Filósofos da singularidade


Os filósofos que reconhecem a singularidade, chamados de filósofos da diferença, criticaram os paradigmas tradicionais, questionaram os discursos totalitários, a ciência positivista, o idealismo, e tudo o que tenta fazer dos seres humanos meras máquinas e autômatos.

Seus questionamentos se direcionam em favor da diversidade e para a pluralidade concepções e possibilidades, sem deixar de reconhecer a singularidade de cada indivíduo. Compreendem a individualidade em co-relação, num mundo em processo e transformação, onde nada é definitivo.

Soren Kierkegaard (1813-1855) foi filósofo, teólogo e crítico dinamarquês, foi um dos primeiros a se colocar contra a tradição platônica que divide a realidade entre o mundo das ideias e o mundo perceptível, colocando-se para a compreensão do ser humano em sua existência singular. Foi um pensador muito intenso e profundo, criticando o idealismo de Hegel e a metafísica especulativa, sua obra trata sobre as escolhas de vida de cada um, focando sobre a realidade humana concreta ao invés do pensamento abstrato. Kierkegaard reconhece o desespero humano e descreve o ser humano como "uma síntese de infinito e de finito, de temporal e de eterno, de liberdade e de necessidade".

Friedrich Nietzsche (1844-1900) foi filósofo, filólogo, poeta e crítico, questionou as bases da moralidade ocidental e da tradição filosófica. Para ele essa moral e a tradição tornaram as pessoas em seres fracos e submissos, sem criatividade nem alegria de viver. Sua filosofia é uma afirmação e potencialização da vida, para a criação de novos valores. Além disso, ele também questionou a concepção de "verdade" na filosofia, que buscava algo metafísico e ideal. Para ele não há uma verdade, mas múltiplas e possíveis interpretações de mundo, ele entende a filosofia como uma atividade relacionada com o mundo da vida, e não uma atividade meramente especulativa e abstrata. Sua filosofia tem um tom mais fragmentário e libertário, onde expõe suas ideias de modo mais poético e crítico, do que teórico ou doutrinário. Para ele, a filosofia deve libertar o homem da tradição decadente e possibilitar novas formas pensar e agir perante a vida.

Karl Jaspers (1883-1969) foi filósofo e psiquiatra alemão. Ele compreende a existência humana não como uma mera condição biológica ou generalista, mas compreende que o ser humano toma consciência de si ao vivenciar situações limite. Deste modo, ele passou a investigar os limites das possibilidades humanas. Trabalhando num hospital psiquiátrico ele se decepcionou com o tratamento tradicional oferecido aos pacientes, e resolveu buscar novos métodos para a psiquiatria, estudou Kierkegaard e Nietzsche, e percebeu que o caminho para a compreensão de cada indivíduo era mais subjetivo e singular do que objetivo e generalista. Ele abandonou o método tradicional da psiquiatria pelo método fenomenológico, entendendo as manifestações psicológicas como expressões reveladoras dos modos de ser de cada indivíduo.

Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi filósofo e escritor, um dos principais representantes do existencialismo, que passou a ter como foco o ser humano concreto e não as ideias sobre o ser. Sartre, contraria a tradição filosófica que tomava a essência como fundadora da existência, constatando que primeiramente existimos para depois escolher nossa essência, ou o que nos identificamos. Sua filosofia entende que a existência humana não possui uma essência previamente determinada, mas que cada pessoa existe, surge no mundo, e somente depois se define. Para ele a liberdade é uma condição humana, visto que a todo momento podemos fazer escolhas e mudar o rumo de nossa existência.

Michel Foucault (1926-1984) foi um famoso filósofo francês, considerado um dos mais influentes pensadores franceses da contemporaneidade. Se dedicou a uma profunda análise sobre o surgimento das ciências humanas e de sua importância em nossa cultura, inclusive criticou a noção tradicional de sujeito. Trabalhou no conceito de "episteme", uma rede de significados e discursos que caracterizam uma certa época e sua cultura, questionando profundamente a tradição filosófica e cultural. Foucault considera o poder não como algo meramente repressor, mas também criador de "discursos" e "verdades", influenciando todas as instâncias da vida de cada pessoa. Segundo ele, o poder não está somente identificado com o Estado, mas em várias instâncias da vida social e individual, numa perspectiva que denominou por "microfísíca do poder". Suas principais obras são: “Vigiar e Punir”, “A História da Loucura”, “A História da Sexualidade” e “As Palavras e as coisas”.

Gilles Deleuze (1925-1995), filósofo francês, considerado um dos principais filósofos da atualidade, que interpretou filósofos como Spinoza, Hume, Kant, Nietzsche e Bergson e artistas como Proust, Kafka, Artaud e Bacon. Sua filosofia não obedece a lógica da razão, mas a subversão, desarticulando conceitos básicos da cultura moderna, criticando o conceito de édipo na psicanálise e valorizando o funcionamento do desejo, afim de libertar a história de todas as forças de repressão. Ele propõe a quebra de valores e padrões tradicionais para emergir novos modos de ser, além dos interesses utilitários, da estrutura normativa, da linguagem e da moral. A filosofia para Deleuze é uma atividade de criação de conceitos, que promovem novas realidades, fluxos e forças constituintes do viver.


Por Bruno Carrasco.
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