A clínica psicológica e o exercício da liberdade


Este livro é fruto de uma pesquisa sobre o conceito de liberdade na prática da psicologia clínica, buscando uma compreensão mais abrangente sobre o exercício da liberdade e sua relação com a psicologia. Além disso, o trabalho mostra como a prática da liberdade realiza a inserção da pessoa no mundo, e como isso pode ser importante para a clínica psicológica ao lidar com situações de aprisionamento psicológico.

O autor descreve o exercício da liberdade num viés existencialista. Segue abaixo alguns fragmentos do livro "A Clínica Psicológica e o Exercício da Liberdade", escrito por Oslem Klesiano Lima Gomes:


Segundo Rollo May "A liberdade é a capacidade do homem de assumir seu próprio desenvolvimento. É nossa capacidade de moldar a nós mesmos'' (MAY, R.,1993).

A liberdade está ligada ao ato de escolher.

A angústia não tem um objeto definido, é algo vago, indeterminado. Outra característica que a angústia tem é de não ser passageira, ela fará parte da vida do homem enquanto ele viver. Portanto, não há outra possibilidade a não ser enfrentá-la, experimentá-la, fugir não é de forma alguma a solução. E neste sentido Kierkegaard não direciona uma saída, mas fazer com que o ser humano aprenda com a angústia. O dinamarquês enfatiza a centralidade da angústia com o intuito de dizer que ela é uma categoria fundamental para que o homem adquira sua liberdade.

O homem livre está sempre vivenciando momentos de decisões e de fazer escolhas, arriscando-se constantemente, lançando-se no desconhecido, na insegurança, não pode existir um projeto básico para a existência do homem, se não limitaríamos a liberdade. Essa liberdade gera medo, gera angústia. Somente como sujeito livre o homem pode se relacionar com angústia. A liberdade acarreta a angústia no ser humano e pode levá-lo ao desespero, pois cada decisão é um risco que causa incerteza, a pessoa é pressionada todo tempo. É a angústia que constitui o possível da liberdade, nela é que surge para o homem a possibilidade de constituir-se, de realizar-se e de forma singular se tornar conhecedor de suas ilusões.

Quando o homem tem esse encontro com a angústia, ele é capaz de não ser mais teleguiado pelo mundo que o cerca, ele consegue se tornar autêntico, original na sua existência. É através da liberdade que o homem consegue realizar uma relação com o mundo hoje, no presente, e também, construir o seu ser.

O homem faz do mundo o projeto do seu agir, ou seja, transcende, o homem sai do estado de inautenticidade, e vai para o estado de existência autêntica, esse processo Heidegger chama ato de liberdade, ou liberdade. Ele não mais é espectador do mundo, mas agora ele se relaciona com o mundo em sua volta.

Sartre conceitua a liberdade como uma condição em que o homem não pode escapar de ser livre, ele está condenado a ser livre, e a partir dessa condição o homem dá inicio a sua formação. São os valores que o homem adquire que orientam suas escolhas, e através dessas escolhas revela em nós a responsabilidade. Toda vez que o homem escolhe ele exerce essa responsabilidade pelo ato da escolha, pois ele está condenado a ser livre, ele obrigatoriamente tem que escolher, e Sartre revela que é isso é a condição básica de o homem se torna homem. A ideia é entender que ser livre não acontece de vez em quando, que quando exercitamos a liberdade que somos realmente livres, a liberdade para Sartre não é uma conquista diária, mas sim parte da condição de existência humana.

Escolher é uma atitude angustiante é onde o homem se lança na vida, ele é responsável por tudo o que faz do projeto fundamental, isto é, de sua existência. A tentativa de fuga da liberdade e da angústia se dá quando o homem tenta mascarar essa angústia, quando ele menti, enganando a si próprio, ele começa a rotular a angústia de outros fundamentos do seu ser existente.

O pensamento de Sartre sobre liberdade sempre e voltou a busca da vida autêntica, que é quando o sujeito exerce sua liberdade através de escolhas produzindo possibilidade de ser no mundo, constituindo-se autêntico a partir de si mesmo, assumindo a totalidade das responsabilidades de suas escolhas.

A solidão é um sentimento inerente ao ser humano, todos já passamos por algum momento em que sentimos falta de alguma pessoa, de uma coisa ou até mesmo de um momento. A experiência de solidão faz parte da condição humana, quando estamos vivenciando a solidão precisamos dar um sentido as nossas vidas, decidir como vamos viver a vida. A relação da solidão com a liberdade está exatamente nisso, quando agimos, sozinhos, nas tomadas de decisão da nossa vida.

A consciência de morte é outro conceito que vem a ser discutido de forma ampla no campo existencial, pois é através da morte que as pessoas começam a dar significado a vida. A conscientização da morte proporcionou ao homem maneiras de se relacionar com ela

Nesta perspectiva, a ansiedade surge quando eventualmente temos alguma possibilidade de liberdade. Como essa possibilidade se refere ao futuro, à ansiedade se instala. O futuro reserva possibilidades ainda não realizadas, com isso surge a necessidade de escolha e com esta, a ansiedade. A ansiedade aparece ante a escolha, e desaparece quando escolhemos, volta a surgir quando outras possibilidades surgem, e assim por diante, num movimento contínuo.

A compreensão empática nasce no terapeuta quando ele entra mundo fenomênico do cliente, sem culturas, sem crenças, sem opiniões, deixa seus valores e sentimentos pessoais do lado de fora e ele entra para a sala com o intuito de ser empático, autocongruente e transparente.

Nosso objetivo primário é buscar o aperfeiçoamento e a partir disso criar possibilidades de acolhimento para nossos clientes, quando estamos preparados naturalmente reconhecemos os perigos, angústias, dificuldades e fobias daquele que nos procura.

Essa atitude autêntica em relação a si, acontece de forma gradual no processo terapêutico, ele passa do estado de alguém ofuscado, limitado, desassimilado para agora uma pessoa autocompreenssiva, abarcada e entendida.

A Psicologia Existencial se ocupa a abordar o homem como responsável na construção do seu destino, num processo dinâmico de vir-a-ser sendo capaz de fazer escolhas livres e intencionais, isto é, escolhas das quais resulta o sentido da sua existência, em contraposição a qualquer forma de determinismo.


Fonte:
GOMES, Oslem. A Clínica Psicológica e o Exercício da Liberdade. Rio de Janeiro: KWL, 2017.