Sentido da vida, segundo o existencialismo


O sentido da vida é tudo aquilo que nos move, que nos motiva e que constitui significado para a nossa existência, seja um trabalho, um relacionamento, uma crença religiosa, uma causa política, um filho, a relação com os pais ou amigos, uma escolha estética, tocar um instrumento musical, pintar, dançar, ou qualquer outra atividade que nos envolvemos com interesse e que nos identificamos.

Pode ser algo que dure pouco tempo ou algo que nos acompanhe grande parte de nossa existência, mas está relacionado com o que nos faz sentir realizados e coerentes com a nossa existência. Há pessoas que associam o sentido da vida a um trabalho, por este ocupar grande parte do tempo de nossa vida, porém não é só ele que nos oferece significados, valores e orientação, e por vezes não é este que nos identificamos, há muitas outras atividades que podem compor o sentido de nossa existência.

Na concepção existencialista, a vida não tem um sentido dado, e o sentido da vida não é algo que devemos nos encaixar, como um ajuste a um modo de vida específico, seja um trabalho, uma moral, uma convenção familiar, uma crença religiosa, etc. O sentido da vida é algo a ser acolhido, segundo alguns autores existencialistas, para outros, é algo que deve ser escolhido, e outros entendem que o sentido da vida é algo a ser criado.

"Cada homem deve inventar o seu caminho."
(Jean-Paul Sartre)

Em nossa vida, muitas vezes focamos em diversas atividades que nos atribuem sentido, onde muitas elas compõem o significado de nossa existência e orientam nossos modos de ser, porém algumas podem adquirir maior importância ou destaque que outras. Por exemplo, podemos nos envolver num trabalho e também participar de uma crença religiosa, onde ambas assumem a mesma importância. Podemos também nos envolver num trabalho, num relacionamento e numa causa política, porém o relacionamento pode assumir maior destaque que as outras atividades.

Cada atividade que experimentamos envolve sentimentos, desejos, identificações, expectativas e valores. São essas atividades que dão a "cor", o "tom" e o "tempero" ao nosso modo de viver, sustentando a nossa existência num plexo de significados e valores experimentados e compartilhados com outras pessoas.

Quando a pessoa não encontra atividades que façam sentido para si, experimenta um vazio existencial, onde mesmo se dedicando a diversas coisas, não se encontra em nenhuma delas. Quando uma pessoa perde ou deixa de lado uma das atividades que lhe atribuía sentido, seja com a saída de um trabalho, o rompimento de um relacionamento, ou um filho que sai de casa, surge também a sensação do vazio, da falta de algo que estava sendo preenchido e que não existe mais. É como perder uma parte de si mesmo.

Esse momento pode ser muito sofrido, tenso e difícil de lidar, nos deixando extremamente tristes, angustiados, ansiosos e desesperados. Esses sentimentos podem surgir justamente como uma reação diante da perda, ou ausência, de atividades que nos identificamos, que nos envolvemos e nos sentimos realizados, que atribuem referências e significados para a nossa existência.

Quando isso acontece, é tempo de parar e rever a nossa própria vida, refletir sobre sobre o que temos feito dela, rever as nossas escolhas, reavaliar as nossas experiências e buscar encontrar ou criar novos sentidos e significados. Para isso, é preciso entender que a vida muda e que a gente muda, que as coisas passam e que nós também precisamos seguir, ao invés de nos paralisar.

A falta de sentido nos solicita uma ação, uma escolha. Podemos escolher ou criar novos caminhos, para os quais vamos nos dedicar pelos próximos dias, meses ou anos de nossa vida. Não há caminhos certos ou errados, mas diferentes possibilidades que podemos escolher e nos engajar. O projeto existencial corresponde justamente às atividades das quais escolho me dedicar, sempre com o risco de não se efetivarem como esperamos, mas com a possibilidade de abrir para novas escolhas.

"Viver é isso: ficar se equilibrando o tempo todo, entre escolhas e consequências."
(Jean-Paul Sartre)

Quando algo que antes nos fazia sentido já não nos faz mais, é o tempo de mudança. A falta de sentido nos solicita uma ação, e nesse momento recorremos a nossa existência, num sentido mais profundo e íntimo, afim de buscar aquilo que nos faz sentir autênticos, que se afine com o modo como nos sentimos e desejamos, para então fazer novas escolhas.

Não há uma cartilha de como lidar com uma angústia, ansiedade ou sobre como fazer escolhas na vida, isso depende das buscas, dos desejos e dos horizontes de cada pessoa. Fazer escolhas é sempre um risco, uma ação exclusiva da pessoa que escolhe, que decide agir perante a sua própria vida, criando ou encontrando novos modos de ser, para lidar com as novas situações que vivencia.

Para ir de encontro com o que nos identifica, precisamos deixar de lado algumas velhas escolhas, que não nos servem mais, buscando perceber o modo como desejamos ser no momento presente. Diante das novas situações surgem novas buscas, interesses e necessidades., mas também novos conflitos e paradoxos A nossa existência está sempre a nosso cargo e em construção. Essa mutabilidade representa o ser, que experimenta a vida e se transforma na relação consigo mesmo e com os outros.

"O passado é uma roupa que não nos serve mais."
(Belchior)