style="text-align: justify;">O costume representa as experiências dos homens passados acerca do que presumiam ser útil ou prejudicial — mas o sentimento do costume (moralidade) não diz respeito àquelas experiências como tais, e sim à idade, santidade, indiscutibilidade do costume. E assim este sentimento é um obstáculo a que se tenham novas experiências e se corrijam os costumes: ou seja, a moralidade opõe-se ao surgimento de novos e melhores costumes: ela torna estúpido.</p><p style="text-align: justify;">Todo aquele que subverteu a lei de costume existente foi tido inicialmente como homem mau: mas se, como sucedeu, depois não se conseguia restabelecê-la e as pessoas acomodavam-se a isso, o predicado mudava gradualmente; — a história trata quase exclusivamente desses homens maus, que depois foram abonados, considerados bons!</p><p style="text-align: justify;">Não nego, como é evidente — a menos que eu seja um tolo —,
que muitas ações consideradas imorais devem ser evitadas e combatidas; do
mesmo modo, que muitas consideradas morais devem ser praticadas e promovidas
— mas acho que, num caso e no outro, por razões outras que as de até agora.
Temos que aprender a pensar de outra forma — para enfim, talvez bem mais
tarde, alcançar ainda mais: sentir de outra forma.</p><p style="text-align: justify;">Construir novamente as leis da vida e do agir — para essa tarefa nossas ciências da fisiologia, da medicina, da sociedade e da solidão não se acham ainda suficientemente seguras de si: e somente delas podemos extrair as pedras fundamentais para novos ideais (se não os próprios ideais mesmos). De modo que levamos uma existência provisória ou uma existência póstuma, conforme o gosto e o talento, e o melhor que fazemos, nesse interregno, é ser o máximo possível nossos próprios reges [reis] e fundar pequenos Estados experimentais. Nós somos experimentos: sejamo-lo de bom grado!</p><p style="text-align: justify;">Se uma transformação deve ser a mais profunda possível, que o remédio seja dado em doses mínimas, mas ininterruptamente, por longos períodos! Que coisa grande pode ser criada de uma vez? Cuidemos, então, de não trocar apressadamente e com violência o estado da moral a que estamos habituados por uma nova valoração das coisas — não, queremos continuar vivendo nele ainda por muito tempo — até nos darmos conta, provavelmente bem depois, de que a nova valoração tornou-se em nós a força predominante e que as suas pequenas doses, a que temos de nos acostumar de agora em diante, plantaram em nós uma nova natureza.</p><p></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Fonte:</div><div style="text-align: justify;">NIETZSCHE, Friedrich W. <b>Aurora</b>: reflexões sobre os preconceitos morais. Tradução: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia de Bolso, 2016.</div><p></p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-27781675909160500242023-08-31T10:47:00.017-03:002024-02-26T15:01:20.696-03:00Foucault e o Poder - Grupo de estudos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-6uFTWqgBnovzRUl8q7zhXAdHRq3D6ao8hntiw1g9Nw8ndME9NKs2TfufLcQObNhK8X2e8kv_LPNsLsB4H-nLp0OJzLNDOXWbq8DdUrviOhcSO6Ss4WjRepTpYClZu3esXdrB15w-m-LXsaclu0Hu67T7gfgPy20QQt4sXt-OododhjchFzlkfpjJvzM/s1080/foucault-poder-grupo.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="622" data-original-width="1080" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-6uFTWqgBnovzRUl8q7zhXAdHRq3D6ao8hntiw1g9Nw8ndME9NKs2TfufLcQObNhK8X2e8kv_LPNsLsB4H-nLp0OJzLNDOXWbq8DdUrviOhcSO6Ss4WjRepTpYClZu3esXdrB15w-m-LXsaclu0Hu67T7gfgPy20QQt4sXt-OododhjchFzlkfpjJvzM/s16000/foucault-poder-grupo.jpg" /></a></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;"><i>Este grupo de estudos tem aborda a temática do poder a partir de Foucault. Segundo ele, o poder não é algo que se tenha, como uma propriedade, mas algo que acontece nas relações.</i></div><div style="text-align: justify;"><div><div><br /></div><div><div>Exploraremos sobre o <b>poder e suas implicações</b> na sociedade e nos sujeitos, a partir das perspectivas do filósofo francês <b>Michel Foucault</b>, que analisou o modo como o poder é exercido nas relações, como atua sobre os corpos individualmente e em grupos de pessoas.</div><div><br /></div><div>Iniciaremos mencionando sua <b>analítica do poder</b>, que entende o poder como algo que acontece em relação. Seguiremos tratando sobre o <b>poder disciplinar</b>, as técnicas de controle de corpos utilizadas em diversas instituições, que configuram os comportamentos e a subjetividade.</div><div><br /></div><div>Depois vamos tratar sobre o <b>biopoder</b>, quando o poder se volta para a gestão da vida e da população, onde o Estado moderno exerce um controle sobre a vida das pessoas. Por fim, exploraremos a relação entre <b>poder e saber</b>, entendendo como o conhecimento é utilizado enquanto ferramenta de poder.</div><div><br /></div></div></div></div><p></p><h3 style="text-align: justify;"><b style="font-size: medium;">Datas e temas:</b></h3><div><span><div><b>09/Set/2023</b>: Analítica do poder</div><div><b>16/Set</b><b>/2023</b>: Poder disciplinar</div><div><b>23/Set</b><b>/2023</b>: Biopoder</div><div><b>30/Set</b><b>/2023</b>: Poder-saber</div></span></div><div style="text-align: justify;"><div>(aos sábados)</div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div><div><h3><b style="font-size: medium;">Horário e valor:</b></h3></div><div><b>Horário</b>: 10h às 11h (horário de Brasília)<br /><b>Meio</b>: Google Meet (online)</div><div><b>Inscrição</b>: R$ 90,00<br /><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></div></div><div style="text-align: left;"><h3 style="text-align: justify;"><b style="font-size: medium;">Condutor:</b></h3><div style="text-align: justify;"><a href="https://draft.blogger.com/#">Bruno Carrasco</a>, professor de filosofia e psicologia, terapeuta, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em psicoterapia fenomenológico existencial, ensino de filosofia e aconselhamento filosófico.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><h3><b style="font-size: medium;">Bibliografia:</b></h3><div><div>CASTRO, Edgardo. <u>Introdução a Foucault</u>. Belo Horizonte: Autentica Editora, 2014.</div><div>DÍAZ, Esther. <u>A filosofia de Michel Foucault</u>. São Paulo: Editora Unesp, 2012.</div><div>FOUCAULT, Michel. <u>Microfísica do poder</u>. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985.</div><div>FOUCAULT, Michel. <u>Vigiar e Punir</u>: nascimento da prisão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.</div><div>REVEL, Judith. <u>Michel Foucault</u>: conceitos essenciais. São Carlos: Claraluz, 2005.</div>TAYLOR, Dianna (org.). <u>Michel Foucault</u>: conceitos fundamentais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018.<br /><br /></div></div></div><div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><h3><b style="font-size: medium;">Formato:</b></h3></div><div style="text-align: justify;">O grupo de estudos acontece online, via <a href="https://meet.google.com/" target="_blank">Google Meet</a>, onde é possível participar por vídeo ou áudio. Em cada encontro será utilizado um texto como referência, enviado previamente via e-mail. Para participar não é necessário ter alguma formação específica, o grupo é um <b>espaço aberto</b> para troca de perspectivas, para qualquer pessoa que tenha interesse no tema.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div></div><div><h3><b style="font-size: medium;">Observações:</b></h3></div><div>Após a inscrição você receberá em seu e-mail um link de convite para os encontros online e os textos de referência para cada encontro. Basta clicar no link para acessar o grupo no dia e horário combinado. <span style="text-align: left;">Os encontros são gravados, a gravação será enviada dois dias após cada encontro. </span>Se tiver dúvidas, entre em <a href="https://www.ex-isto.com/p/contato.html" target="_blank">contato</a>.</div></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-10958149973135043542023-08-28T21:21:00.022-03:002023-11-02T14:52:16.030-03:00O que é Psicologia Crítica?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmGyMz9q0KvU0FWYOxkyVXNGAn8jBBBsJrHHzvZw9nE3YarxAePDX0_sd28_VPcr6n5-Tojzt5I_SOeNzru0IfzArw2u68UeTHmL6lvbkmjTRG3MG75gnMTIjc7SN6weRuz3lDuHsdm94CGhyVhmSIGJ_cDt8gePpCgNeEXBM_mLmFouzzJbwQkqUn3Tk/s999/psicologia-critica.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="596" data-original-width="999" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmGyMz9q0KvU0FWYOxkyVXNGAn8jBBBsJrHHzvZw9nE3YarxAePDX0_sd28_VPcr6n5-Tojzt5I_SOeNzru0IfzArw2u68UeTHmL6lvbkmjTRG3MG75gnMTIjc7SN6weRuz3lDuHsdm94CGhyVhmSIGJ_cDt8gePpCgNeEXBM_mLmFouzzJbwQkqUn3Tk/s16000/psicologia-critica.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;"><b><a href="https://www.ex-isto.com/search/label/Psicologia%20Cr%C3%ADtica" target="_blank">Psicologia Crítica</a></b> é uma perspectiva que emerge a partir de uma análise aprofundada sobre a própria <a href="https://www.ex-isto.com/search/label/Psicologia" target="_blank">psicologia</a>, lançando um olhar perspicaz sobre suas teorias e práticas, percebendo suas falhas e problemas. Sua proposta é <b>problematizar a psicologia</b>, refletindo sobre seus saberes e sua atuação a partir de um olhar mais abrangente e reflexivo, de modo a repensar suas teorias e sua intervenção.</p><p style="text-align: justify;">Esta proposta se inicia por uma <b>análise</b> e mapeamento da própria psicologia, colocando em questão seus saberes e práticas, percebendo seus interesses escusos e anacronismos. Trata-se de uma crítica onde a psicologia se distancia de si mesma para refletir sobre seus saberes e atuação, se percebendo inserida num sistema mais amplo moral, social, econômico e político.</p><p style="text-align: justify;">Por meio de uma <b>atitude crítica</b>, passamos a encarar a psicologia em seu papel e atuação na sociedade, reconhecendo suas interseções, suas cumplicidades ideológicas e políticas, e intenções não declaradas. Para se fazer crítica em psicologia, é preciso se distanciar da psicologia, de suas teorias e "verdades" estabelecidas, problematizando e refletindo as implicações da psicologia sobre as pessoas e a sociedade como um todo, reconhecendo seus atravessamentos e intuitos.</p><p style="text-align: justify;">Uma perspectiva crítica entende que a <b>psicologia</b> não é uma disciplina neutra e objetiva, mas que tanto em seus estudos como em sua atuação ela compactua com uma ideologia dominante e uma moralidade específica, se posicionando a favor de um modelo de vida e de relações, comumente em favor da economia capitalista e de uma visão eurocêntrica, onde suas intervenções se associam a um sistema moral e normativo.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"A psicologia crítica é uma forma de dar um passo atrás e olhar para a disciplina da psicologia. Em vez de tomar como certo o que os psicólogos dizem, a psicologia crítica vira o olhar e analisa reflexivamente o que os psicólogos estão a fazer – como determinam o nosso comportamento, a forma como pensamos e as formas como especificam diferentes tipos de perturbações para nós."<br />(Ian Parker)</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Essa reflexão crítica demanda uma parada na atividade técnica da psicologia, para questionar sobre ela mesma, com questões como: <b>Para quem serve a Psicologia?</b> O que fundamenta as noções de "normal" e "patológico"? Como é definida a personalidade "adequada" ou "saudável"? Quem são os "divergentes" ou "inadequados"? Quais os sistemas morais e ideológicos que a psicologia sustenta? Esse questionamento tem como intuito pensar outros entendimentos e atuações possíveis na psicologia, para não seguir compactuando com uma prática normativa e tecnicista.</p><p style="text-align: justify;">Coloca-se em questão o modo como a psicologia, enquanto ciência independente, se constituiu e se desenvolveu, gerando um <b>controle normativo</b>, mantendo um modo de vida "adaptada" a um sistema, gerando um controle cada vez mais penetrante sobre os indivíduos em suas peculiaridades, evitando os comportamentos entendidos por "anormais", percebendo como esse controle esteve associado a intuitos ideológicos e políticos, para a manutenção de um modelo específico de sociedade e de vida.</p><p style="text-align: justify;">A <b>perspectiva crítica</b> entende que é urgente nos questionar sobre o que estamos fazendo, porque estamos fazendo, para que estamos fazendo e para quem estamos fazendo. Assim, desconfiamos das "verdades" produzidas e das teorias prontas, de modo a entender o intuito em que esses saberes foram criados e são mantidos. Entende que as "verdades" são produzidas sempre dentro de um contexto, com intuitos específicos.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"É interessante notar que nossas construções ideais de saúde e de normalidade em geral abrigam valores morais da cultura dominante da sociedade; por serem dominantes, instalaram-se na ciência e na profissão como referência para o comportamento e as formas de ser dos sujeitos. O problema maior está em que não temos assumido essa adesão. Temos apontado esses valores e referências como naturais do homem; como universais. Desta forma, trabalhamos para manter os valores dominantes e para justificá-los como a única possibilidade de estar no mundo. O diferente passa a ser combatido; visto como crise, como desajuste ou desequilíbrio; passa a ser "tratado", com a finalidade do retorno à condição saudável e natural do homem. A Psicologia torna-se assim uma profissão conservadora que trabalha para impedir o surgimento do novo."<br />(Ana Bock, em 'Psicologia Sócio-Histórica')</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Trata-se de despertar uma <b>consciência política na psicologia</b>, que habilita a pensar outras formas de compreensão sobre a existência e o sofrimento emocional, habilitando outros modos de vida, que rompem com a lógica dominante e com a perspectiva hegemônica, dando lugar à diferença, aos divergentes, e todos aqueles que não compactuam com a moral dominante e o modo de vida suscitado pelo capitalismo neoliberal.</p><p style="text-align: justify;">Seu intuito principal é libertar os indivíduos de serem objetificados, capacitando-os a se desvencilharem dos fardos impostos pelas normas psicológicas estabelecidas. Para isso analisa e questiona as estruturas sociais, políticas e culturais que influenciam a psicologia hegemônica, abrindo caminho para a <b>descolonização da psicologia</b>, despsicologizando a vida e dando voz às perspectivas de grupos historicamente marginalizados ou oprimidos, como diversidades étnicas, LGBTQ+, entre outros.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>“A arte de viver é matar a psicologia, criar consigo e com outras individualidades, seres, relações, qualidades que sejam inomináveis.”<br />(Michel Foucault)</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Por meio da crítica à psicologia, é possível habilitar os <b>divergentes</b>, os excluídos e marginalizados, os diferentes e excêntricos, habilitando outros modos de ser, viver, se relacionar, se perceber e lidar consigo mesmo, possibilitando modos de vida que escapam a lógica neoliberal e eurocêntrica. Com a crítica, pretende-se retirar da psicologia suas cumplicidades ideológicas, vislumbrando outras perspectivas e atuações alternativas.<br /><br /></p><p style="text-align: justify;">Por <a href="https://www.ex-isto.com/p/bruno-carrasco.html" target="_blank">Bruno Carrasco</a>, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.</p><p style="text-align: justify;">Referências:<br />BOCK, Ana M.; GONÇALVES, Maria da G.; FURTADO, Odair. (orgs). <u>Psicologia Sócio-Histórica</u>: uma perspectiva crítica em psicologia. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2015.<br />FOUCAULT, Michel. <u>Entre o amor e os estados de paixão</u>: Conversa com Werner Schroeder (pp. 39-47, W. Flor, trad.). Paris: Goethe Institute, 1982.<br />PARKER, Ian. <u>Revolução na psicologia</u>: da alienação à emancipação. Campinas, SP: Alínea, 2014.</p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-66347511184707543562023-08-27T18:15:00.015-03:002023-08-28T16:30:02.760-03:00Leitura de textos filosóficos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZ7V-vlREUaPivxMrmTtya_LaO9LMhAobS3ReC4vVhs2PPNhdLOLKxg48M8RfyZrTf8cUxq57jM9geQmxZNdN1F_k3R0cYtC8bT0YsHcnXPGUhtvCh8w-9hxtkAmwOey_cY-ftBMaVE5rlgSuFmedkpcxdcOwWgvVOM6kXfTdE5CC76iMPGG-g45BF21A/s900/como-ler-textos-filosofia.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="494" data-original-width="900" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZ7V-vlREUaPivxMrmTtya_LaO9LMhAobS3ReC4vVhs2PPNhdLOLKxg48M8RfyZrTf8cUxq57jM9geQmxZNdN1F_k3R0cYtC8bT0YsHcnXPGUhtvCh8w-9hxtkAmwOey_cY-ftBMaVE5rlgSuFmedkpcxdcOwWgvVOM6kXfTdE5CC76iMPGG-g45BF21A/s16000/como-ler-textos-filosofia.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;">A <b>leitura de textos filosóficos</b> é uma atividade fundamental para o exercício da <a href="https://www.ex-isto.com/2023/06/importancia-filosofia.html" target="_blank">filosofia</a>, do pensamento e da reflexão filosófica. Esse tipo de leitura exige um enfoque específico, um certo conhecimento geral em filosofia, de sua história e vertentes, para que seja possível um maior entendimento e análise do texto, bem como uma interpretação crítica, alcançando os sentidos expressos e aqueles que permanecem nas entrelinhas.</p><p style="text-align: justify;">Esta atividade não é simples, principalmente para quem não tem muito contato com a filosofia. O entendimento de um texto filosófico demanda uma <b>contextualização histórica</b> da obra, algum conhecimento sobre a <b>vida do autor</b>, bem como uma noção sobre os pensadores e perspectivas com as quais o autor dialoga. Não se trata de apenas pegar um livro e ler, pois as obras de filosofia demandam disposições específicas para seu melhor entendimento.</p><p style="text-align: justify;">Os textos filosóficos costumam ter um tom <b>argumentativo</b> e <b>crítico</b>, não se dirigem a um público qualquer, mas a outros filósofos, expressando as perspectivas do autor sobre temas que este se propôs abordar. Há diversos estilos de textos filosóficos, como <b>diálogos</b>, <b>tratados</b>, <b>ensaios</b>, <b>aforismos</b>, <b>confissões</b> e <b>cartas</b>, em cada um deles o autor explora suas ideias de maneira diferenciada. A leitura desses textos deve ser analítica, reflexiva, interpretativa e crítica.</p><p></p><blockquote>"Ler textos de filosofia (...) vai nos fazer sentir a necessidade de um convívio mais amplo com a tradição cultural dessa matéria. Seja porque precisamos continuamente consultar as fontes, seja porque precisamos dialogar com os filósofos clássicos e contemporâneos. Por sinal, acontece um relacionamento dialético entre a leitura de textos específicos e o intercâmbio com a tradição filosófica."<br />(Antônio Severino, em 'Como ler um texto de filosofia')</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;">Severino (2009) recomenda uma </span><b style="text-align: left;">primeira leitura panorâmica</b><span style="text-align: left;">, visando tomar um contato inicial com o texto, para depois se aprofundar numa leitura mais aprofundada. Nesta primeira leitura, sugere-se identificar os temas e questões que serão esclarecidos numa leitura mais demorada e compreensiva. Neste primeiro momento, buscamos apreender o pensamento exposto no texto, tomando contato com o que o texto apresenta, do modo como o autor descreve suas ideias, argumentos e perspectivas.</span></p><p style="text-align: justify;">Depois desse processo, passamos para uma <b>análise interpretativa</b> e crítica do texto, dialogando com o autor, refletindo sobre os argumentos por ele abordados, e relacionando com referências externas ao texto. Por fim, há uma <b>problematização do texto</b>, colocando em questão seus argumentos. A leitura de um texto filosófico não é uma mera atividade para adquirir conhecimentos, mas uma prática que exercita o pensamento crítico e possibilita desenvolver perspectivas próprias, confrontando argumentos.</p><p style="text-align: justify;">O intuito dos textos filosóficos não é transmitir informações, mas provocar e estimular reflexões acerca do tema apresentado a partir da perspectiva proposta pelo autor, suscitando a <b>experiência de pensamento</b>, de se debruçar reflexivamente sobre algo. Esses textos são, portanto, objetos de análise e exploração, que possibilitam uma jornada de pensamento e reflexões acerca de um tema, a partir de um prisma específico.</p><p style="text-align: justify;">Entender os textos filosóficos apenas por meio do próprio texto é insuficiente para a sua compreensão. É preciso analisar seu <b>contexto</b>, ter algum conhecimento sobre o autor e os pensamentos com os quais ele dialoga ou confronta. A mediação de um professor ou de uma pessoa que já tenha contato prévio com o texto e o autor pode auxiliar no entendimento dos textos filosóficos, facilitando sua compreensão. Apesar disso, a atividade de leitura é também um processo individual que exige prática.</p><p style="text-align: justify;">Uma compreensão da <b>história da filosofia</b> é crucial para interpretar esses textos, considerando o contexto social, político e cultural no qual o texto foi escrito. Para compreender a obra de um filósofo, é fundamental apreender seu contexto e os entendimentos de sua época. A relação direta com os textos filosóficos possibilita um alicerce robusto para a formação do pensamento, por meio da análise de ideias divergentes, exercitando a prática do filosofar.</p><p style="text-align: justify;">A leitura dos textos filosóficos é fundamental para aquele que se interessa por <b>pensar filosoficamente</b> e desenvolver um entendimento crítico, não apenas para conhecer e repetir o que um autor escreve, mas para pensar profundamente e criticamente suas reflexões. O texto permite um confronto com o argumento proposto pelo autor, e a prática da filosofia requer, acima de tudo, uma imersão nos textos que demandam habilidades de leitura, interpretação e análise.</p><p style="text-align: justify;"><br />Por <a href="https://www.ex-isto.com/p/bruno-carrasco.html" target="_blank">Bruno Carrasco</a>, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.</p><p style="text-align: justify;">Referências:<br />CUNHA, José. <u>Iniciação à investigação filosófica</u>: um convite ao filosofar. Campinas: Alínea, 2009.<br />SEVERINO, Joaquim. <u>Como ler um texto de filosofia</u>. São Paulo: Paulus, 2009.</p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-89320403929399994522023-08-26T15:23:00.023-03:002023-10-16T15:30:42.255-03:00Revolução na Psicologia - Ian Parker<p style="text-align: justify;">No livro '<b>Revolução na Psicologia</b>', o psicólogo britânico Ian Parker tece várias <a href="https://www.ex-isto.com/search/label/Psicologia%20Cr%C3%ADtica" target="_blank">críticas à psicologia</a> e psicopatologia hegemônicas, entendendo que estas disciplinas andam de mãos dadas com o capitalismo e que alienam as pessoas. O autor questiona o reducionismo biológico, a medicalização excessiva, a normalização e a patologização das diferenças, a descontextualização social da pessoa avaliada com transtorno, o modelo normativo de diagnóstico e o tratamento dos transtornos mentais.</p><p style="text-align: justify;">A <a href="https://www.ex-isto.com/search/label/Psicologia" target="_blank">Psicologia</a> enquanto ciência e profissão não é neutra, mas atua a serviço de uma ideologia dominante, tomando partido na produção de saberes e em sua atuação prática. Porém, essa questão não parece clara para a maioria dos estudantes e profissionais da área, impactando diretamente nas pessoas que buscam por serviços de psicoterapia, que são classificadas e separadas entre saudáveis e doentios, de acordo com suas disponibilidades ao trabalho ou à vida social. Parker propõe uma ciência que favoreça a emancipação de todos.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_xJuJ9nuuwiWi_N1nJlaB92i7HOBVUJYbPkEFUKVf85PcB3XquwYjtij47G8ga4ZM_Rdk4moa---puMD3nZE4jdngOfa_L4N0888uChhsZaeXkISovTuJB9saWQqoVwY4HHWRQqgrxqT9BJd7u5UN50LXhfidFCNvnp7RV8ND51KRjBM6SxZC-tzAx0M/s500/revolucao-na-psicologia-ian-parker.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="333" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_xJuJ9nuuwiWi_N1nJlaB92i7HOBVUJYbPkEFUKVf85PcB3XquwYjtij47G8ga4ZM_Rdk4moa---puMD3nZE4jdngOfa_L4N0888uChhsZaeXkISovTuJB9saWQqoVwY4HHWRQqgrxqT9BJd7u5UN50LXhfidFCNvnp7RV8ND51KRjBM6SxZC-tzAx0M/w266-h400/revolucao-na-psicologia-ian-parker.jpg" width="266" /></a></div><p style="text-align: justify;"><u>Trechos do livro:</u></p><p style="text-align: justify;">Este livro é sobre a Psicologia, sobre a forma como a disciplina psicologia "traiu" sua promessa de compreender e ajudar as pessoas e o que nós precisamos fazer para que os psicólogos trabalhem pela mudança social, em vez de contra ela. A disciplina da psicologia, enquanto um campo de estudo acadêmico e prática profissional, busca descobrir como nós nos comportamos, pensamos e sentimos, mas o conhecimento e a tecnologia que os psicólogos produzem servem para adaptar as pessoas à sociedade. Por ser a sociedade atual organizada em torno da exploração e da subordinação, até mesmo o psicólogo mais bem intencionado contribui para a alienação, para a separação de nós mesmos dos outros ou de nossas próprias habilidades criativas.</p><p style="text-align: justify;">A psicologia é um componente cada vez mais perigoso da ideologia, das ideias dominantes que endossam a exploração e que sabotam as lutas contra a opressão.</p><p style="text-align: justify;">A psicologia também se estruturou no modo como aprendemos a pensar sobre nós mesmos, enquanto indivíduos e, assim, ela também adentra na forma como as pessoas pensam sobre si mesmas enquanto agentes políticos. Isso impacta a maneira como nós interpretamos e como nós tentamos mudar o mundo.</p><p style="text-align: justify;">Uma trajetória individual pela escola é vivida como algo "psicológico"; cada criança é levada a viver seu fracasso como algo do qual ela é alienada; como se existisse alguma coisa profunda dentro dela mesma que nunca poderá realmente compreender ou evitar.</p><p style="text-align: justify;">Na sociedade capitalista, impulsionada pelo lucro e pelo imperativo de consumir, há uma premiação para a "psicologia positiva", para que a felicidade venha a ser vista como o estado normal.</p><p style="text-align: justify;">A psicologia como disciplina, chegou para desempenhar uma função muito específica no capitalismo. Já as teorias acadêmicas e as práticas profissionais, englobadas pela psicologia em escolas, empresas, hospitais e prisões, andam de mãos dadas com o poder.</p><p style="text-align: justify;">A "psicologização" da vida cotidiana no capitalismo não é uma opção complementar, nem é um simples dispositivo usado pelos que estão no poder para nos dividir e nos dominar; a psicologização é essencial e necessária ao capitalismo.</p><p style="text-align: justify;">Esta sociedade capitalista é exploradora e alienante e, certamente, intensifica a experiência individual, mas também constitui esta experiência individual como algo "psicológico", como algo que opera como se estivesse dentro de cada pessoa. Seja visto como um processo mental ou emocional, ele opera como algo que, simultaneamente, é uma propriedade particular do indivíduo e como algo que não pode ser completamente compreendido por ele. A alienação não é a mera separação de nós mesmos de outros, mas é um tipo de separação de nós mesmos em que experienciamos nós mesmos como habitados e impulsionados por forças que nos são misteriosas.</p><p style="text-align: justify;">Tal imagem de forças profundamente enterradas em nosso interior, borbulhando, prestes a eclodir quando a tampa sair é exatamente o que o processo de psicologização encoraja, é parte do lado mais perigoso e reacionário da psicologia enquanto ideologia.</p><p style="text-align: justify;">É preciso confrontar a psicologia em dois níveis: quando ela é explicitamente utilizada pelos chamados especialistas na vida dos outros e quando ela é implicitamente resgatada para fabricar argumentos políticos e reduzir as possibilidades de mudança radical.</p><p style="text-align: justify;">O nascimento bastante recente da psicologia se deu por volta do fim do século XIX e mudanças espetaculares estavam ocorrendo na sociedade europeia que tornaram possível e necessário o estudo da "psicologia" individual. Mudanças nas relações de propriedade, na família e no estado engendraram os serviços de uma nova disciplina que estudaria e manteria a ordem social no nível individual. Isto foi tão bem-sucedido que, hoje, muitas pessoas tomam como algo dado a concepção de que esta disciplina é aquela que revela os segredos do eu (<i>self</i>).</p><p style="text-align: justify;">A polícia pode ser capaz de lidar com a agitação política deliberada que ameaça a produção, mas para casos em que a irracionalidade individual pode transbordar em descontentamento coletivo é necessário um novo corpo de profissionais: é aí que entram em cena os psicólogos.</p><p style="text-align: justify;">A Psicologia como disciplina buscou conhecimento, mas isto foi associado ao poder.</p><p style="text-align: justify;">Um dos textos fundamentais para a nova disciplina, <i>A história da Psicologia Experimental</i>, escrito em 1929, pelo devidamente nomeado E. G. Boring, foi um documento programático. Este foi um manifesto para a disciplina que seria baseada em experimentos laboratoriais conduzidos por um pesquisador científico observando e mensurando o comportamento de "sujeitos" individuais.</p><p style="text-align: justify;">Existiam duas pressões sobre os psicólogos no início do século XX: primeiro eles tinham que mostrar que seu conhecimento poderia ser reivindicado enquanto fundamentado em evidências, ao invés de vã especulação - a psicologia teria que romper com a filosofia para encontrar este terreno novo e mais seguro - e; em segundo lugar, algo associado com o tipo de "evidência" que as autoridades tinham em mente, eles deveriam apresentar um tipo de conhecimento que conseguiria predizer o comportamento.</p><p style="text-align: justify;">Idealmente, a predição e o controle do comportamento deveriam operar desde o berço até o cemitério.</p><p style="text-align: justify;">A formação em psicologia produz abordagens específicas ao "normal" e "anormal".</p><p style="text-align: justify;">Um psicólogo que supõe que qualquer coisa sobre a experiência ou atividade de uma pessoa se ajusta a uma "distribuição normal" já está trabalhando no campo da ideologia e basta um pequeno escorregão para definir pressupostos limitantes sobre os seres humanos.</p><p style="text-align: justify;">Estudos sobre tomada de decisão e formação de identidade ainda são a base principal da psicologia cognitiva e da psicologia do desenvolvimento. Estes estudos se ajustam muito bem com a busca por compreender as pessoas de tal forma que aqueles no poder podem ter certeza de que eles sabem o que seus sujeitos farão em seguida. Aqueles que não se ajustam aos modelos normativos sobre como um ser humano deve se desenvolver e pensar recebem atenção especial e, se eles não têm muita sorte, 'tratamento".</p><p style="text-align: justify;">A psicologia permaneceu completamente fiel à sua história inicial, ao que há de pior nesta história. Ela se fundamenta na ideia sobre distribuições normais e outras distribuições de "obliquidade" que são mensuradas a partir daquilo que eles pensam que o mundo deveria ser. (...) A psicologia busca preparar as pessoas para levarem vidas produtivas dentro dos limites dos atuais sistemas político-econômicos, que são baseados na competição e no lucro.</p><p style="text-align: justify;">Psicólogos não são o que pensam que são.</p><p style="text-align: justify;">A maior parte dos psicólogos não está conscientemente engajada com a sobrevivência do capitalismo, mas a sua incapacidade de refletir sobre o que realmente está fazendo é tão grande quanto os fracassos cognitivos que espera encontrar naqueles que não são psicólogos. Eles não desempenham o papel grandioso que, algumas vezes, imaginam que deveriam desempenhar.</p><p style="text-align: justify;">A psicologia não é somente sobre indivíduos, mas também é uma forma de teorizar e de administrar relações sociais. Ela realiza isto mirando o indivíduo e quebrando-o em componentes mensuráveis. O principal problema não é que isto não funciona. O principal problema é que isto funciona tão bem porque confirma algumas das práticas mais desumanizantes que muitas pessoas entendem como dadas, práticas que são parte necessária da fábrica da sociedade capitalista.</p><p style="text-align: justify;"><br />Fonte:<br />PARKER, Ian. <u>Revolução na psicologia</u>: da alienação à emancipação. Campinas, SP: Alínea, 2014.</p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-47007112445715744542023-08-16T20:31:00.000-03:002024-02-07T21:03:25.308-03:00Como funciona o Fanatismo?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmeScI2GAVtCk643F0I2C1u9Yf8yQ5Itr2RiMuEfceW6p6dJadWc4KB2iQeW0jNN3ZGtFOWggc5XXdvOnX_kWEhBFfmcCVbBr6IIrFvjlKTdT3NyMhqkPiZP9ZSMzOlfriyoWm1SoEnB9PtQm802ov-f7R5OgDgyy0jDvsXSO9d6jU19aHIX6bmyVTMaw/s1800/fanatismo.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="896" data-original-width="1800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmeScI2GAVtCk643F0I2C1u9Yf8yQ5Itr2RiMuEfceW6p6dJadWc4KB2iQeW0jNN3ZGtFOWggc5XXdvOnX_kWEhBFfmcCVbBr6IIrFvjlKTdT3NyMhqkPiZP9ZSMzOlfriyoWm1SoEnB9PtQm802ov-f7R5OgDgyy0jDvsXSO9d6jU19aHIX6bmyVTMaw/s16000/fanatismo.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;"><b>Fanatismo</b> é a uma devoção excessiva e uma disposição irracional por uma causa, ideia, pessoa, grupo ou ideologia, muitas vezes acompanhado de uma intolerância extrema com relação às pessoas que pensam diferente. Esse fenômeno social e psíquico se manifesta na religião, na política, nos esportes, entre outros.</p><p style="text-align: justify;">De modo geral, os fanáticos tendem a se dedicar de maneira inabalável à sua causa, sem colocar em questão as suas crenças, ignorando quaisquer evidências contrárias, rejeitando outras perspectivas distintas. Esse comportamento pode levar a atitudes extremistas de intolerância, até mesmo ações prejudiciais em nome da causa que estão apoiando.</p><p style="text-align: justify;">As <b>pessoas fanáticas</b> são mais propensas a gerar conflitos violentos, por conta de sua falta de empatia, respeito e compreensão pelas opiniões divergentes das suas. O fanático se fecha numa ideia, tomando esta como a verdade única, muitas vezes tentando conduzir outras pessoas para sua causa, quando não consegue acaba por eliminar o outro, por se sentir ameaçado por tudo que abala suas crenças.</p><p style="text-align: justify;">Entre as <b>características do fanatismo</b> estão a dedicação excessiva a uma causa, ideia, líder ou ideologia; a intolerância, falta de aceitação e respeito pelas opiniões, crenças e perspectivas diferentes das suas; hostilidade com relação a quem não compartilha de suas convicções; inflexibilidade, por considerar suas próprias crenças inquestionáveis e inabaláveis, recusando quaisquer evidências contrárias.</p><p style="text-align: justify;">O fanatismo pode levar a um <b>comportamento irracional</b>, ações impulsivas e até mesmo violentas para defender suas causas, pode gerar também um isolamento social. Em muitos casos o fanatismo carrega uma noção de "nós" contra "eles", tendendo a enxergar o mundo de maneira polarizada, dividindo as pessoas dois grandes grupos: aqueles que compartilham suas crenças e aqueles que não compartilham.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"O fanático transforma a percepção e o conhecimento da realidade para adaptá-la a suas necessidades e desejos conscientes e inconscientes. Ele tem certeza absoluta de que possui a Verdade, que é única. Fatos que não coincidem com ela são negados ou transformados de forma a confirmarem a organização fanática."<br />(Roosevelt Cassorla, em 'Fanatismo e negacionismo')</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">Muitos dos indivíduos que se identificam fortemente com uma causa, ideologia, grupo ou líder podem buscar esse envolvimento por <b>necessidades emocionais</b>. Tal identificação oferece um senso de pertencimento e propósito, uma sensação de identidade e um direcionamento para suas vidas. Algumas pessoas sentem necessidade de certezas absolutas, e o fanatismo pode oferecer explicações simples e pouco refletidas para questões complexas e incertas, gerando uma sensação de controle e estabilidade.</p><p style="text-align: justify;">Por vezes, o medo de ser excluído ou de se sentir diferente de um grupo pode levar uma pessoa a se aproximar do pelo fanatismo, buscando evitar sua rejeição. Fazer parte de um grupo fanático pode proporcionar interações sociais satisfatórias, que reforçam os comportamentos e as crenças do indivíduo, fazendo com que se sinta mais conectado ao grupo, na medida que reforça seu pertencimento.</p><p style="text-align: justify;">Muitos <b>líderes carismáticos</b> se aproveitam dessas características psicológicas das pessoas, exercendo uma influência significativa sobre seus seguidores, utilizando técnicas de persuasão, de carisma e manipulação emocional para reforçar o comportamento fanático. Além disso, criam uma narrativa que identifica os inimigos comuns para fortalecer a coesão do grupo e consolidar as crenças compartilhadas.</p><p style="text-align: justify;">As pessoas que se engajam em movimentos fanáticos costumam obter recompensas psicológicas e emocionais, como gratificação, senso de realização e aumento da autoestima, o que pode reforçar o comportamento fanático. O fanatismo também pode ser atraente para as pessoas que buscam explicações simples e nada críticas perante a complexidade e o absurdo do mundo e das relações.</p><p style="text-align: justify;">O fanatismo pode ser muito prejudicial tanto para os fanáticos quanto para a sociedade em geral, pois gera intolerância, hostilidade e discriminação a pessoas com crenças diferentes, criando divisões e conflitos entre grupos; dificulta o diálogo construtivo e a resolução pacífica de conflitos, por conta da rigidez e da falta de abertura para diferentes pontos de vista. Em alguns casos, o fanatismo pode levar a violações dos direitos humanos, quando fanáticos impõem suas crenças de maneira coercitiva, discriminatória ou violenta sobre outros.</p><p style="text-align: justify;">As pessoas envolvidas numa causa ou ideologia com características fanáticas tendem a alimentar preconceitos contra aqueles que não compartilham de suas crenças, incluindo discriminação racial, religiosa, de gênero ou orientação sexual. Há circunstâncias em que o fanatismo pode levar à rejeição da evidência científica, prejudicando a compreensão e aceitação de descobertas importantes para a sociedade.</p><p style="text-align: justify;">Essa devoção excessiva a uma causa pode levar também à perda da individualidade, pois os indivíduos acabam configurando suas identidades com base nas crenças do grupo, resultando numa conformidade cega a seus valores e preceitos, renunciando seus valores pessoais. O fanatismo dificulta a coexistência pacífica com a diversidade, pois os extremos ideológicos desconsideram os princípios de respeito mútuo.</p><p style="text-align: justify;">Enfim, o fanatismo é um fenômeno complexo que envolve questões sociais, psicológicas, emocionais e culturais. Pode se apresentar de maneira mais intensa em uma pessoa ou grupo, ou mesmo diante de um momento específico. Sua dinâmica pode variar dependendo do contexto, mas é importante lembrar que nem todas as pessoas envolvidas em causas fervorosas se incluem nas características mencionadas.</p><div><span style="text-align: justify;">Compreender o fanatismo é crucial para lidar com suas consequências e promover um diálogo mais construtivo e aberto, que possibilite a tolerância e a compreensão. Promover o diálogo sem julgamentos, a reflexão, a empatia e o pensamento crítico podem ajudar a diminuir os efeitos negativos do fanatismo.</span></div><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Por <a href="https://www.ex-isto.com/p/bruno-carrasco.html" target="_blank">Bruno Carrasco</a>, terapeuta e professor, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia, psicoterapia fenomenológico-existencial e aconselhamento filosófico.</p><p style="text-align: justify;">Referências:<br />CASSORLA, Roosevelt. Fanatismo e negacionismo. ALTER – Revista de Estudos Psicanalíticos, v. 37(1), 113-128, 2021/2022.<br />DANZMANN, P. S.; SILVA, A. C. P. da; CARLESSO, J. P. P. As implicações do fanatismo em diferentes contextos na atualidade: contribuições da Psicanálise. Society and Development, 9(6), 2020.</p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
<a href="http://www.ex-isto.com/">www.ex-isto.com</a></div>Bruno Carrascohttp://www.blogger.com/profile/14110283791690838711noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-7858354887113821251.post-2245009372930897452023-08-13T11:39:00.015-03:002023-08-27T18:39:31.784-03:00O que é Antropologia Filosófica?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2xB6avu-eS6D0eQWU-tOm24QdusKtDVcpE2UK3GvQi8nlbjB5Jic8NhAY7sg4S5vUKgVhB8HyRh-atPDvssZKWEWZVWUQJFKjviMR41lqEXBOjNfCQQSQcXNVtksjNZgeHZJJmy_y-zmUtCyxVJ3x2yEkr1ciylYAeL-vCyzooNbzNKLhse3liyzsylI/s1000/antropologia-filosofica.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="571" data-original-width="1000" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2xB6avu-eS6D0eQWU-tOm24QdusKtDVcpE2UK3GvQi8nlbjB5Jic8NhAY7sg4S5vUKgVhB8HyRh-atPDvssZKWEWZVWUQJFKjviMR41lqEXBOjNfCQQSQcXNVtksjNZgeHZJJmy_y-zmUtCyxVJ3x2yEkr1ciylYAeL-vCyzooNbzNKLhse3liyzsylI/s16000/antropologia-filosofica.jpg" /></a></div><p style="text-align: justify;"><b>Antropologia</b> é um campo de conhecimento que estuda as diversas formas pelas quais o ser humano pode ser entendido. O termo se originou de dois radicais gregos, <i>antropos</i> e <i>logos</i>, o primeiro significa "ser humano", e o segundo tem o sentido de um "estudo" ou "teoria" sobre algo. O tema de estudo da antropologia é o ser humano, em suas dimensões biológicas e culturais.</p><p style="text-align: justify;">A <b>antropologia física</b> busca entender o ser humano a partir da perspectiva das ciências naturais, em suas características físicas e sua adaptação ao meio. A <b>antropologia cultural</b> entende o ser humano como um ser inserido num contexto cultural específico, com valores, saberes, crenças e práticas específicas, analisando como estrutura suas relações e valores, e como influenciam seus comportamentos.</p><p style="text-align: justify;">Diferente das perspectivas anteriores, a <b>antropologia filosófica</b> pretende entender o que é o ser humano a partir de análises filosóficas. Cada filósofo e corrente filosófica elabora um entendimento específico sobre o ser humano, como este se comporta, pensa, vive, se transforma, sofre e se alegra. Examina questões como: O que é o ser humano? O que o difere dos outros seres? Qual o sentido da vida?</p><p style="text-align: justify;">A antropologia filosófica busca <b>compreender o ser humano</b> por meio de uma análise racional e argumentativa. Sua questão principal é a definição e o entendimento do que é e de como é o ser humano, levando em consideração os saberes da tradição filosófica e as perspectivas das ciências humanas. Trata-se de pensar filosoficamente a existência do ser humano, sua natureza ou condição.</p><p style="text-align: justify;"></p><blockquote>"Existem coisas que, pela sua sutileza e infinita variedade, desafiam todas as tentativas de análise lógica. E se há alguma coisa no mundo que precisamos tratar desta segunda maneira, é o espírito do homem. O que caracteriza o homem é a riqueza e a sutileza, a variedade e a versatilidade de sua natureza. Por isto mesmo, a matemática nunca poderá vir a ser o instrumento de uma verdadeira doutrina do homem, de uma antropologia filosófica."<br />(Ernst Cassirer, em 'Antropologia Filosófica')</blockquote><p></p><p style="text-align: justify;">A preocupação com o entendimento do ser humano faz parte da filosofia desde seu início. Na Antiguidade, <b>Sócrates</b> entendia o corpo como um instrumento da alma, sendo a razão a sede de nossa atividade pensante e operante, possibilitando o conhecimento do mundo e sobre si.</p><p style="text-align: justify;"><b>Platão</b> estabeleceu uma dicotomia entre corpo e alma, ele concebia que o corpo era a prisão da alma, dividida em três partes: a alma que se altera com as excitações, a alma responsável pela alimentação e o sexo, e a alma racional do pensamento puro.</p><p style="text-align: justify;"><b>Aristóteles</b> destacava a importância dos sentidos para a constituição da memória e da experiência. Segundo ele, o homem tem a capacidade de pensar e é um ser político, civilizado. Para ser ético precisa dominar o corpo por meio da alma, necessitando desenvolver virtudes como a coragem, a temperança, a veracidade, a generosidade, a justiça, a amizade e a honestidade.</p><p style="text-align: justify;">Durante a Idade Média, Santo Agostinho e Tomás de Aquino entendiam que o homem possui livre-arbítrio para distinguir entre o bem e o mal. <b>Santo Agostinho</b> concebia o homem como a imagem e semelhança de Deus, sendo um ser que busca a transcendência, visando viver bem em comunidade.</p><p style="text-align: justify;">Na Modernidade, o antropocentrismo substituiu o teocentrismo. O racionalismo de <b>René Descartes</b> entendia que corpo e alma eram substâncias distintas, sendo o corpo uma máquina engenhosa e autômata, e a alma sua essência racional, ligada ao corpo pela glândula pineal. Durante os séculos XVI e XVII, alguns filósofos tentaram entender a natureza humana em sua dimensão social, como Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau, que ficaram conhecidos como os pensadores do contrato social.</p><p style="text-align: justify;">Segundo <b>Hobbes</b>, o homem é naturalmente cruel ("o homem é o lobo do homem") e precisa do Estado para coagi-lo e civilizá-lo, de modo a torná-lo apto para viver com outros homens. <b>Rousseau</b> entendia que o homem era naturalmente bom, e a sociedade o corrompia, tornando ele perverso. <b>John Locke</b> entendia que o homem não era naturalmente bom nem mau, mas uma folha em branco que será moldada por suas vivências e experiências.</p><p style="text-align: justify;">No século XIX, <b>Friedrich Nietzsche</b> criticou a tradição do pensamento ocidental, desde os gregos clássicos até a filosofia moderna, criticando a supremacia da razão, a busca da verdade e as crenças absolutas. Ele propõe o além-do-homem, sendo aquele que destrói os valores tradicionais decadentes para construir novos valores, que atuam em favor da vida e dos impulsos.</p><p style="text-align: justify;"><b>Michel Foucault</b>, no século XX, foi profundamente crítico com relação à ideia de natureza humana. Segundo ele, o que entendemos como "natural" com relação aos seres humanos não passa de um discurso utilizado como uma ferramenta de controle dos modos de vida, estabelecendo a noção de "normal", como um modelo de vida a ser seguido por todos.<br /><br /></p><p style="text-align: justify;">Por <a href="https://www.ex-isto.com/p/bruno-carrasco.html" target="_blank">Bruno Carrasco</a>, terapeuta, professor e pesquisador, graduado em Psicologia, licenciado em Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia, Psicoterapia Fenomenológico Existencial e Aconselhamento Filosófico. Nos últimos anos se dedica a pesquisar sobre filosofia da diferença e psicologia crítica.</p><p style="text-align: justify;">Referências:<br />CASSIRER, Ernst. <u>Antropologia Filosófica</u>: ensaio sobre o homem. São Paulo: Mestre Jou, 1977.<br />OLIVEIRA, R. C. de. <u>Antropologia Filosófica</u>. Curitiba: InterSaberes, 2012.</p><div class="blogger-post-footer">Veja mais em:
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